quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Ao lado do presidente Lula, Silveira anuncia novo ciclo para a mineração estratégica do país. Urânio e terras raras no foco.

 


O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presidiu, nesta quinta-feira (16/10), a 1ª reunião ordinária do Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM) visando a formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável e estratégico do setor mineral brasileiro. O foco nos materiais estratégicos inclui principalmente o urânio e as terras raras, cobiçados por países como os Estados Unidos; país ávido pelas terras raras.  

Uma das metas é avançar no conhecimento geológico. De acordo com pesquisadores, o Brasil não sabe exatamente qual o seu potencial, por falta de estudos no subsolo. Há registros de que o Brasil já possuiu a quarta maior reserva de urânio do mundo; depois, passou para sexta. Em relação às terras raras, as informações são de que o país tem a segunda maior reserva, perdendo apenas para a China. Mas o Brasil abandonou as pesquisas cientificas sobre as terras raras há décadas. 

“Deste conselho, vão partir as decisões estratégicas para o futuro da mineração no Brasil. O objetivo é contribuir para que o país possa se posicionar internacionalmente como não somente um supridor desses minerais, mas também utilizando esses recursos para gerar riquezas no nosso próprio território. Inauguramos hoje um novo capítulo da história da mineração, introduzindo uma governança pioneira no setor e promovendo a necessária articulação interministerial. É o caminho seguro para que a nação possa lançar mão de todo o potencial dos minerais, incluindo também os críticos e estratégicos”, afirmou Silveira. 

Segundo o MME, o CNPM aprovou as prioridades da Política Mineral Brasileira, que busca impulsionar uma mineração mais sustentável alinhada com a legislação, além de definir as diretrizes para elaboração do Plano Nacional de Mineração (PNM-2050) e para o Plano de Metas e Ações do setor mineral brasileiro, propondo uma abordagem transversal e de longo prazo quanto ao uso responsável dos recursos minerais ligados à transição energética, à segurança alimentar e ao futuro da indústria. 

A política promove o interesse nacional, informou o MME, “o uso responsável dos recursos minerais, a modernização da governança e das regras do setor, o reforço da segurança e da sustentabilidade, o incentivo à inovação e ao valor agregado, o avanço do conhecimento geológico e o aprimoramento da arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) com transparência e eficiência. 

O Conselho aprovou, ao todo, seis propostas de resolução que vão estruturar o novo ciclo de atuação do colegiado. Além do PNM 2050, estão a aprovação do Regimento Interno do Conselho e a criação de quatro Grupos de Trabalho (GTs) que buscam modernizar, integrar e fortalecer a governança do setor, são eles: Grupo de Trabalho (GT)  para realizar Estudo Diagnóstico sobre a Fiscalização das Atividades de Mineração no Brasil: Realizar estudo diagnóstico sobre a fiscalização das atividades do setor com foco na atuação da Agência Nacional de Mineração (ANM) e na possibilidade de atuação conjunta entre entes da federação para mapear as competências legais e constitucionais de cada ente da federação relativas ao registro. 

E mais: GT sobre Taxas de Fiscalização e Encargos Setoriais e instrumentos de Incentivo ao Aproveitamento de Recursos Minerais: Realizar estudos sobre as taxas de fiscalização e outros encargos, visando um ambiente mais justo, previsível e eficiente, além de desincentivar a retenção de áreas sem produção mineral; GT sobre Minerais Críticos e Estratégicos: Estruturar políticas para desenvolver a cadeia de valor dos minerais críticos e estratégicos, estimulando não apenas a extração, mas também o beneficiamento e a industrialização no Brasil; e GT sobre Desenvolvimento Sustentável na Mineração: Analisar e propor medidas para integrar a mineração às políticas ambientais, sociais, territoriais e de desenvolvimento sustentável, minimizando conflitos e promovendo o crescimento socioeconômico. 

Sobre o CNPM -

Composto por 18 ministros de Estado e pelo presidente do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), o CNPM tem como objetivo assessorar o Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes para o setor mineral, de modo a fortalecer a governança pública e o alinhamento entre as políticas de desenvolvimento econômico, social e ambiental. 

(FOTO E FONTE: ASCOM MME). 

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Pesquisadores brasileiros desenvolvem tecnologia pioneira para produção de combustíveis renováveis a partir de CO2


O Brasil acaba de dar um passo importante rumo à economia de baixo carbono. Um acontecimento que merece estar entre os temas de COP 30, em Belém do Pará, em novembro. Pesquisadores do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras (ISI B&F),  FIRJAN, SENAI, SESI Parque Tecnológico, na Ilha do fundão (RJ), às vésperas de comemorar 10 anos, desenvolveram um processo inovador que pode ampliar significativamente a oferta de combustíveis renováveis e menos poluentes para o setor energético, incluindo o automotivo e a aviação. Além da produção de combustíveis como diesel, gasolina e querosene verdes, o projeto também gera uma cera de alta pureza – um subproduto com grande potencial de aplicação na indústria cosmética. 


Batizado de CO₂CHEM, o projeto é o primeiro do tipo no país e tem como objetivo desenvolver rotas químicas sustentáveis para a conversão de dióxido de carbono (CO₂) em hidrocarbonetos sintéticos de alto valor agregado. Utilizando CO₂ e água como matérias-primas, o processo promove a síntese de combustíveis renováveis por meio da eletrólise da água – que gera hidrogênio – e da conversão química do CO₂. Toda a cadeia pode ser alimentada por fontes de energia renovável, garantindo um ciclo fechado de carbono com viabilidade técnica, econômica e ambiental. 

O projeto trouxe contribuições significativas para o setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis, com destaque para a principal inovação: o desenvolvimento de uma rota integrada e sustentável que utiliza CO₂ como insumo para produção de combustíveis sintéticos em escala de demonstração. Essa tecnologia atende diretamente às demandas globais por processos de descarbonização, transformando emissões em produtos valiosos”, afirma Leandro Novaes, um dos pesquisadores líderes do Projeto CO₂CHEM, e a pesquisadora Ana Luiza Favilla. 

A iniciativa foi desenvolvida para a Repsol Sinopec Brasil, dentro da linha de Pesquisa & Desenvolvimento em Gestão de Carbono da empresa. Com investimento de R$ 20 milhões, a planta piloto tem capacidade de consumir até uma tonelada de CO₂ por dia e produzir 20 litros de combustíveis renováveis, representando um avanço expressivo na transição energética. Esta é a primeira iniciativa do tipo em todo o Grupo Repsol. 

O projeto foi viabilizado por meio da cláusula de PD&I da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII). Além do ISI B&F, que atuou na modelagem da planta, análises econômicas e ensaios laboratoriais, o projeto reúne a Hytron (Grupo Neuman & Esser), responsável pelo desenvolvimento e testes da planta piloto, e a Universidade de São Paulo (USP), por meio do Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), que contribuiu com suporte laboratorial especializado. 


“O projeto CO₂CHEM é um marco para a inovação sustentável no Brasil. No ISI B&F, temos orgulho em colaborar com o desenvolvimento de tecnologias que promovem a descarbonização e a soberania tecnológica. Nossa equipe esteve à frente do desenvolvimento e avaliação dos catalisadores, ferramentas para análise técnico-econômica e ambiental, além da construção de gêmeos digitais para otimização do processo. Estamos comprometidos em oferecer soluções que respondam aos desafios climáticos e industriais do país”, destaca Jeiveison Gobério Maia, Gerente do ISI B&F. 

Os próximos passos do projeto incluem a realização de testes de eficiência dos combustíveis produzidos em motores reais, além de estudos de escalabilidade da planta e aprofundamento da análise de viabilidade em escala comercial. Os resultados obtidos até agora posicionam o Brasil na vanguarda do desenvolvimento de soluções sustentáveis para o setor energético. 

CENTRO DE EXCELÊNCIA - 

O Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras (ISI B&F) é um centro de excelência nacional em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para a indústria. Atua no desenvolvimento de novos produtos e processos sustentáveis nos setores químico, bioquímico e têxtil, utilizando tanto recursos renováveis quanto não renováveis. 

Com forte atuação em bioeconomia, intensificação de processos, biologia sintética e têxteis funcionais, o ISI B&F promove soluções tecnológicas alinhadas às demandas industriais e aos desafios da transição energética. Seus projetos de alto impacto reforçam a competitividade da indústria brasileira, a sustentabilidade ambiental e a independência tecnológica do país. 

Desde janeiro de 2016, data da sua fundação, o Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras (ISI B&F) desenvolve soluções sustentáveis por meio da química e da biotecnologia industrial, utilizando recursos renováveis e não renováveis para oferecer novos produtos e processos. Com um conceito de alta integração com a indústria e a academia, a equipe é formada por especialistas e infraestrutura reconhecidos nas áreas de biotecnologia, transformação química, engenharia de processos e fibras. 

(FOTOS E FONTE: ISI B&F) 

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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Eletrobras vende para a J&F a sua parte na Eletronuclear, gestora das usinas nucleares, que continua controlada pelo governo

 


A Eletrobras informou, nesta quarta-feira (15/10), em “fato relevante”, a venda integral de sua participação na Eletronuclear, gestora das usinas nucleares, para Âmbar Energia, do Grupo J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, pelo valor de R$ 535 milhões. A venda foi assinada na terça-feira (14/10), segundo o comunicado, e refere-se à participação de 68% do capital total e de 35,3% do capital votante da Eletronuclear antes detida pela Eletrobras. A União, que não faz parte da transação, continuará controlando a Eletronuclear por meio da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), que detém 64,7% do capital votante e cerca de 32% do capital total. O negócio está sujeito à aprovação dos órgãos reguladores. 

Segundo a Eletrobras, o acordo envolve ainda a assunção pela J&F das garantias de empréstimos prestadas pela Eletrobras e a obrigação de integralização das debêntures para a Eletronuclear previstas no acordo celebrado entre a companhia e a União, no valor de R$ 2,4 bilhões. A Eletronuclear é gestora das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, em funcionamento; e Angra 3, com as obras paradas desde 2015. Com o acordo, a J&F será parceira da União na conclusão de Angra 3, cujas obras começaram em 1984. caso o governo decida terminar a usina, que hoje está com 67% das obras civis concluídas. 

Segundo a Eletrobras, a operação permitirá a plena liberação da empresa “das responsabilidades remanescentes com sua coligada, melhorando o perfil de risco e permitindo liberar capital alocável da companhia”. A empresa informa também no fato relevante que a “transação representa um marco importante para a Eletrobras e reforça o compromisso de otimização de seu portfólio”. O presidente da Ambar, Marcelo Zanatta, informou em nota que a aquisição vai diversificar ainda mais o seu portfólio de geração de energia. “A energia nuclear combina estabilidade, previsibilidade e baixas emissões, características fundamentais em um momento de descarbonização e de crescente demanda por eletricidade impulsionada pela inteligência artificial e pela digitalização da economia”.

 “EMPRESA PROBLEMA” - 


“A Eletronuclear virou uma empresa problema para o país. Não é uma empresa saneada, dinâmica, enxuta, eficiente para cumprir o seu mister. Vamos ter que achar uma solução para a Eletronuclear. Vamos ter que pensar juntos: o parlamento brasileiro e a política pública do Executivo para mudar a questão da Eletronuclear. Para fazer uma obra de R$ 28 bilhões, sem gestão, é extremamente temerário. Então, essa é uma preocupação, até uma angústia do ministro de Minas e Energia do Brasil”. 

Por incrível que pareça, a declaração do ministro Alexandre Silveira, em agosto de 2024, durante audiência na comissão de Minas e Energia da Câmara, provocou espanto nos bastidores do setor. O que pretendia o ministro ao deixar clara a sua visão tão pessimista sobre o destino da companhia, comentaram alguns especialistas e técnicos experientes que conhecem bem a história da empresa. Na bolsa de apostas, mesmo indignados, alguns comentaram na época que Silveira podia estar pensando em fatiar a estatal, criada em 1997, para gerir as usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, em operação, e Angra 3, com as obras paralisadas.  Não estavam tão equivocados. Hoje, alguns técnicos do setor acham que o fato da venda da Eletrobras é uma alternativa viável, já que a Rússia e a China não estariam mais interessadas em angra 3. 

No ano passado, o ministro visitou o canteiro de obras da central nuclear em Angra dos Reis e tem sido árduo defensor do final das obras Angra 3; e até mesmo da instalação de usinas na Amazônia; como também da extensão da vida útil de Angra 1, por mais 20 anos. Quando Silveira coloca “com tristeza” tantas dúvidas sobre a empresa, acaba provocando insegurança no quadro de funcionários, principalmente nos mais antigos e qualificados, segundo especialistas. A dívida da Eletronuclear com o BNDES e a CEF, por conta de Angra 3, girava em torno de R$ 6,4 bilhões. O BNDES realiza novos estudos sobre a situação da viabilidade de Angra 3. Os resultados dos estudos estavam previstos para ocorrer este ano, quando seriam analisados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pelo CNPE. 

ANGRA 3: CONSTRUÇÃO COMEÇOU EM 1984 -

 Angra 3 faz parte do pacote do acordo nuclear Brasil-Alemanha assinado em 1975, pelo general Ernesto Geisel, então presidente da República, que previa a construção de oito centrais atômicas. As obras começaram em 1984, mas foram paralisadas diversas vezes por problemas variados. O então presidente da República Michel Temes chegou a ser preso por acusações de corrupção, na usina, tendo sido depois absolvido e liberado depois. Conforme dados oficiais, Angra 3 já consumiu cerca de R$ 8 bilhões e depende de outros R$ 20 bilhões para ser concluída. Se entrar em operação poderá gerar o equivalente a 1.340 Megawatts. 

ANGRA 2 – ÚNICA DO ACORDO BRASIL- ALEMANHA EM OPERAÇÃO - 

Angra 2 é a única usina nuclear do acordo com a Alemanha que opera desde 2001. Mas há registrou diversos problemas técnicos. Em 2022, um desarme automático do conjunto turbogerador, na parte não nuclear da central atômica, devido ao “acionamento da proteção de falha para terra do rotor do gerador principal”, desconectou a usina nuclear do Sistema Interligado Nacional (SIN), ontem à noite. A unidade operava a 100% de potência quando ocorreu o problema. Quando funciona com 100% de sua potência, Angra 2 pode produzir 1.350 Megawatts, o equivalente a 20% da energia elétrica consumida na cidade do Rio de Janeiro. Ao longo dos anos a usina já foi desligada várias vezes. No momento, está funcionando, como Angra 1. 

ANGRA 1 – COMPRADA DOS EUA -

 Angra 1 já foi desligada dezenas de vezes. Em julho de 2023, por exemplo, foi desconectada do Sistema Interligado Nacional (SIN), “por conta de um desarme do reator ocorrido durante teste de operabilidade das barras de controle”.  Popularmente, a usina foi batizada de “Vagalume” pela quantidade de vezes que parou. Quando opera 100% sincronizada ao sistema elétrico, gera 654 Megawatts, o equivalente a 10% da energia elétrica consumida da cidade do Rio de Janeiro, que entra no Sistema Integrado Nacional. Angra 1 foi comprada em 1970 da norte-americana Westinghouse. Depois de uma série de adiamentos, a central nuclear foi inaugurada em 1981. Outros entraves fizeram com que a usina entrasse em operação comercial em 1985. Em 1994, preia-se que Angra 1 poderia durar 24 anos, ou seja, até o ano de 2018. Nos últimos três anos, a usina está sendo preparada para durar mais 20 anos. 

FONTE: Acervo Eletronuclear – Colabore com o Blog – sete anos de jornalismo independente – Contribua com um PIX: 21 – 996015849 – Contato: malheiros.tania@gmail.com

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Entidades científicas repudiam proposta que abre caminho para armas nucleares no Brasil

 

SBPC, ABC, SBF e SBQ pedem a rejeição integral da “PEC da bomba atômica” e reafirmam tratados que mantêm a América Latina livre de armamentos atômicos

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ao lado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) divulgaram nesta segunda-feira, 13 de outubro, uma nota conjunta em defesa da Constituição Federal e contra a proposta de emenda que pretende autorizar o desenvolvimento de armas nucleares no Brasil.A manifestação é uma resposta à PEC apresentada nesta semana pelo deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil - SP), que sugere permitir o uso da tecnologia nuclear para fins de defesa nacional em caso de ataques. A proposta, apelidada nas redes de “PEC da bomba atômica”, permitiria que as Forças Armadas desenvolvessem armamentos nucleares mediante autorização presidencial. 

No documento, as quatro entidades reafirmam o compromisso histórico da ciência brasileira com o uso exclusivamente pacífico da energia nuclear, um princípio consagrado na Constituição de 1988. As instituições alertam que alterar essa norma seria um “retrocesso civilizatório”, com impactos éticos, diplomáticos e morais graves, além de violar tratados internacionais que tornaram a América Latina uma zona livre de armas atômicas. 

“O Brasil, que construiu sua reputação internacional como nação promotora da paz e da cooperação científica, não precisa de bombas atômicas para ser soberano. Precisa, sim, de investimentos em educação, saúde, ciência e inovação, os verdadeiros pilares da soberania moderna”, argumentam na nota. As entidades conclamam, por fim, o Congresso Nacional a “rejeitar integralmente” a proposta e a reafirmar o compromisso do Brasil com a paz, a democracia e o uso responsável da ciência e da tecnologia. 

Leia abaixo a manifestação na íntegra: 

EM DEFESA DA CONSTITUIÇÃO E CONTRA A LEGALIZAÇÃO DE ARMAS NUCLEARES NO BRASIL

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira de Física (SBF) e a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) manifestam seu repúdio veemente à proposta de emenda constitucional que pretende permitir o desenvolvimento de armas nucleares no Brasil. A Constituição Federal de 1988, conquista histórica da sociedade brasileira, consagrou o princípio do uso exclusivamente pacífico da energia nuclear, uma conquista assegurada graças à mobilização de cientistas, educadores e movimentos sociais, liderados por entidades como a SBPC, ABC, SBF e SBQ. Esse dispositivo, inscrito no artigo 21, inciso XXIII, alínea “a”, é uma das expressões mais elevadas do compromisso do país com a paz, a ética e o desenvolvimento responsável da ciência. Revogar essa proibição significaria um retrocesso civilizatório, com consequências jurídicas, diplomáticas e morais irreparáveis. 

A proposta em discussão ameaça desmontar compromissos internacionais que o Brasil ajudou a construir, entre eles, o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e o Tratado de Tlatelolco, que fizeram da América Latina uma zona livre de armas atômicas. Romper com esses tratados não apenas violaria obrigações internacionais, como colocaria o país em rota de isolamento diplomático e perda de credibilidade global. As armas nucleares representam a antítese da ciência e da vida. São instrumentos de destruição em massa, cujas consequências humanas, ambientais e intergeracionais são incalculáveis. 

O Brasil, que construiu sua reputação internacional como nação promotora da paz e da cooperação científica, não precisa de bombas atômicas para ser soberano. Precisa, sim, de investimentos em educação, saúde, ciência e inovação, os verdadeiros pilares da soberania moderna. A justificativa de “dissuasão estratégica” é tecnicamente inconsistente e eticamente inaceitável. Nenhum país ganha segurança ao entrar em uma corrida nuclear. O custo de um programa bélico desse tipo seria astronômico, desviando recursos escassos das áreas que realmente constroem o futuro nacional. 

O Brasil deve reafirmar sua liderança ética, científica e pacífica no uso do átomo, fiel ao espírito de sua Constituição e à tradição diplomática que o consagrou como nação promotora da paz e da cooperação entre os povos. Trair esse princípio seria romper com um legado de responsabilidade e lucidez científica que nos distingue no cenário internacional. Em nome da Constituição, da ciência e da humanidade, conclamamos o Congresso Nacional a rejeitar integralmente essa PEC e a reafirmar o compromisso do país com a paz, a democracia e o uso responsável da energia nuclear e da tecnologia. Data: 13 de outubro de 2025 – 

Assinam: FRANCILENE PROCÓPIO GARCIA - Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); HELENA BONCIANI NADER; Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC); SYLVIO CANUTO; Presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF); e ROSSIMIRIAM PEREIRA DE FREITAS; Presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). 

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sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Especialistas do setor nuclear criticam a PEC da "bomba atômica" do deputado Kim Kataguiri

 


Especialistas do setor nuclear nacional criticaram a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), do deputado federal Kim Kataguiri, 29 anos, (União Brasil–SP), apresentada esta semana (7/10), que autoriza o desenvolvimento de armas nucleares no Brasil para fins de defesa do território nacional em caso de ataque. A PEC da “bomba nuclear”, como está sendo chamada, autoriza as Forças Armadas a desenvolvam a tecnologia a partir da autorização expressa do presidente da República. 

“A proposta é juridicamente inadmissível, estrategicamente desastrosa, economicamente insustentável e moralmente indefensável”, afirmou o engenheiro nuclear Leonam Guimarães, membro do grupo de assessoria da direção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ex-presidente da Eletronuclear. 

Na opinião do integrante da AIEA, a PEC “destruiria conquistas diplomáticas e tecnológicas acumuladas em mais de meio século e colocaria o Brasil em rota de colisão com a comunidade internacional”. O Brasil, destacou, “não precisa de armas nucleares para ser respeitado; precisa, sim, reafirmar sua liderança ética, científica e pacífica no uso responsável do átomo”. A proposta correta, disse é “defender a Constituição, a soberania real e o futuro do País”. 

POTÊNCIAS USAM O PODER - 


A proposta do deputado também determina que o Brasil renuncie aos tratados internacionais que restringem o desenvolvimento de armas nucleares, como o TNP (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares) e o Tratado de Tlatelolco. Ao justificar a PEC, o parlamentar afirma que o mundo vive uma nova era de instabilidade geopolítica, em que grandes potências usam o poder nuclear como instrumento de dissuasão e equilíbrio de forças. 

Para o ex-presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), mestre em engenharia pela Coppe/UFR, engenheiro Carlos Henrique da Costa Maria, o Brasil tem outras prioridades; nada tem a ver com armas nucleares. 

"O Brasil tem que avançar na exploração de suas jazidas de urânio e incrementar com rapidez todo o processo de enriquecimento”. Para isso, afirmou, “deve aumentar substancialmente o processo de transformação do yellow cake em gás de hexa fluoreto de urânio e ampliar significativamente o número de centrífugas”. E completou: “O Brasil é signatário do acordo de não proliferação de armas nucleares e, portanto, não deve produzir bombas atômicas”. 

Para o engenheiro Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira do Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), "o setor nuclear tem muita coisa para fazer e esta não é uma delas. O deputado demonstra total desconhecimento da geopolítica e está olhando para interesses que não são os do país", comentou. E ironizou: "Não daremos palco a ele". 

CLIMA DE HISTERIA - 


A engenheira nuclear Olga Simbalista, acredita que um “clima de histeria” vem acometendo o mundo por conta de guerras e ameaças; e o deputado pode ter sido influenciado. 

“Este clima está acontecendo desde o início de duas guerras inimagináveis, uma na Europa, envolvendo Rússia e Ucrânia; outra no Oriente entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. E, depois associadas às recentes manifestações do presidente dos EUA de anexar México, Panamá e Canadá ao território americano, comprar a Groenlândia, lançar ataque militar contra a Venezuela e outras sandices similares, é possível até ver nosso país ser também ameaçado, em particular devido a ambições quanto à posse da  Amazônia, tida como o pulmão da humanidade e, portanto pertencente a todos”, comentou. 

Olga Simbalista é membro da Academia Nacional de Engenharia, do Conselho de Notáveis da Confederação Nacional do Comércio, Conselho de Administração da Associação Comercial do rio de Janeiro (ACRJ) e da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), além da Seção Latino Americana da American Nuclear Society, por exemplo. 

Diante de tantos conflitos e ameaças, ela não apoia, mas faz uma espécie de mediação à ideia do deputado: “Como escreveu Guimarães Rosa, dito pelo personagem Riobaldo, em seu livro mais famoso, Grande Sertão: Veredas, Viver é muito perigoso”, comentou. “E está ficando cada vez mais”, alertou.

 (FOTOS: acervos pessoais)-

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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Sindicado quer que a ANSN esclareça "acidente grave" com trabalhador em célula contendo resíduos radioativo e químico

 


O Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião (SINDMINE) quer que a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) esclareça informações sobre o acidente com um trabalhador ocorrido no 1º deste mês (1/10) na Unidade de Concentração de Urânio (URA) da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caetité/BA. O funcionário caiu em uma das oito células com material radioativo e químico da URA. Segundo o Sindicato, não se trata apenas de um “evento não usual”, como a INB e a ANSN divulgaram. “Trata-se de um acidente de trabalho grave, ocorrido em ambiente de alto risco químico e radiológico”, reiterou o SINDMINE em nota divulgada nesta quinta-feira (09/10).

O comunicado oficial da ANSN foi publicado no portal do governo federal em 7/10, confirma que o trabalhador caiu em um compartimento contendo solvente orgânico e resíduos de urânio, destaca a nota do Sindicato. A Autoridade também reconhece que a comunicação do fato pela empresa ocorreu apenas “algumas horas após o evento”, e que a investigação está sendo conduzida internamente pela própria operadora. O SINDMINE considera tais informações extremamente preocupantes, pois revelam “possíveis falhas na comunicação imediata de incidentes e na transparência das ações adotadas após o acidente”. 

ATRASO OU OMISSÃO DE INFORMAÇÃO - 

Em uma instalação que manipula material radioativo e químico, observou o Sindicato, “qualquer atraso ou omissão de informação compromete o princípio da segurança nuclear e o direito à proteção integral dos trabalhadores”. Por essa razão, o Sindicato encaminhou nesta quarta-feira (8 de outubro) o Ofício nº 189/25 à ANSN, solicitando: cópia da comunicação inicial feita pela INB sobre o evento, com data e hora de registro; cópia do relatório preliminar e dos registros de monitoração radiológica e toxicológica; informação sobre o acompanhamento in loco de fiscais da ANSN;  Esclarecimentos sobre os critérios de comunicação de “eventos não usuais”; e inclusão formal do SINDMINE como parte interessada no processo de apuração. 

O SINDMINE, reiterou na nota, que “reafirma seu compromisso histórico com a defesa da vida, da saúde e da segurança dos trabalhadores da INB, exigindo transparência e rigor técnico na apuração do ocorrido”. 

LEIA NO BLOG: 

03/10/2025 – Trabalhador cai em célula no setor de extração de urânio da INB na Bahia; 

05/10/2025 INB nega ("não procede") e confirma informação do Blog sobre operário que caiu em célula no setor de extração de urânio; 

06/10/2025 – Empregado da INB acidentado teve contato com materiais radioativo e químico, denuncia SINDMINE

23/04/2025 - 

Eventos climáticos extremos ainda afetam instalações com material radioativo. MCTI e Ibama prestam informações exclusivas ao Blog

13/01/2024 -  Vendaval paralisa planta de produção de urânio de Caetité

24/01/2024 - INB tem que informar sobre contaminação de urânio em Caetité (BA); refletores sem funcionar levam vigilantes a usarem lanternas em rondas noturnas

(FOTO: INB) – 

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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Queda de operador em célula com material radioativo: ANSN "ações de fiscalização"

 


A Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), recém formada, divulgou nesta terça-feira (07/10) que está acompanhando a situação do trabalhador da Unidade de Concentração de Urânio (URA),, em Caetité, na Bahia, que caiu dentro de uma das células com material radioativo e químico na quarta-feira da semana passada (1/10), A ANSN informou que está “coletando informações e realizando as ações de fiscalização cabíveis no âmbito de sua atuação”. 

Informou também que a empresa Indústrias Nucleares do Brasil (INB), operadora da URA, está conduzindo investigação interna e, conforme os procedimentos estabelecidos, deverá apresentar relatório detalhado à Autoridade sobre o evento. A organização foi comunicada. “do evento não usual, envolvendo um operador da instalação”. Só depois de o fato ser noticiado pelo Blog no dia 3/10, a INB divulgou nota interna de esclarecimento.


 “A comunicação inicial ocorreu algumas horas após o evento, ocasião em que foi informado que um trabalhador, durante atividade operacional nas células de reextração, sofreu uma queda no interior de um compartimento contendo solvente orgânico descarregado”, divulgou hoje a ANSN. O órgão, do Ministério de Minas e Energia (MME), reproduziu praticamente as mesmas informações da INB. Mas segundo a literatura disponível, é importante lembrar que, problemas de saúde de pessoas contaminadas, muitas vezes, se manifestam tempos depois. “O operador (trabalhador) foi imediatamente socorrido, encaminhado para higienização e posteriormente submetido à monitoração pelo Serviço de Proteção Radiológica da unidade, que não detectou contaminação radiológica nem observou indícios de ingestão ou incorporação de material proveniente do compartimento”, declarou a ANSN. 

E Mais: “Posteriormente, o trabalhador foi atendido pelo serviço médico da instalação e encaminhado para avaliação em hospital, onde também foi submetido a exames. Segundo informações da unidade, por recomendação médica, o operador permaneceu em observação por uma noite, recebendo alta no dia seguinte, após novos exames e avaliação médica”. 

MINA DE PROBLEMAS -

 


A lista de problemas da URA é conhecida. Em dezembro de 2024 a planta para a produção de urânio foi paralisada quando uma ventania, destelhou galpões e telhas que caíram sobre tanques. Na época, segundo a INB uma parte do telhado da AA-170 que cobre a área de estocagem de tambores, foi danificada, sendo que fragmentos de telhas e blocos caíram dentro da próprio AA-170, causando danos e exposição de um dos tambores. Fragmentos de telhas perfuraram duas mantas, a superior e inferior, na bacia de processo TQ 140, causando infiltração de efluentes contendo urânio para o selo de argila da própria bacia. Espera-se que os reparos tenham sido realizados.

 Na ocasião, a informação do BLOG foi confirmada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A área de produção do concentrado de urânio foi a mais danificada. Esta é uma prova de que eventos climáticos extremos podem afetar instalações que operam com material radioativo. Segundo o MCTI, a INB continuava implementando ações “remediadoras na área das bacias de processo, também afetada pelo evento climático extremo”. E mais: “Uma das bacias continuava inoperante devido à manutenção pendente”. Os problemas foram resolvidos? 

LEIA NO BLOG: 

03/10/2025 – Trabalhador cai em célula no setor de extração de urânio da INB na Bahia; 

05/10/2025 – INB nega ("não procede") e confirma informação do Blog sobre operário que caiu em célula no setor de extração de urânio; 

06/10/2025 – Empregado da INB acidentado teve contato com materiais radioativo e químico, denuncia SINDMINE

23/04/2025 - Eventos climáticos extremos ainda afetam instalações com material radioativo. MCTI e Ibama prestam informações exclusivas ao Blog

13/01/2024 -  Vendaval paralisa planta de produção de urânio de Caetité

24/01/2024 - INB tem que informar sobre contaminação de urânio em Caetité (BA); refletores sem funcionar levam vigilantes a usarem lanternas em rondas noturnas

(FOTOS: INB E EXCLUSIVAS BLOG) – 

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