terça-feira, 8 de julho de 2025

Pacientes com câncer correm risco de ficar sem medicamentos radiofármacos, alerta a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN)

 


Milhares de pacientes que dependem de radiofármacos (medicamentos ligados a radioisótopos – materiais radioativos) para combater e diagnosticar doenças graves como o câncer e enfermidades raras correm o risco de interrupção do tratamento nos próximos dias, diante da iminência de desabastecimento do produto em 485 serviços de medicina nuclear no país, que atendem tanto o Sistema Único de Saúde (SUS), quanto o sistema privado. A informação é da presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e Imagem Molecular (SBMN), Elba Etchebehere, doutora em Ciências Médicas pela UNICAMP, com pós-doutorado no MD Anderson Câncer Center (EUA). 

A entidade enviou cartas alertando a gravidade da situação às autoridades públicas, como o presidente da República Luiz Inácio da Silva, ministros e congressistas. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que respondem pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), produtor do medicamento, também foram alertados. Desde a semana passada o Blog tenta contato com o MCTI e IPEN/CNEN, sem retorno aos pedidos de informações. 

A presidente da SBMN alerta que o medicamento já está faltando em diversas clínicas e a tendência é o agravamento da situação, caso não haja medidas urgentes. Por isso, a SBMN, a Associação Médica Brasileira (AMB) e outras entidades da área e representação de pacientes tentam mobilizar e sensibilizar as autoridades sobre os riscos na interrupção de tratamentos, causando impactos danosos na saúde dos pacientes, com risco de um colapso no diagnóstico e tratamento de doenças. 

Entre as medidas urgentes solicitadas ao governo, as instituições sugerem a autorização excepcional da ANVISA para importação dos insumos; investimento na modernização e eficiência do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN/CNEN), liberação a novas fontes de fornecimento com boas práticas; e classificação de prioridade no transporte aéreo dos radiofármacos, pois como são medicamentos radioativos, são perecíveis e decaem. Isso significa que radiofármacos não podem esperar nas prateleiras em aeroportos como quaisquer outros medicamentos que têm uma bula com validade; o decaimento radioativo significa que menos doses serão administradas a pacientes pelo atraso na liberação das cargas aéreas. 

RÚSSIA E ISRAEL -


 “É critico o cenário enfrentado pela Medicina Nuclear no país”, afirmou. “O envolvimento de Rússia e Israel em conflitos regionais tem dificultado ainda mais a importação de radioisótopos pelo IPEN, devido a sanções e fechamento do espaço aéreo. O Brasil necessita abrir o mercado e viabilizar o acesso a outros países produtores, já que há mais de vinte fornecedores no mundo”, informou.

 Os radioisótopos possibilitam que os médicos nucleares vejam o funcionamento de órgãos e tecidos vivos por meio de imagens nos equipamentos de cintilografias, SPECT/CT e PET/CT. “Os efeitos negativos decorrentes da instabilidade no fornecimento de radioisótopos e radiofármacos, causam também a suspensão na realização de exames e terapias utilizados no diagnóstico e no acompanhamento de enfermidades cardíacas, neurológicas e outras condições de alta complexidade, além do câncer”, alerta a presidente da SBMN. 

ATRASO NO ACESSO - 

“Paciente com câncer perguntou ao médico se o atraso na sua terapia, por falta do produto (iodo-131), pode impactar na evolução do seu câncer. Como responder?” relatou um médico nuclear, durante palestra recentemente em São Paulo. Segundo a presidente da SBMN, dados apresentados ao governo federal mostram que o Brasil realiza cerca de 60% menos procedimentos de Medicina Nuclear do que nações com perfis econômicos e sociais semelhantes, como Índia, África do Sul, Argentina, México e Chile, o que indica um atraso no acesso à tecnologia de medicina nuclear, que salvam vidas. 

ATAQUE CIBERNÉTICO - 

Os problemas gerados pelo ataque cibernético sofridos pelo IPEN no dia 28 de março deste ano, que paralisaram a produção de diversos radiofármacos, ainda não foram completamente resolvidos. “Embora o IPEN/CNEN tenha agido com rapidez e eficiência, qualquer paralisação prejudica os pacientes em última instância, especialmente porque a Medicina Nuclear cresce 11% ao ano. Devido à intermitência, houve a abertura para que a iniciativa privada também importasse”. O monopólio foi quebrado, mas o mercado, continua travado, como informa a presidente da SBMN. 

O IPEN é um dos mais importantes institutos de pesquisa da América do Sul e completa 70 anos em 2026. O Instituto distribui cerca de 80%dos radioisótopos e radiofármacos para a Medicina Nuclear. O Brasil importava cerca de 4% da produção mundial do radioisótopo molibdênio-99, essencial para a produção de inúmeros radiofármacos, medicamentos usados na Medicina Nuclear. Até 2021, o IPEN gastava US$ 15 milhões por ano com essa importação, que gerava um faturamento de R$ 120 milhões, recursos não retidos para a reestruturação e modernização do órgão, que seguiam para caixa da União. 

REATOR PARA A SOBERANIA - 


O que dará soberania ao país na produção é a entrada em operação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), idealizado em 2009, que somente agora está saindo do papel. O RMB vai abastecer o IPEN/CNEN, que poderá sair da condição de importador para seguir como potencial exportador em um cenário global. Cerca de dois milhões de procedimentos médicos utilizando radioisótopos são realizados anualmente, nas 485 clinicas de Medicina Nuclear. 

Cerca de 70% desses procedimentos são para atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e o restante pela rede privada. 

Transcrição da carta publicada no site da SBMN: DESABASTECIMENTO CRÔNICO DE RADIOISÓTOPOS E RADIOFÁRMACOS DE MEDICINA NUCLEAR E SEU IMPACTO NA SAÚDE DA POPULAÇÃO DO BRASIL 

“Paciente com câncer perguntou ao médico se o atraso na sua terapia, por falta do produto (iodo-131), pode impactar na evolução do seu câncer. Como responder?” Médico Nuclear, em palestra em São Paulo, no dia 04/04/2025 Exmo. Sr. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 

"É com enorme preocupação que nos dirigimos a esta Casa para abordar um tema de extrema relevância para a saúde pública do Brasil: o desabastecimento crônico de radioisótopos e radiofármacos e suas consequências diretas na saúde da população do Brasil. 

A Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e Imagem Molecular (SBMN), em colaboração com demais associações de alcance nacional, como a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares – ABDAN e a Associação Nacional de Empresas de Medicina Nuclear – ANAEMN, entre outras relevantes que apoiam este documento - entidades de profissionais e pacientes - vem por meio desta solicitar ações urgentes diante da gravidade da situação em que se encontra a Medicina Nuclear Brasileira. 

A Medicina Nuclear desempenha um papel fundamental no diagnóstico e tratamento de diversas doenças graves, incluindo vários tipos de cânceres, sendo amplamente reconhecido que os procedimentos dessa especialidade médica reduzem drasticamente as taxas de morbimortalidade, otimizando os gastos com saúde pública. Lamentavelmente, sua utilização no Brasil se encontra 60% inferior à de países desenvolvidos e em desenvolvimento (Índia, África do Sul, Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, México etc.) devido aos desafios significativos que impactam diretamente a qualidade e o acesso a serviços de saúde essenciais para a população brasileira. 

Buscamos externar a preocupação de todo o setor com a grave crise que há tempos é percebida sobre o fornecimento e abastecimento no mercado interno de radiofármacos e radioisótopos - essenciais ao tratamento de pacientes acometidos de doenças graves. 

O principal gargalo enfrentado é a instabilidade no fornecimento de insumos radioativos e radiofármacos por parte do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN). O IPEN/CNEN ainda é o único distribuidor dos principais insumos utilizados em mais de 80% dos exames de Medicina Nuclear no Brasil, exercendo um papel relevante no acesso dos brasileiros à Medicina Nuclear.

O exemplo mais emblemático na distribuição dos insumos radioativos é a importação do radionuclídeo molibdênio-99 pelo IPEN/CNEN para a produção do gerador de Tecnécio-99m, distribuído semanalmente para os 485 serviços de Medicina Nuclear do país, que possibilita a realização de procedimentos diagnósticos em cerca de 40.000 pacientes por semana. Infelizmente, ao longo dos anos, houve uma redução drástica na entrega dos geradores de tecnécio-99m. Em 2024, o fornecimento intermitente resultou em 560.000 pacientes sem acesso a procedimentos essenciais, agravando filas de espera e gerando um impacto significativo na saúde pública, com aumento de custos desnecessários para o sistema. 

Diversos outros insumos importados e distribuídos pelo IPEN/CNEN enfrentam recorrentes interrupções ou bloqueios, como o Iodo-131 e Guan-Ipen131MIBG (para tratamento de câncer de tireoide e neuroblastoma - câncer infantil) e Lutécio-177 (para tratamento de câncer de próstata e cânceres neuroendócrinos). Até 2015 o IPEN/CNEN distribuía doses terapêuticas de iodo-131 para cerca de 1.400 pacientes por semana. Esse número foi reduzido drasticamente para ¼ dessa capacidade. Atualmente, as interrupções no fornecimento semanal de lutécio-177 resultaram em cerca de 250 pacientes sem acesso a esse tratamento em 2024. 

Ao longo dos anos o IPEN/CNEN também deixou de comercializar inúmeros radiofármacos antes amplamente disponíveis para os serviços de medicina nuclear no país. Em consequência, houve uma estagnação no desenvolvimento da especialidade, com enormes prejuízos para a população que necessita de diagnóstico preciso e terapias curadoras. A situação de distribuição de radiofármacos para Medicina Nuclear continua errática, incerta, com rupturas constantes. 

A interrupção de procedimentos diagnósticos e o adiamento de tratamentos oncológicos essenciais tem provocado aumento de filas, grande sofrimento aos pacientes e familiares, riscos de progressão da doença e ações judiciais recorrentes contra os serviços de Medicina Nuclear, afetando a credibilidade do setor. A falha no fornecimento regular destes insumos configura um risco sanitário de grandes proporções. 

Diante da gravidade da situação em que se encontra a Medicina Nuclear brasileira, as entidades representadas solicitam a adoção das medidas emergenciais a seguir expostas. As propostas incluem: 

1 -  Autorização para importação emergencial em caráter excepcional, por parte da ANVISA, de todos os itens da Instrução Normativa - IN nº 081, de 16/12/2020 (inclui radiofármacos pronto para uso, componentes não radioativos para marcação de componentes radioativos e precursores radionuclídeos, incluindo eluato de geradores de radionuclídeos (geradores de tecnécio-99m)) por serviços de Medicina Nuclear e indústrias radiofarmacêuticas nacionais, por fornecedores com certificados de BPF, a exemplo da RDC no 567/2021, permitindo o abastecimento contínuo, evitando interrupções no atendimento dos pacientes e reduzindo o impacto negativo no sistema de saúde. 

2 - Investimento no IPEN/CNEN para expandir a produção e importação de radiofármacos. 

3 - Apoio a Iniciativas Públicas e Privadas para garantir fontes alternativas de fornecimento de radioisótopos e radiofármacos com boas práticas de fabricação (BPF); 

4. Autorização pela ANAC de transporte de radioisótopos por aeronaves de pequeno porte, observados os devidos procedimentos de segurança e controle; 

5. Atualização dos valores aplicados pela Tabela SUS. 

São urgentes as soluções rápidas e tecnicamente fundamentadas para garantir o pleno funcionamento da Medicina Nuclear em todo o território nacional, uma especialidade médica que tem o potencial de salvar vidas e melhorar a qualidade de vida. Contamos com o vosso comprometimento e liderança para garantir que nossas propostas sejam ouvidas e que medidas efetivas sejam adotadas para assegurar que todos os brasileiros tenham acesso a diagnósticos e tratamentos essenciais. O diálogo construtivo, aberto e propositivo com os órgãos que formulam as políticas em saúde é fundamental para construir e promover acessos a serviços de Medicina Nuclear de qualidade e em tempo oportuno para a população brasileira. 

Permanecemos à disposição para colaborar com as autoridades na construção de soluções sustentáveis e eficazes. Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) Associação Brasileira de Física Médica (ABFM) Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE) Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) Associação Nacional de Empresas de Medicina Nuclear (ANAEMN) Instituto Vencer o Câncer Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC) Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN) Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e Imagem Molecular (SBMN)". 

LEIA NO BLOG: 

20/09/2021 – Falta de verba na medicina nuclear começa a paralisar o diagnóstico e tratamento contra o câncer. Ricos só terão atendimento em outros países; 

22/09/2021 – Governo libera R$ 19 milhões para a compra de insumos destinados à medicina nuclear. Valor é considerado insuficiente para o tratamento de pacientes com câncer até o final do ano; 

28/09/2021 – Ministro alerta sobre urgência de liberação de recursos para produção de radiosótopos; 

15/10/2021 – Medicina Nuclear: pacientes com câncer podem ficar novamente sem tratamento semana que vem. Recursos para a produção de radiofármacos ainda não foram liberados para o IPEN/CNEN. 

01/12/2021 – Câmara vota quebra do monopólio da produção de medicamentos contra o câncer. SBPC alerta sobre irremediáveis prejuízos para a população e ciência. 

02/12/2021 – Medicina Nuclear: aberto o caminho à quebra do monopólio para a produção de radioisótopos, pacientes com câncer em risco; 

15/12/2021 – Medicina nuclear: produção de medicamentos para combater o câncer nas mãos da iniciativa privada; 

16/12/2021 – PEC-517/2010: proposta macabra. Facada no projeto do reator multipropósito. Por Alexandre Padilha. Exclusiva para o BLOG. 

31/01/2022 - Medicina Nuclear: reator para salvar vidas, verbas ficam nas promessas. 

FOTOS: IPEN/CNEN - SBMN - 

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domingo, 6 de julho de 2025

BRICS: recursos minerais nucleares brasileiros no radar dos interesses de grupo chinês

 


O uso pacífico dos recursos minerais nucleares no Brasil está na relação de interesses da China, conforme carta de intenções firmada ontem (5/7) pelo ministro de Minas e Energia (MME) Alexandre Silveira e a estatal chinesa CGN Energy, em reuniões do BRICS, no Rio de Janeiro. O grupo chinês já tem investimento previsto de R$ 3 bilhões em projetos de energia renovável no país, informou o MME. 

A CGN Brazil Energy (CGNBE) atua no Brasil desde 2019, com investimentos no desenvolvimento, implantação e operação de projetos de geração de energia elétrica proveniente de fontes renováveis. Segundo o MME, até o momento, o grupo conta com sete complexos eólicos e três complexos solares no país, localizados nos estados da Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Ceará, que, juntos, somam mais de 1,4 GW de capacidade instalada. 

“Queremos avançar nas parcerias com a China para ampliarmos ainda mais a geração de energia limpa e renovável no Brasil, fortalecendo nosso papel de protagonista na transição energética global, além de desenvolvermos a cadeia mineral em nosso país”, afirmou o ministro. O acordo estabelece uma plataforma institucional de cooperação em pesquisa, desenvolvimento e inovação em tecnologias energéticas sustentáveis.

Segundo o MME, o instrumento contempla ações voltadas à geração, ao armazenamento e à digitalização de energia, bem como ao fortalecimento de capacidades técnicas e institucionais, em alinhamento com os compromissos de transição energética e sustentabilidade. Também estão previstas ações conjuntas em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), com foco na modernização tecnológica da cadeia mineral, incluindo o fortalecimento da capacidade nacional em pesquisa, desenvolvimento, inovação e industrialização. 

No escopo do acordo, está previsto o desenvolvimento de cooperação técnica com universidades, centros de pesquisa e instituições públicas ou privadas especializadas em processamento mineral, ciência de materiais e gestão sustentável de recursos. 

GRUPO CHINÊS - 

O Grupo CGN é uma estatal chinesa que atua ativamente no desenvolvimento do mercado global de energia. Com capacidade instalada que ultrapassa 77 gigawatts, a CGN é a maior companhia de energia nuclear da China e a terceira maior do mundo. 

(FOTO MME) - 

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sexta-feira, 27 de junho de 2025

Acordo Nuclear Brasil - Alemanha faz 50 anos hoje (27/6/2025); obras de Angra 3 consumiram bilhões

 


Nesta sexta-feira (27/6) faz 50 anos da assinatura em Bonn, do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, que previa a construção de até oito usinas nucleares e a criação de empresas voltadas para a fabricação de equipamentos, enriquecimento de urânio, entre outras atividades. Mas pelo que se vê nos últimos anos, o “contrato do século”, deixou incontáveis problemas para o Brasil. Um deles envolve a construção da usina Angra 3, marcada por atos ilícitos de corrupção, falcatruas, desvio de dinheiro público, prisão de executivos, que serviram para adiar ainda mais a finalização do empreendimento. 


Em reunião na terça-feira desta semana, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) do governo federal decidiu mais uma vez retirar da pauta a questão da retomada das obras da usina. Há um fato que impede a deliberação, segundo interlocutores: o acordo firmado entre o governo e a Eletrobras, que retirou da empresa a obrigação de investir em Angra 3. O entendimento ainda não foi homologado pelo Supremo Tribunal Federa (STF). 

Além disso, depende de um novo estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As alternativas para a busca de recursos para o término da usina pesam sempre e muito na balança das decisões. Fontes comentam que será necessário buscar uma modelagem com o Tesouro Nacional, garantindo a captação de recursos no mercado. 

As obras de Angra 3 começaram em 1984. Angra 3 já consumiu cerca de R$ 8 bilhões e ainda precisa de mais R$ 21 bilhões, pelo menos para entrar em operação. As dívidas com o BNDES e a Caixa Econômica Federal (CEF) chegavam a R$ 6,4 bilhões.  Há cerca de um ano o BLOG registrou o anúncio com mais promessas sobre a usina, em estação do metrô da Zona Sul do Rio de Janeiro.  

DENÚNCIAS

As denúncias de corrupção envolvendo Angra 3 começaram em 2015, quando o contra-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silvam presidia a Eletronuclear, gestora das usinas Angra 1, norte-americana, e Angra 2, a primeira e única do acordo, em operação. Na época, outros cinco executivos da companhia foram presos, mas todos respondem processos em liberdade, incluindo o ex-presidente Michel Temer. 

ACORDO DO SÉCULO - 

O general Ernesto Geisel tomou posse em março de 1974. Até pouco antes o Brasil possuía relações comerciais muito amigáveis com a norte-americana Westinghouse, que vendera Angra 1 para o país. Logo após a posse de Geisel, os EUA suspenderam a exportação de urânio enriquecido para Angra 1, já acertada pela Westinghouse. As obras da usina estavam sempre atrasadas e o Brasil teve que importar urânio da África do Sul para a usina. 

O Governo Carter tratou logo de assinar o “Ato de Não Proliferação” que proibia a venda de qualquer material nuclear para países, como o Brasil, não signatário do Tratado de Não – Proliferação Nuclear (TNP), de 1968. A indústria nuclear norte-americana começava a registrar as primeiras quedas na exportação de reatores. 

O agravamento da crise do petróleo foi usado pelo governo Geisel como forte argumento na   propaganda oficial sobre a suporta necessidade de comprar outras usinas nucleares. Desde a década de 60ª indústria nuclear alemã vislumbrava realizar negócios com o Brasil. Mas foi em 1974 que os dois países iniciaram conversações sob veementes protestos dos EUA. 

Na Alemanha, o movimento antinuclear pressionava o Governo com inúmeras críticas ao Programa de Desenvolvimento Atômico. Em 1975, cerca de dois mil cientistas alemães assinaram um manifesto contra a política nuclear governamental. No dia 27 de junho de 1975, o Governo Geisel assinou em Bonn o Acordo de Cooperação no Campo do Uso Pacífico da Energia Nuclear. Sob o controle da Agência Internacional de Energia atômica (AIEA), Brasil e Alemanha festejaram o “Acordo do século”. E hoje, festejar o quê? 

LEIA: “Bomba atômica! Pra quê? Brasil e Energia Nuclear – Editora Lacre – Tania Malheiros -

(FOTOS: ACERVO ABDAN - E FOTO DO BLOG - NO METRÕ EM 2023 - PROPAGANDA ENGANOSA) 

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quinta-feira, 26 de junho de 2025

Césio-137: exonerado físico do Centro Regional de Goiânia, que descobriu o acidente; pastor substitui

 


O novo coordenador do Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (Goiânia), da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), é o pastor Almir Aniceto de Souza Filho, lotado no escritório do órgão, em Brasília. Almir Aniceto foi nomeado pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, por solicitação do presidente da CNEN, Francisco Rondinelli. Almir Aniceto substitui o físico Walter Mendes Ferreira, que descobriu o acidente com uma cápsula de césio-137, em setembro de 1987. O acidente de Goiânia, como ficou conhecido, deixou quatro mortos e dezenas de contaminados, além de seis mil toneladas de rejeitos radioativos.  

O Blog buscou informações junto ao MCTI e a CNEN sobre o motivo da exoneração de Walter e a nomeação de Almir Aniceto. A decisão é “prerrogativa do presidente da CNEN”, afirmou a Comissão.  O Blog também tentou informações sobre a experiência de Almir Aniceto, capazes de credenciá-lo para exercer cargo tão relevante, e os seus planos para a o Centro Regional que demanda monitoramento constante por armazenar os rejeitos do maior acidente radiológico do mundo. “Com a transição de gestão, serão analisados os objetivos, metas, desafios e principais questões a serem enfrentadas no âmbito da unidade”, informou a Comissão. Também tentou-se entrevistar Almir Aniceto, sem resposta. 


No Diário Oficial da União, no dia 26 de janeiro do ano passado, consta que Almir Aniceto foi designado pelo MCTI para exercer a função comissionada executiva de Chefe do Escritório de Brasília, código FCE 1.02, do Gabinete da Presidência CNEN. Um ano e meio depois, pela Portaria MCTI No 437, de 10/06/2025, foi designado “a substituir o coordenador nos afastamentos, impedimentos legais ou regulamentares do titular e na vacância da função comissionada executiva”. A CNEN finalizou em nota que o seu compromisso é “buscar a melhor forma de conduzir a gestão, com foco na eficiência institucional, no fortalecimento das áreas técnicas e no alinhamento às diretrizes estratégicas da CNEN”. 

O físico Walter Mendes Ferreira confirmou sua exoneração do cargo, mas preferiu não entrar em detalhes. O Blog apurou que ele poderá permanecer na Comissão exercendo atividades na área de segurança, entre outras. A exoneração do coordenador causou espanto. Afinal, alguns especialistas consultados comentaram que é preciso muita experiência para ter êxito quando o assunto é a administração de um depósito com toneladas de material radioativo, ações judiciais e um constante relacionamento com o governo e as comunidades locais. 

DESCOBRIU  E EVITOU TRAGÉDIA MAIOR 

Chamou a atenção mundial o acidente ocorrido com uma cápsula de césio-137, em Goiânia (GO), que em setembro deste ano completa 38 anos. O BLOG noticiou com exclusividade no ano passado que o acidente foi descoberto por acaso por um físico natural de Presidente Prudente, interior de São Paulo, que no dia 29 de setembro daquele ano participava de comemoração familiar na cidade. Aos 29 anos, Walter Mendes Ferreira, na época, trabalhador autônomo, comemorava o aniversário do pai quando foi acionado por um amigo médico, intrigado com o caso de duas pessoas internadas na região, com problemas e diagnóstico desconhecidos; diarreia, dor de cabeça, febre e queda de cabelos. O médico soube do caso em jantar na semana anterior, com amigos do setor da saúde. Walter, então, entrou no caso, sem ter a menor ideia do que se tratava. No mesmo dia, descobriu a origem, o furto do cilindro com o césio-137, no Instituto de Radioterapia em Goiânia, o local do ferro-velho para onde o material fora levado, e tudo mais. Uma de suas decisões mais importantes, impediu que bombeiros levassem o cilindro com o material radioativo para ser atirado no Rio Capim Puba. Ao mesmo tempo, descobriu que um detector de radiação estava na unidade da Nuclebras, na região, onde a estatal realizava prospecção de urânio. As informações estão registradas em relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). 

HOJE, REPRODUZIDIMOS A ENTREVISTA CONCEDIDA PELO FISICO NO ANO PASSADO. DEPOIMENTO – EXCLUSIVO - 

Físico Walter Mendes Ferreira - Coordenador do Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro Oeste, Unidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em Goiás - 

“Falo para você sobre o que ocorreu em Goiânia há 37 anos, um acidente com a violação de uma fonte de radioterapia com césio 137. Minha história vinculada ao acidente é um caso interessante. Eu tinha 29 anos.  Estava de passagem por Goiânia, quando fui chamado por um amigo da Vigilância Sanitária para verificar se uma peça que estava na vigilância sanitária para saber se era radioativa ou não. Esse amigo me dizia que duas pessoas haviam levado esse material e colocado sobre uma cadeira na Vigilância Sanitária e que a peça era o artefato que estava causando mal a toda a família e que algumas pessoas estavam internadas no hospital de doenças tropicais. O nome dele era Jadson de Araújo Pires, diretor da fundação estadual do meio ambiente. 

Ele me relatou que no final de semana passado em uma reunião com alguns amigos entre eles um médico do hospital de doenças tropicais um médico lhe contou que havia onze pessoas internadas com vômito, febre, diarreia e perda de cabelo e me perguntou se podia ser radiação. Eu disse a ele que isso acontece com altíssimas doses de radiação. Eu não acreditava que em Goiás havia material para esse tipo de coisa e assim foi feito. E ele me disse que ia manter contato com um médico, dr. Alonso Monteiro e me ligaria relatando o que havia ocorrido e assim foi feito. 

Isso ocorreu no dia 29 de setembro de 1987, por volta das 8h30 da manhã, quando o Dr. Alonso me ligou dizendo a mesma coisa: que as pessoas estavam, com vômito, febre e diarreia e ele não conseguia fazer o diagnóstico sobre de qual doença tropical era.  E me perguntou novamente se podia ser radiação.  Eu disse que isso seria um caso muito sério. E que não havia material em Goiás para isso. E me perguntou se eu poderia checar uma peça de 23 quilos que estava na vigilância sanitária que havia sido deixada por uma senhora, a Dona Maria Gabriela e por um dos catadores que estava com ela.

Eu disse que poderia verificar sobre o material radiativo, mas, no entanto, necessitaria de um equipamento especifico, um detector para fazer a medida. Ele me disse então que havia um escritório de prospecção de urânio em Goiânia da Nuclebras e se ele conseguisse o detector eu poderia efetuar essa medida. Ele me disse que dois veterinários da vigilância Sanitária me procurariam para ir até o escritório da Nuclebrás e assim foi feito. O que ocorreu é que a uns 70 a 80 metros de distância com o detector ligado casualmente verifiquei que o detector a essa distância já dava sinal da presença do material radioativo bem acima do back ground. Eu achei que o detector estava com defeito. Retornamos ao escritório da Nuclebrás e pedimos ao chefe que me emprestasse um outro detector que estivesse corretamente calibrado. 

Retornei novamente ao local e com o detector ligado no mesmo ponto ele saturou a medida. Tecnicamente isso significaria que os dois estavam com defeito ou eu estava num campo de radiação muito intenso. Fiquei com segunda opção. Nessa segunda vi que havia um caminhão de Bombeiros com três integrantes que estavam saindo com essa peça envolta num saco plástico que, segundo um deles, iriam jogar no Rio Capim Puba. Eu disse para eles, deixa esse material porque acho que é radioativo e eu preciso saber de onde veio esse material. Por sorte, os dois veterinários haviam anotado os endereços das duas pessoas que haviam levado o cilindro até o local.  

A Dona Maria Gabriela e o catador de papel do ferro velho, que moravam na parte central da cidade situado no setor norte. Eu dirigi até o local e me aproximando a um quarteirão do ferro velho o detector já dava sinal de presença de material radioativo. Eu fui diretamente ao ferro velho e perguntei a dois cantadores de papel, de onde havia sido retirado aquele cilindro. E eles informaram terem retirado o material de uma Clínica na Avenida Paranaíba com a avenida Tocantins, no instituto de Radiologia. Coincidentemente eu conhecia o Instituto que era o Instituto Goiano de Radioterapia. E perguntei pra eles se era o Instituto. Eles disseram exatamente. Perguntei quem havia levado o material para eles? Nós compramos de dois jovens da Rua 57.  

E como eu conhecia os médicos do hospital, perguntei a um deles o que havia acontecido com a Clínica e a fonte radiativa de Césio.  Fui informado por eles que uma fonte de cobalto havia sido transferida para um outro local já aprovado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear e havia deixado a fonte de césio 137 no antigo Instituto. Eu disse que provavelmente a sua fonte foi roubada. Eles disseram que era impossível. Fomos lá e fizemos uma monitoração e verificamos que não havia rastro de nenhum material radiativo e que o material havia sido roubado. Fiz contato com o secretário de saúde, avisei que era gravíssimo e perguntei se havia algum prospecto sobre a fonte de Césio, que havia sido importada em 1971. 

Me perguntaram se eu tinha contato com o pessoal do Comissão Nacional de energia nuclear. O Dr. José Júlio Rosental, diretor da CNEN foi avisado e foram tomadas as primeiras providências. No Palácio das Esmeradas, avisamos às autoridades sobre a situação gravíssima. Foi decidido que todos as pessoas contaminadas seriam levadas para o antigo estádio olímpico. Voltamos ao ferro velho e evacuamos o local. Havia ainda um ferro velho dois, que também foi evacuado. Nesse ferro velho dois morava a menina Leide com a família. Quase todo o material havia ficado com a própria família. Tudo estava contaminado. O Dr. Rosental chegou a Goiânia às 00:30 do dia 30 de setembro de 1987 e a Comissão passou a assumir todas as ações e responsabilidade pelo acidente.” 

MEMÓRIA OFICIAL DO ACIDENTE - 

A história que chocou a opinião pública não pode ser esquecida. Uma cápsula de césio-137 – substância radioativa componente de um aparelho usado no tratamento de câncer, de propriedade do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), foi deixada na antiga sede do já desativado instituto. De acordo com as notícias da época, no dia 13 de setembro de 1987, os catadores de papel Wagner Motta Pereira e Roberto Santos Alves entraram no local, retiraram o aparelho, abriram algumas partes e venderam uma delas, a que continha a cápsula com o césio-137, para Devair Alves Ferreira, dono de um ferro-velho. Ao arrombar a cápsula, a golpes de marreta, Devair liberou o césio, um pó brilhante, parecido com purpurina. 

A cápsula com o césio 137 passou de mão em mão, em várias casas de família.  Por fim, foi levada de ônibus à Vigilância Sanitária por Maria Gabriela Ferreira, mulher de Devair. Ela suspeitou que os problemas de saúde da sua família tivessem alguma relação com o equipamento. O então presidente da República, José Sarney, mandou prender os culpados pelo acidente e visitou dez pessoas contaminadas, internadas no Hospital Geral do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) em Goiânia. O diretor-geral da Polícia Federal, Romeu Tuma, anunciou a abertura de inquérito. 

O presidente da CNEN, Rex Nazaré, admitiu a necessidade de rever as normas de licenciamento e fiscalização de instituições de Medicina Nuclear o país. O ferro-velho e as moradias dos pacientes mais contaminados foram demolidos. O Exército deslocou pessoas para região. Funcionários da CNEN ainda sem saber a dimensão do acidente, não tomaram precauções de segurança ao medirem a radiação: usavam calça jeans, tênis e sapatos. Os médicos Orlando Alves Teixeira, Criseide Castro Dourado e Carlos Bezzerril, sócios-proprietários do Instituto de Radioterapia; e o responsável técnico do instituto, físico hospitalar Flamarion Barbosa Coulart, foram indiciados pela Polícia Federal (PF). 

Na CNEN, só houve um indiciado: o chefe do Departamento de Instalações Nucleares e Materiais Nucleares, físico José Rosental. Mais tarde, a Procuradora da República solicitou a exclusão de Rosental do caso e a Justiça acolheu o pedido. Enquanto a CNEN afirmava que o caso estava sob controle, a cada dia apareciam outros focos de contaminação. No dia 23 de outubro de 1987 ocorreram as duas primeiras mortes. A menina Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, filha de Ivo Alves Ferreira e sobrinha de Devair, foi uma das quatro vítimas fatais. Com as mãos contaminadas, Leide havia comido um pedaço de pão. Ela teve ulcerações na língua, boca e garganta, e lesões internas. A segunda vítima foi a tia da menina e mulher de Devair, Maria Gabriela, de 38 anos. 

Ambas morreram no Hospital Naval Marcilio Dias, no Rio de Janeiro, onde foram internadas com outros contaminados.  No dia 27 de outubro daquele ano morreu a terceira vítima: Israel Batista dos Santos de 22 anos, que trabalhava no ferro-velho e ajudara Devair a abrir o aparelho. No dia seguinte, morreu o empregado do ferro-velho Admilson Alves de Souza, de 18 anos. O catador de papel Roberto Santos Alves, de 21 anos, sobreviveu, mas teve o antebraço amputado por causa das lesões provocadas pela contaminação. O medo da contaminação levou a uma atitude violenta os moradores da vizinhança do Cemitério-Parque, em Goiânia, onde a menina Leide foi sepultada. Eles atiraram pedras e pedaços de cruzes de concreto contra o cortejo, em protesto pela escolha do local para enterrar as vítimas da contaminação radioativa. 

O presidente da CNEN, Rex Nazaré Alves culpou os donos da clínica, que não teriam comunicado à Comissão a desativação do aparelho radiológico. Os donos, por sua vez, culparam os catadores de papel e a própria CNEN, que deixou de fiscalizar o equipamento na antiga sede do instituto. Cerca de 112 mil pessoas que temiam estar contaminadas foram examinadas durante dois meses no Estádio Olímpico de Goiânia. Para atender às vítimas do acidente, o governo de Goiás criou a Fundação Leide das Neves. Segundo a médica Maria Paula Curado, que presidiu a Fundação naquela época, 244 pessoas estavam realmente contaminadas e 50 delas tiveram que receber tratamento hospitalar. Entre as 50 pessoas, 28 tiveram lesões e queimaduras causadas pela radiação. Desse grupo, 10 pacientes foram submetidos a cirurgias plásticas reparadoras, das quais oito sofreram síndrome aguda da radiação, depressão da medula, hemorragias e distúrbios de comportamento. No grupo de pessoas mais graves, cinco pessoas contraíram câncer e duas estavam em tratamento, naquela época. “Mas não existe um exame sequer capaz de provar que o câncer foi provocado pelo acidente”, avisava a médica. Devair morreu em maio de 1994 de insuficiência renal e hepática, conforme atestado médico. 

LIXO RADIOATIVO - Além de famílias destroçadas e outras que lutam na Justiça para serem indenizadas, o acidente deixou um grande problema para o futuro: seis mil toneladas de rejeitos radioativos armazenados no depósito em Goiânia com atividade radioativa por pelo menos 300 anos. Nesse total, estão 1.343 caixas metálicas; 4223 tambores de 200 litros; 10 contêineres marítimos; e oito recipientes de concreto. 

FOTO: CNEN – ARQUIVOS – 

BLOG - Leia no BLOG, em 16/9/2021: "Acidente com capsula de césio-137 em Goiânia faz 34 anos. Foi batismo de fogo, deixou mortos, medo e seis mil toneladas de lixo radioativo”; em 28/09/2021: “Acidente com césio-137 em Goiânia, 34 anos depois”, por Célio Bermann. 

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segunda-feira, 23 de junho de 2025

Brasil participa de exercício coordenado pela AIEA e Romênia, com 76 Estados Membros para avaliar a emergência a um grave acidente em usina nuclear

 


O Brasil participará, nesta quarta e quinta-feira (24 e 25/6) de um exercício de dois dias coordenado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, na Áustria,  e pelo governo da Romênia, envolvendo 76 Estados-Membros e 11 organizações internacionais, com o objetivo de testar a resposta global de emergência a um grave acidente simulado em uma usina nuclear. O evento terá a presença de técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). 

Baseado em um exercício nacional conduzido em um Estado-Membro da (AIEA), a Romênia, o Exercício de Nível 3 da Convenção (ConvEx-3) foi elaborado para avaliar a resposta a emergências em casos de emergência nuclear ou radiológica grave, independentemente de sua causa. O exercício da AIEA visa avaliar a consistência das ações de resposta empreendidas por “Estados e organizações internacionais, a fim de identificar tanto as boas práticas quanto aquelas que precisam ser fortalecidas”, informou a Comissão. 

O exercício de larga escala é realizado a cada período de três a cinco anos para testar os mecanismos de resposta a emergências em vigor que cumprem as obrigações especificadas na Convenção sobre Notificação Antecipada de Acidentes Nucleares e na Convenção sobre Assistência em Caso de Acidente Nuclear ou Emergência Radiológica. 

O cenário do exercício foi desenvolvido pela SNN Nuclearelectrica (SNN) e pela Comissão Nacional de Controle de Atividades Nucleares (CNCAN), órgão regulador nuclear da Romênia. A participação de organizações internacionais é coordenada pelo Comitê Interagências sobre Emergências Radiológicas e Nucleares (IACRNE), composto por 18 organizações internacionais. 

(FONTE – CNEN – FOTO- ABDAN ) – 

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sábado, 21 de junho de 2025

Ministério Público Federal arquiva inquérito sobre sumiço de duas ampolas com urânio enriquecido. "Não houve crime; foi extravio"

 


O Ministério Público Federal arquivou o inquérito que apurava o sumiço de duas ampolas, cada uma com oito gramas de urânio enriquecido, ocorrido em julho de 2023, na Fábrica de Combustíveis Nuclear (FCN), da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende (RJ), conforme o blog divulgou em 16 de agosto daquele ano. “A investigação concluiu que se tratou de erro operacional interno, sem qualquer consequência externa”, divulgou a Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal (ASCOM). 

“Estas ampolas são pequenos tubos contendo amostras dos cilindros com o material de hexafluoreto de urânio (UF6) utilizado na fabricação dos combustíveis das Usinas Nucleares de Angra 1 e Angra 2. São amostras testemunho para a comprovação do material contido nos respectivos cilindros”, que pertenciam “ao lote testemunho da 15ª recarga da usina nuclear Angra 2, com 8 gramas de urânio enriquecido a 4,25% em cada unidade”, confirmou a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), na época. 


Por que se levou tanto tempo para finalizar o inquérito, sem nenhuma informação à imprensa? Afinal, onde pararam as duas ampolas? “Foram extraviadas quando a INB realizava a transferência interna de ampolas do tipo P10 entre áreas de armazenamento na FCN”, informou agora a ASCOM. “Não houve crime, dano ambiental, nem qualquer risco à população no episódio citado”, completou, dois anos depois da divulgação do caso. Vale lembrar que foi a CNEN que descobriu o sumiço do material, durante uma contagem de rotina, fato omitido ao órgão pela INB. Por este motivo, a INB, chegou ser chamada a atenção em reunião na Comissão., por este motivo. 

TENTATIVA DE ENVOLVER O GOVERNO LULA 

Na semana passada, quando personagens da extrema direita tentaram usar politicamente o caso das ampolas, contra o governo Lula, induzindo que o material poderia ter ido para o Irã, o Blog alertou que se tratava de Fake News. Ao mesmo tempo, solicitou informações a ASCOM/CNEN sobre o resultado das investigações e recebeu este retorno: 

“A CNEN esclarece que eventuais informações sobre o resultado das investigações devem ser solicitadas diretamente à Polícia Federal, responsável pelo inquérito. De toda forma, o episódio mencionado é tecnicamente irrelevante em relação à questão do Irã, uma vez que as ampolas continham apenas uma quantidade ínfima de urânio enriquecido — poucas gramas, utilizadas exclusivamente para fins de amostragem em testes laboratoriais, com teor de enriquecimento muito baixo. A título de comparação, para a fabricação de um artefato nuclear seriam necessários, no mínimo, 25 kg de urânio altamente enriquecido. Cabe destacar que todo material nuclear no Brasil é rigidamente controlado e rastreado, tanto pela CNEN quanto pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em conformidade com os acordos de salvaguardas internacionais aos quais o país está plenamente submetido”. 

AMPOLAS SUMIDAS - 

A ASCOM reiterou agora que as ampolas que foram extraviadas continham cada uma 8 gramas de hexafluoreto (UF6) de urânio enriquecido a 4,25%, “um nível que não possui margem de aplicação em uso bélico”, consta na nota divulgada dia 18/6/2025. “São amostras-testemunho para a comprovação do material contido nos respectivos cilindros”, acrescentou, conforme o Blog havia divulgado. 

E mais: “O Brasil é signatário de diversos instrumentos internacionais nos quais se compromete com a não proliferação de armas nucleares e a utilização exclusivamente pacífica das atividades nucleares no País. O urânio enriquecido no Brasil é destinado à geração de energia, atingindo um nível máximo 5% de enriquecimento. Para fins armamentistas, seriam necessários níveis de enriquecimento de urânio acima de 80% e em quantidades absolutas milhares de vezes maiores do que o material nuclear das ampolas”.  Óbvio. 

LEIA NO BLOG: 

16/08/2023 – Ampolas com urânio enriquecido somem da INB em Resende (RJ). Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e PF foram comunicados; 

17/08/2023 – Ampolas com urânio enriquecido continuam desaparecidas. CNEN quer explicações da INB, mas não pode multar a empresa. 

18/08/2023 – Ampolas com urânio enriquecido: INB não informou a CNEN, que descobriu o sumiço e reforça cobranças; 

23/08/2023 – Sumiço das ampolas om urânio enriquecido: Polícia Federal arrola 20 funcionários da INB; 

29/08/2023 – Ampolas sumidas com urânio enriquecido para Angra 2: há risco químico e podem provocar danos físicos. 

17/06/2025 – Sumiço de duas ampolas com urânio enriquecido, em julho de 2023, gera agora Fake News. 

(FOTOS: BLOG E ACERVO ENERGIA NUCLEAR) – 

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quinta-feira, 19 de junho de 2025

Com presidentes interinos o comando de empresas nucleares continua em modo de espera

 


O comando de empresas do setor nuclear continua em modo de espera. Há cerca de um mês, duas delas ainda estão sob a presidência interina: a Nuclebras Equipamentos Pesados (Nuclep), em Itaguaí (RJ), e a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), em Brasília. 

O presidente interino da Nuclep é o capitão de Mar e Guerra, Alexandre Vianna Santana; substituto do contra-almirante Carlos Henrique Silva Seixas. Na ENBPar, Miguel da Silva Marques, substitui Silas Rondeau Cavalcante Silva, que foi para o conselho da Eletrobras. 

Na Nuclep, o comando está cotado para continuar: na segunda-feira (16/6), militares da Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), marcaram presença na visita que fizeram às obras do Submarino Convencionalmente Armado com Propulsão Nuclear. 


Foram recebidos pelo presidente interino e percorreram o parque fabril da empresa para avaliar “possíveis adequações no layout da fábrica voltadas ao atendimento das demandas do Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha do Brasil (PROSUB)”. 

De certa forma, a Eletronuclear também está em compasso de espera, pois o presidente, advogado Raul Lycurgo, não foi reconduzido ao posto, embora seu mandado tenha encerrado recentemente. 

Outra incógnita envolve a direção da estatal federal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), comandada pelo engenheiro elétrico por Adauto Seixas, indicado pelo senador Rodrigo Pacheco. Apesar de mencionado em diversas denúncias -, como a sua adesão do Plano de Demissão Voluntária PDV) – pelo grupo Folha, entre outras, ele continua no posto. 


Na época, o BLOG divulgou com exclusividade que Adauto estava tentando validar um contrato sem licitação com a empresa mineira GE21 Consultoria Mineral Ltda, em Belo Horizonte, para a avaliação de ativos minerais estratégicos, como terras raras e urânio, estimado em R$ 1 milhão. Adauto assinou o contrato no dia 25/4 e pressionava quatro diretorias que se negavam a fazer o mesmo. Na ocasião, ele fez uma visita praticamente de despedida à unidade da INB, em Caldas (MG), onde atuou por décadas. E onde até hoje são registrados problemas de contaminação radioativa. Depois da visita, nada mais aconteceu, que se tenha noticia. Tudo indica que os ventos da política sopram favoráveis ao presidente da INB

INDICADOS POLITICOS - 


Entretanto, nos bastidores do setor os comentários dão conta de que os nomes serão trocados ou confirmados após o feriadão, enquanto se acertam indicados por políticos. 

Neste meio tempo, as empresas tentam fazer o que for possível para evitar problemas, principalmente em relação aos funcionários, como é o caso da Eletronuclear, que encerraram a greve de 16 dias, em 8 de abril, apostando nas promessas que incluem a manutenção de todo o pessoal em seus postos, apesar de várias ameaças feitas por Lycurgo. 

Procurador federal desde 2002, cedido à Eletronuclear, ele não desmentiu as notícias de que que deixaria o cargo até o final de abril, nem que fez o comunicado ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que estava na China. Agora, todos estão aguardando o futuro, bem próximo.

(FOTOS: Blog, Sindicatos e acervos das empresas) – 

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