A Eletrobras informou, nesta quarta-feira (15/10), em “fato relevante”, a venda integral de sua participação na Eletronuclear, gestora das usinas nucleares, para Âmbar Energia, do Grupo J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, pelo valor de R$ 535 milhões. A venda foi assinada na terça-feira (14/10), segundo o comunicado, e refere-se à participação de 68% do capital total e de 35,3% do capital votante da Eletronuclear antes detida pela Eletrobras. A União, que não faz parte da transação, continuará controlando a Eletronuclear por meio da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), que detém 64,7% do capital votante e cerca de 32% do capital total. O negócio está sujeito à aprovação dos órgãos reguladores.
Segundo a Eletrobras, o acordo envolve ainda a assunção pela J&F das garantias de empréstimos prestadas pela Eletrobras e a obrigação de integralização das debêntures para a Eletronuclear previstas no acordo celebrado entre a companhia e a União, no valor de R$ 2,4 bilhões. A Eletronuclear é gestora das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, em funcionamento; e Angra 3, com as obras paradas desde 2015. Com o acordo, a J&F será parceira da União na conclusão de Angra 3, cujas obras começaram em 1984. caso o governo decida terminar a usina, que hoje está com 67% das obras civis concluídas.
Segundo a Eletrobras, a operação permitirá a plena liberação da empresa “das responsabilidades remanescentes com sua coligada, melhorando o perfil de risco e permitindo liberar capital alocável da companhia”. A empresa informa também no fato relevante que a “transação representa um marco importante para a Eletrobras e reforça o compromisso de otimização de seu portfólio”. O presidente da Ambar, Marcelo Zanatta, informou em nota que a aquisição vai diversificar ainda mais o seu portfólio de geração de energia. “A energia nuclear combina estabilidade, previsibilidade e baixas emissões, características fundamentais em um momento de descarbonização e de crescente demanda por eletricidade impulsionada pela inteligência artificial e pela digitalização da economia”.
“EMPRESA PROBLEMA” -
“A Eletronuclear virou uma empresa problema para o país. Não é uma empresa saneada, dinâmica, enxuta, eficiente para cumprir o seu mister. Vamos ter que achar uma solução para a Eletronuclear. Vamos ter que pensar juntos: o parlamento brasileiro e a política pública do Executivo para mudar a questão da Eletronuclear. Para fazer uma obra de R$ 28 bilhões, sem gestão, é extremamente temerário. Então, essa é uma preocupação, até uma angústia do ministro de Minas e Energia do Brasil”.
Por incrível que pareça, a declaração do ministro Alexandre Silveira, em agosto de 2024, durante audiência na comissão de Minas e Energia da Câmara, provocou espanto nos bastidores do setor. O que pretendia o ministro ao deixar clara a sua visão tão pessimista sobre o destino da companhia, comentaram alguns especialistas e técnicos experientes que conhecem bem a história da empresa. Na bolsa de apostas, mesmo indignados, alguns comentaram na época que Silveira podia estar pensando em fatiar a estatal, criada em 1997, para gerir as usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, em operação, e Angra 3, com as obras paralisadas. Não estavam tão equivocados. Hoje, alguns técnicos do setor acham que o fato da venda da Eletrobras é uma alternativa viável, já que a Rússia e a China não estariam mais interessadas em angra 3.
No ano passado, o ministro visitou o canteiro de obras da central nuclear em Angra dos Reis e tem sido árduo defensor do final das obras Angra 3; e até mesmo da instalação de usinas na Amazônia; como também da extensão da vida útil de Angra 1, por mais 20 anos. Quando Silveira coloca “com tristeza” tantas dúvidas sobre a empresa, acaba provocando insegurança no quadro de funcionários, principalmente nos mais antigos e qualificados, segundo especialistas. A dívida da Eletronuclear com o BNDES e a CEF, por conta de Angra 3, girava em torno de R$ 6,4 bilhões. O BNDES realiza novos estudos sobre a situação da viabilidade de Angra 3. Os resultados dos estudos estavam previstos para ocorrer este ano, quando seriam analisados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pelo CNPE.
ANGRA 3: CONSTRUÇÃO COMEÇOU EM 1984 -
Angra 3 faz parte do pacote do acordo nuclear Brasil-Alemanha assinado em 1975, pelo general Ernesto Geisel, então presidente da República, que previa a construção de oito centrais atômicas. As obras começaram em 1984, mas foram paralisadas diversas vezes por problemas variados. O então presidente da República Michel Temes chegou a ser preso por acusações de corrupção, na usina, tendo sido depois absolvido e liberado depois. Conforme dados oficiais, Angra 3 já consumiu cerca de R$ 8 bilhões e depende de outros R$ 20 bilhões para ser concluída. Se entrar em operação poderá gerar o equivalente a 1.340 Megawatts.
ANGRA 2 – ÚNICA DO ACORDO BRASIL- ALEMANHA EM OPERAÇÃO -
Angra 2 é a única usina nuclear do acordo com a Alemanha que opera desde 2001. Mas há registrou diversos problemas técnicos. Em 2022, um desarme automático do conjunto turbogerador, na parte não nuclear da central atômica, devido ao “acionamento da proteção de falha para terra do rotor do gerador principal”, desconectou a usina nuclear do Sistema Interligado Nacional (SIN), ontem à noite. A unidade operava a 100% de potência quando ocorreu o problema. Quando funciona com 100% de sua potência, Angra 2 pode produzir 1.350 Megawatts, o equivalente a 20% da energia elétrica consumida na cidade do Rio de Janeiro. Ao longo dos anos a usina já foi desligada várias vezes. No momento, está funcionando, como Angra 1.
ANGRA 1 – COMPRADA DOS EUA -
Angra 1 já foi desligada dezenas de vezes. Em julho de 2023, por exemplo, foi desconectada do Sistema Interligado Nacional (SIN), “por conta de um desarme do reator ocorrido durante teste de operabilidade das barras de controle”. Popularmente, a usina foi batizada de “Vagalume” pela quantidade de vezes que parou. Quando opera 100% sincronizada ao sistema elétrico, gera 654 Megawatts, o equivalente a 10% da energia elétrica consumida da cidade do Rio de Janeiro, que entra no Sistema Integrado Nacional. Angra 1 foi comprada em 1970 da norte-americana Westinghouse. Depois de uma série de adiamentos, a central nuclear foi inaugurada em 1981. Outros entraves fizeram com que a usina entrasse em operação comercial em 1985. Em 1994, preia-se que Angra 1 poderia durar 24 anos, ou seja, até o ano de 2018. Nos últimos três anos, a usina está sendo preparada para durar mais 20 anos.
FONTE: Acervo Eletronuclear – Colabore com o Blog – sete anos de jornalismo independente – Contribua com um PIX: 21 – 996015849 – Contato: malheiros.tania@gmail.com
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