quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Urânio encontrado em água de poços no Ceará assusta população, entidades civis e governo

 


Uma grande concentração de urânio (material radioativo) podendo chegar a oito vezes acima do normal, foi encontrada na água extraída de poços que abasteciam o distrito de Trapiá, em Santa Quitéria, no Ceará. Trata-se de resultados de testes encomendados pelo Governo do Estado que indicaram os dados, que geraram bastante surpresa. A reportagem assinada por Thiago Rodrigues, foi publicada em primeira mão pelo jornal A VOZ, do Ceará, na segunda-feira (14/10). As informações foram apresentadas na ocasião em uma audiência pública na comunidade, que reuniu a Secretaria de Saúde municipal e estadual, Defesa Civil entre outras instituições. 


Os dados não estão completos; é necessário saber desde quando há essa contaminação, de onde veio, se há ligação com o material da jazida de Itataia (distante 90km em linha reta) e qual potencial danoso. A medição indicou que o grau encontrado em algumas amostras pode chegar de sete a oito vezes acima do parâmetro normal. Como medida de emergência, todos os poços foram interditados. 

O pedido feito pelas autoridades é que a população consuma apenas da adutora, que deve começar a funcionar a partir desta semana ou de outras fontes legalizadas. Até lá, Trapiá segue sendo abastecido com caminhões-pipa de água potável da Companhia local. “Paralelo a isso, um trabalho de investigação mais minucioso será feito nos próximos dias. Uma equipe do Ministério da Saúde, em parceria com a Sesa, será enviada ao distrito, onde submeterá a mais análises e exames nos moradores, para verificar se houve contaminação com o material. Observando a série histórica de anos anteriores, a Secretaria de Saúde não identificou casos de câncer ou alguma anormalidade de doenças na região, que levantasse suspeita”. 

VISTORIA FAZ UM ANO - 

A preocupação com a mina de urânio, localizada em Santa Quitéria, com área de influência direta em Itatira, Catunda e Boa Viagem, municípios localizados no Sertão Central cearense, reuniu no dia 20 de setembro de 2023 representantes da Fiocruz Ceará, por meio da Coordenação de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (CAAPS), da área de Saúde e Ambiente e do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Os relatos sobre doenças como câncer e outras questões relacionadas à saúde chamaram a atenção pela gravidade. O BLOG também encontrou vídeos nas redes sociais respaldando a preocupação dos envolvidos na questão. 

Com 10 anos de atuação, o movimento nacional surgiu no Pará em luta contra a Vale e hoje atua em 14 estados brasileiros, incluindo o Ceará. O grupo não se coloca contrário à mineração, mas busca que a prática esteja a serviço da população, com respeito ao meio ambiente. A Mina pertence a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Considerada a quarta maior mina de urânio do mundo, a de Santa Quitéria esteve embargada pelo Ibama por comprometer questões como a saúde e a água, segundo os participantes da reunião. Na reunião realizada no ano passado, foram apresentadas duas grandes demandas para a Fiocruz: a preocupação com a água e com a saúde. 

Para ter ideia, segundo os dados apresentados pelo grupo, um terço do território do estado do Ceará está envolvido em processos minerários e isso representa uma extensão muito considerável de terras para a exploração, por exemplo, do cobre”, avaliava Fernando Carneiro, pesquisador da Fiocruz Ceará. Outra preocupação da comunidade relatada pelos representantes do MAM é a percepção no aumento significativo de diversos tipos de cânceres na região, principalmente no raio próximo à mina, maior que em outras regiões do Ceará. 

Já há uma preocupação se, nas condições ambientais atuais, com a radiação natural, se já há efeitos na saúde, além do temor com que a possível exploração da mina viria a prejudicar mais ainda essa população”, informava Vanira Pessoa, coordenadora da CAAPS. Além do câncer, eles falaram muito do medo das malformações fetais e da incidência de casos de abortos espontâneos e partos prematuros que também percebem na população local”, acrescenta. Dentre as solicitações para parceria entre a Fiocruz Ceará e o MAM, o desenvolvimento de um estudo epidemiológico de base na população de área de influência da mina para avaliar impactos futuros na saúde, em caso de reativação. Além deste estudo, também sugeriu a formação para o SUS no território, tanto para agentes comunitários e populares quanto para profissionais da Estratégia Saúde da Família, buscando identificar esses impactos na saúde com o avanço da mineração. 

FOTO/FONTE: MATÉRIA DE ABERTURA JORNAL A VOZ – REPORTAGEM DE THIAGO RODRIGUES – 

SEGUNDA FONTE, EM 20/09/2023 - FIOCRUZ CEARÁ – MINA/ INB – JORNAIS LOCAIS –

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