Até que ponto a tomada pela Rússia, no dia 4 de março, da central nuclear de Zaporizhzhia – a maior da Europa, localizada na Ucrânia, pode afetar o setor nuclear? O presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, estatal responsável pela gestão de Angra 1 e Angra 2, em funcionamento – e Angra 3, em obras – acha que “países que constroem usinas nucleares com a cooperação da Rússia, com a Turquia e Finlândia, por exemplo, poderão reconsiderar esses compromissos de longo prazo, em parte porque os russos podem não ser capazes de financiá-los, mas também por razões de segurança nacional”.
Na avaliação de Leonam, o ataque russo à central Zaporizhzhia, “desencadeou eventos desestabilizadores que, na pior das hipóteses, poderiam levar a um acidente nuclear”. No entanto, os governos europeus e a indústria nuclear – inclusive da Ucrânia – intervieram para que isso não acontecesse, tomando medidas de segurança técnica e proteção física.
Além disso, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) pediu que a segurança nas usinas nucleares da Ucrânia fosse mantida em sete áreas específicas. Para Leonam, essa é uma mensagem que pode servir de base para futuras negociações multilaterais, de modo a lidar com ameaças de guerra a esse tipo de instalação.
Para o presidente da Eletronuclear, é mais provável que os governos europeus
respondam a uma maior preocupação com suas usinas nucleares não fechando-as ou
cancelando projetos de novas unidades, mas reforçando sua defesa nacional
contra uma invasão russa. “Ademais, os governos e a indústria devem revisar
novamente o estado de preparação das instalações nucleares à luz de novas
informações sobre o que acontece na Ucrânia”. As opiniões do presidente da
Eletronuclear estão em artigo publicado ontem no Linkedin.
USINA FLUTUANTE -
Vale lembrar que em setembro do ano passado, a Eletronuclear e a Rosatom, estatal de energia atômica da Rússia, assinaram um memorando de entendimento durante a Conferência Geral da AIEA, Viena, na Áustria, para a expansão futura de negócios, especialmente no atendimento à necessidade de ampliação da geração nucleoelétrica no Brasil.
O memorando previa a troca de informações para se desenvolver uma cooperação em áreas como a construção e manutenção de usinas nucleares de grande e pequena potência no Brasil, extensão da vida útil de usinas, soluções nas etapas iniciais e finais do ciclo de combustível nuclear e o tratamento de combustível usado, informou a Eletronuclear na época.
Com o acordo, as duas empresas também buscavam construir uma parceria em projetos de reatores modulares terrestres e flutuantes; estudos sobre a economia do hidrogênio; gestão de pesquisa, desenvolvimento e inovação; e o aumento da aceitação pública da energia nuclear, entre outras frentes. A partir de agora, com a ameaça russa sobre a central nuclear na Ucrânia, difícil avaliar qual será o destino do memorando assinado em setembro.
FOTO – Central Nuclear de Zaporizhzhia – Crédito: Poder 360 -
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É tudo tão complexo neste mundo. Dizer o quê? Ao menos, temos a jornalista Tania Malheiros pra explicar o que ainda é possível ser explicado.
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