segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Medicina Nuclear: reator para salvar vidas, verbas ficam nas promessas

 


Mais um ano começando e o governo mantém na estaca zero o programa de construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que tornaria o Brasil autossuficiente na produção de radioisótopos (insumos para a produção de radiofármacos, medicamentos com radiação para combater e diagnosticar o câncer). 

Sem verbas, o reator para salvar vidas tem servido apenas como promessas de governo feitas, por exemplo, pelo Ministério de Minas e Energia, que divulga a importância do projeto, inclusive em eventos no exterior. Para se ter ideia, cerca de dois milhões de procedimentos são feitos por ano em clínicas particulares e conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), em pacientes com câncer, que necessitam dos medicamentos. 

Por não ter o RMB, o Brasil precisa importar os insumos fabricados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).  A CNEN mantém o projeto na vitrine de seu site. 

Enquanto isso, cresce o lobby para a privatização da produção, que cairia nas mãos da iniciativa privada nacional e internacional, elevando os preços do tratamento. Em dezembro avançou a discussão sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC- 517), na Câmara dos Deputados, que propõe a flexibilização do monopólio da União na fabricação de radiofármacos. A PEC é do senador Álvaro Dias (Podemos-PR). 

Os radioisótopos são importados de países como a África do Sul, Holanda e Rússia, pelo IPEN/SP). Com o RMB, além de não precisar importa, o Brasil também poderia exportar os insumos. Em agosto, por falta de verbas para a importação dos radioisótopos, o tratamento de milhares de pacientes foi interrompido gerando uma grave crise sem precedentes. Com a liberação dos recursos, o abastecimento se normalizou. Mas veio à tona o lobby para a quebra do monopólio da produção dos medicamentos. 

“O que justifica viabilizar esse empreendimento da ordem de U$ 500 milhões? Ser o principal empreendimento de base científica e tecnológica da área nuclear do país e permitir dobrar imediatamente o número de procedimentos anuais realizados em medicina nuclear; garantir a estabilidade no fornecimento de radioisótopos; contribuir para ampliação do número de clínicas e hospitais que oferecem serviços de medicina nuclear; e promover economia de mais de U$15 milhões/ano com custos de importação de insumos”. São alguns dos pontos que o coordenador do projeto, José Augusto Perrota, tem destacado. 

Ele aponta que a situação atual do setor é de muita preocupação: “O IPEN/CNEN-SP já teve mais de 1600 funcionários e hoje são menos que 600 por falta de reposição das vagas. Os laboratórios estão encerrando atividades e a manutenção e transferência do conhecimento estão comprometidas. O desenvolvimento do RMB sente por demais essa perda das equipes técnicas. Por sua vez, o interesse do setor privado é comercial. Não vai se interessar na pesquisa ampla”. 

CRÍTICAS - 

São relevantes as críticas à privatização da produção dos radioisótopos.  Em artigo para o blog, publicado em 16/12/21, o deputado federal Alexandre Padilha (PT/SP), escreveu: “A tramitação da PEC segue no Congresso e qualquer marco legal em relação aos radioisótopos deveria ter como ponto central o direito à saúde e à vida, estabelecidos com a nossa Constituição, que determina que o direito à saúde da população não deve ser algo movido aos interesses do mercado. Pode haver parceria privada no desenvolvimento e tecnologia, mas desde que liderada pelo interesse público, pelo SUS. Vamos permanecer na luta para que o direito seja garantido”.  

O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, também alertou que a quebra do monopólio causará danos gravíssimos. “Entendemos que poderá trazer irremediáveis prejuízos à saúde da população brasileira, além de afetar o desenvolvimento cientifico e tecnológico nesta área tão estratégica da medicina nuclear, a comunidade cientifica gostaria de ser ouvida para que possa apresentar seus argumentos contrários a aprovação desta PEC”. O que não ocorreu até agora. 

FOTO: Maquete do RMB - 

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sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Tambores danificados com material radioativo estão sendo reembalados em Caldas (MG)

 


Cerca de 1.500 tambores danificados, contendo Torta II (material radioativo), estão sendo reembalados na unidade mineira de Caldas, da Indústrias Nucleares do Brasil (INB). A operação começou na segunda-feira (10/1). Um leito do hospital local, destinado à descontaminação, foi contratado em caso de eventual acidente durante o trabalho. No hospital, houve também treinamento de proteção e de atendimento à emergência radiológica. O trabalho deve durar de três a quatro meses e está sendo acompanhado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Em junho do ano passado, o blog divulgou a primeira parte dessa operação: a substituição das coberturas (telhados) dos sítios de Torta II (subproduto de areias monazíticas contendo urânio e tório), na área AA-171 da unidade de Caldas. Documento obtido pelo blog mostra que havia riscos de disseminação radioativa via contaminação do solo, água de chuva e ar. O local abriga um total de 15 mil tambores com Torta II, cobertos por telhados que estavam danificados pelo tempo, chuvas e ventos. Todos foram trocados. O Ministério Público de São Paulo e de Pouso Alegre acompanham o complicado caso. 

ANTPEN NA LUTA 

O material é herança maldita da extinta Nuclemon, em São Paulo, onde durante décadas o Brasil operou com material radioativo das areias monazíticas subtraídas do litoral da Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo. No passado, a China esteve prestes a comprar o estoque, mas as negociações não frutificaram. A INB ainda não decidiu o destino final do material radioativo: toneladas estão estocadas em depósitos em Interlagos e Botuxim (SP). Tentou transferir para Caldas, mas a prefeitura, políticos e ambientalistas impediram. 

Dezenas de ex-trabalhadores da Nuclemon, que durante anos ficaram doentes pela exposição aos materiais radioativos da Nuclemon, lutam da Justiça até hoje para receber as suas indenizações e para manter um plano de saúde, constantemente cortado pela INB. Em 2006, eles fundaram a Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear (ANTPEN) em busca de seus direitos. Muitos já morreram, a maioria de câncer. “Mas a luta continua. Não vamos desistir nunca. Vamos lutar até pelos que já morreram, sem nenhuma reparação do governo”, comentou José Venâncio, presidente da ANTPEN.

FOTO: Registro aéreo da Unidade em Caldas -

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quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Governo reitera estudos visando novas centrais nucleares

 


O Ministério de Minas e Energia (MME) retoma a pesquisa para definir os possíveis locais onde serão instaladas as plantas nucleares previstas no Plano Nacional de Energia (PNE-2050). O Ministério espera concluir os estudos nos próximos 24 meses, quando então o governo definirá os possíveis locais. Essas informações foram divulgadas pelo blog, no dia 8 de julho do ano passado, com base no XII Seminário Internacional de Energia Nuclear (XII SIEN), realizado na época. Hoje, quinta-feira (13/01/2022), o MME anuncia a celebração de convênio de cooperação com o Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel) para estudar locais para a implementação de novas usinas nucleares no Brasil. É quase a mesma notícia divulgada duas vezes em pouco tempo. 

No início do ano passado foi divulgado que o MME estava prestes a destinar recursos de pesquisa e desenvolvimento para a conclusão dos estudos visando o mapeamento de novos sítios para a implantação de futuras usinas nucleares no Brasil. O prazo para a liberação dos recursos era de 60 dias, mas nada foi informado depois. 

Um dos lugares mais apontados como de interesse do governo para a instalação de uma usina nuclear é  Itacuruba, em Pernambuco, no Nordeste. “Eles vão receber um sonoro não”, avisou o escritor   Ailton Krenak, uma das mais importantes lideranças indígenas, em entrevista ao blog, no dia 19 de agosto do ano passado. Articulação Antinuclear, que reúne dezenas de entidades civis no país, continua promovendo diversas manifestações contra a intenção do governo de construir novas usinas, como as já anunciadas para o Nordeste. 

Contudo, como parece, a decisão do governo está em andamento. Especialistas projetam investimentos de cerca de US$ 50 bilhões em um período de 30 anos, o que representa cerca de R$ 300 bilhões em três décadas, o equivalente a R$ 10 bilhões por ano, apenas para as novas plantas nucleares. 

Enquanto isso, o governo mantém as obras da usina nuclear Angra 3, com a promessa de que a central atômica será inaugurada em 2026. Angra 3 começou a ser construída em 1984, pelo acordo nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975. Já consumiu R$ 7 bilhões e precisa de mais R$ 15 bilhões para entrar em operação.  

FOTO: Maquete - Usina no Nordeste – 

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Central Nuclear: novas medidas para conter o avanço da variante ômicron

 


A rápida disseminação da variante ômicron levou a Eletronuclear a implementar novas medidas de combate ao coronavírus na central nuclear de Angra dos Reis e nas vilas residenciais da empresa, Desde o início desta quarta-feira (12/01), a companhia reduziu o número de colaboradores, próprios e contratados, em trabalho presencial na central nuclear. Parte dos profissionais da empresa voltou ao regime de tele trabalho. Permanecem na companhia apenas aqueles trabalhadores cuja presença física é essencial para a realização das atividades da organização, principalmente a operação das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, que estão em funcionamento. 

FOTO: Central Nuclear de Angra dos Reis - Divulgação ABDAN - 

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Brasil e Rússia: no roteiro, 800 toneladas de urânio e reator flutuante. Leia a entrevista exclusiva com o presidente da Rosatom na América Latina

 


A cooperação entre o Brasil e a Rússia na área nuclear – através da Corporação Estatal Rosatom - vem se fortalecendo com a assinatura de memorando abrangendo várias áreas:  projetos de construção de usinas nucleares de grande escala e pequenos reatores modulares de concepção terrestre e até flutuante e ciclo do combustível, por exemplo. Nesta entrevista exclusiva ao BLOG, o presidente da Rosatom na América Latina, Ivan Dybov, conta sobre o início das parcerias entre os dois países em 1994, e a cooperação com a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) para o fornecimento de cerca de 800 toneladas de urânio natural, através de várias licitações da estatal brasileira. Diz também que a corporação está no páreo para os projetos de novas usinas atômicas no Brasil. “A Rosatom possui a única frota mundial de quebra-gelos movida a energia nuclear, única usina nuclear flutuante do mundo e únicos blocos energéticos do mundo com reatores rápidos de nêutrons de nível industrial de potência”. Eis a entrevista: 

BLOG: Quando e como começou a cooperação da Rosatom com o Brasil? 

IVAN DYBOV – Com a assinatura de um Acordo entre o Governo da Federação Russa e o Governo da República Federativa do Brasil referente à cooperação na área da utilização pacífica da energia nuclear, em 15 de setembro de 1994. No dia 21 de julho de 2009, foi assinado um memorando de entendimento entre a Corporação Estatal "Rosatom" e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). 

BLOG: Como começou a parceria comercial? 

DYBOV: Com o fornecimento de produtos isotópicos para as necessidades da medicina nuclear brasileira, que continua a ser a principal área de cooperação entre nossos países no setor nuclear.  Agora, uma das áreas mais promissoras é o fornecimento de isótopos como lutécio e actínio. 

BLOG: Há cooperação no fornecimento de urânio? 

DYBOV: Em 2018-2020, a Corporação Estatal Rosatom, representada pela "Uranium One Group", ganhou várias licitações da empresa estatal brasileira Indústrias Nucleares do Brasil (INB) para o fornecimento de cerca de 800 toneladas de urânio natural. 

BLOG: Há cooperação na formação de conhecimentos? 

DYBOV: Nós também cooperamos ativamente no campo de formação do pessoal. Em particular, a Universidade Nacional de Pesquisa Nuclear (MEPhI) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) estão realizando programas educacionais em conjunto. Já neste ano acadêmico sete estudantes do Brasil vão estudar na Rússia com bolsas de estudo proporcionadas pela empresa "Rosatom" e agência federal da Rússia Rossotrudnichestvo. 

BLOG: A Rosatom e a brasileira Eletronuclear assinaram memorando recentemente. Como foi? 

DYBOV: No âmbito da expansão da cooperação bilateral, no mês de setembro, durante a Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), a Corporação Estatal Rosatom e a empresa operadora brasileira de usinas nucleares Eletronuclear assinaram um memorando de entendimento. O novo memorando abrange uma vasta gama de áreas de cooperação, incluindo os novos projetos de construção de usinas nucleares de grande escala; pequenos reatores modulares de concepção terrestre e flutuante; soluções para as etapas inicias e de conclusão do ciclo do combustível nuclear, bem como para a gestão do combustível nuclear usado; desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear avançado/inovador. 

BLOG: O que mais? 

DYBOV: A área de processamento (reciclagem) de materiais nucleares; assistência ao longo do ciclo de vida de novas usinas nucleares, incluindo a operação, assistência técnica e descomissionamento; prolongamento da vida útil das unidades nucleares; desenvolvimento de tecnologias do hidrogênio; implementação das melhores práticas de gestão P&D+I no setor nuclear, metodologias para acelerar a implementação de projetos de desenvolvimento tecnológico, bem como melhores práticas para aumentar a aceitação pública da energia nuclear. 

BLOG: Quais os outros pontos importantes do memorando? 

DYBOV: O memorando prevê também o desenvolvimento da cooperação em projetos conjuntos na área de educação e capacitação de profissionais, aumento da aceitação pública da energia nuclear e outras áreas. 

BLOG: Como e quando? 

DYBOV: Tendo em conta a intenção do Brasil de desenvolver o seu setor nuclear nacional e construir novas usinas nucleares, surgem novas perspectivas para a expansão da cooperação numa série de áreas. Em 2019, a TENEX (parte do circuito de gestão da Rosatom) e a empresa estatal brasileira Indústrias Nucleares do Brasil (INB) assinaram uma carta de intenções, na qual confirmaram a sua disposição para implementar projetos conjuntos na área do ciclo do combustível nuclear. Neste momento, estamos analisando com os nossos parceiros brasileiros as possibilidades de cooperação integrada na área do ciclo de combustível nuclear, inclusive no campo de mineração de urânio. 

BLOG: Interesses em Angra 3...

DYBOV: Em junho de 2020, o Brasil confirmou as suas intenções de concluir a construção da central nuclear "Angra 3" segundo o modelo EPC e de construir um parque de novas centrais nucleares em parceria com o setor privado. A Rosatom está interessada em cooperar com o Brasil numa vasta gama de áreas e está pronta para explorar as perspectivas da sua participação na construção de novas centrais nucleares, tanto de grande potência, como de baixa potência - no território brasileiro. 

BLOG: Conte sobre experiência em prorrogar a vida útil de usinas nucleares. 

DYBOV:  A Rosatom tem experiência na modernização e na extensão da vida útil de usinas nucleares tanto na Rússia, como também no exterior, especialmente na Armênia e Bulgária. A usina nuclear da Armênia está agora passando pelos trabalhos finais de modernização para estender a vida útil da instalação até 2026. Além disso, de acordo com cálculos preliminares, a usina nuclear poderá funcionar até 2036. O projeto envolveu trabalhos extensos no valor de cerca de 200 milhões de dólares, incluindo a entrega de novo equipamento, que foi instalado em um prazo curto. A experiência da Rosatom em modernização e extensão da vida útil das instalações nucleares na Federação Russa é uma base sólida para uma implementação exitosa de tais projetos. 

BLOG: E na gestão na área de combustível? 

DYBOV? A Rosatom tem uma vasta experiência na fabricação de combustível nuclear. De um modo geral, em 2020, a quota da Rosatom no mercado mundial de fabricação de combustível nuclear constituiu 17%. Além disso, no âmbito da cooperação com a empresa "Framatome", o combustível e os componentes feitos de urânio regenerado, que são produzidos na Rússia, são fornecidos às usinas nucleares da Europa Ocidental. Estamos dispostos a compartilhar tecnologias e conhecimentos com os nossos parceiros brasileiros e já temos experiência de cooperação nesta área. E, se no futuro, a Rosatom vier a participar em projetos de construção de novas instalações nucleares no Brasil, será possível falar em expansão da cooperação na área do ciclo do combustível nuclear. 

BLOG: Como assim? 

DYBOV: Caso a Rosatom seja escolhida como parceira para a construção de novas usinas nucleares de grande ou pequena potência no Brasil, será uma cooperação na área de produção de combustível para as novas instalações. 

BLOG: Quais as lições aprendidas com o acidente de Chernobyl? 

DYBOV: Os eventos ocorridos na usina nuclear de Chernobyl em 1986 mostraram à indústria nuclear global que é necessário eliminar a própria probabilidade de tais acidentes o mais rápido possível, devido às mudanças nos fenômenos físicos naturais e nos processos que ocorrem no link técnico entre o reator e os sistemas de segurança. Foi necessário criar e mostrar para todos os participantes do processo de uso da energia atômica, desde a fase de desenvolvimento de projetos até a fase de descomissionamento de uma usina, uma filosofia de atividades profissionais baseada nos princípios da cultura de segurança. Esses princípios consistem na prioridade de garantir a segurança e esforços constantes para garantir e melhorá-la. 

BLOG: O que foi feito? 

DYBOV: Para cumprir essas tarefas, criamos um conceito de cultura de segurança e o enchemos de objetivos e ações práticas concretas para alcançá-los. Com base nesta abordagem, todos os principais documentos normativos internacionais e nacionais que regulam as questões de segurança no âmbito da energia nuclear e proteção contra radiação foram desenvolvidos novamente. Em um prazo muito curto foi realizada uma série de trabalhos nos reatores RBMK. Além disso, foram formuladas as recomendações e regulamentos mais rigorosos da AIEA. Em particular, foram tomadas as seguintes medidas: as características físicas de nêutrons do reator foram alteradas para valores seguros a través de alteração da composição da carga da zona ativa; foi garantido c controle contínuo de todas as características do reator por métodos modernos de cálculo e métodos de medições seguras diretas, e os métodos de controle estão sendo constantemente melhorados até agora; foi realizada uma série de mudanças de construção, que levaram a um aumento na velocidade e eficiência da proteção do reator até valores justificados considerando todas as reservas de engenharia de quantidades;  foi expandida a lista de sinais, ou seja, eventos, que levam à ativação de sistemas de segurança, foram introduzidas novas proteções de reator; foram introduzidos sistemas de diagnóstico do estado da planta do reator e seus equipamentos individuais, permitindo identificar possíveis problemas na operação logo no início do desenvolvimento deles, a um nível seguro desses problemas;  o desligamento ou intervenção de pessoal na operação dos sistemas de segurança é tecnicamente impossível; a máxima autoproteção interna da planta do reator contra o desenvolvimento negativo de processos físicos de nêutrons, processos termo-hidráulicos e outros processos é garantida devido às suas características físicas naturais. 

BLOG: Mudanças nos reatores? 

DYBOV: Como resultado das medidas técnicas de alta prioridade executadas, as características físicas do reator e dos sistemas de segurança foram alteradas. Por isso, os reatores RBMK já não podem ser considerados reatores do mesmo tipo que aqueles da usina nuclear de Chernobyl. Esta afirmação foi confirmada pela comunidade nuclear internacional no momento de desenvolvimento e análise dos relatórios de avaliação detalhada da segurança dos reatores RBMK realizados pelos especialistas da Federação Russa, Grã-Bretanha, Suécia, Finlândia e os Estados Unidos da América. Além disso, a estatal está atualmente implementando um projeto da primeira central nuclear terrestre de baixa potência com reatores da série RITM-200. Espera-se que ela seja comissionada na Rússia até 2028 na aldeia de Ust-Kuiga em Iacútia (uma república que entra na competência da Federação Russa).Por enquanto, a "Akademik Lomonosov" é a única central nuclear flutuante do mundo. Falando em projetos de baixa potência, que estão na fase de desenvolvimento, segundo os dados da AIEA, atualmente existem mais de 70, sendo que empresas dos EUA, China, Coreia do Sul, França e Argentina estão fazendo certos progressos no desenvolvimento destas soluções. 

BLOG: E as críticas dos ambientalistas? 

DYBOV: É importante entender que as centrais nucleares não causam qualquer dano ao meio ambiente, mas sim contribuem para a solução dos problemas climáticos. Em 2019 e 2020, o funcionamento da FNPPpermitiu evitar a emissão para a atmosfera de um equivalente que ultrapassa 300.000 toneladas de dióxido de carbono - CO2. Contudo, as centrais nucleares atualmente em funcionamento permitem reduzir as emissões de dióxido de carbono em 2 bilhões de toneladas por ano. É por esta razão que a energia nuclear é considerada uma energia "verde". 

ROSATOM POR IVAN DYBOV- 

A Rosatom está entre as dez maiores empresas da Rússia. A nossa equipe conta com mais de 275.000 empregados em mais de 300 empresas. A cota da energia nuclear no balanço energético da Rússia é superior a 20 %, graças a 38 blocos energéticos, que operam em onze usinas nucleares. A Corporação está realizando um programa de grande escala para a construção de usinas nucleares, tanto na Federação Russa, bem como no exterior. Atualmente, está construindo três novos blocos energéticos na Rússia, incluindo dois blocos energéticos na NPP Kursk-2 e o inovador reator rápido de nêutrons BREST-OD-300. O portfólio de 10 anos de pedidos no exterior da Rosatom inclui 35 blocos energéticos em 12 países em várias fases de implementação, incluindo no Egito, Turquia e China. Atualmente fornecemos combustível para 75 blocos energéticos em 16 países (incluindo a Rússia), o que significa que um em cada seis reatores do mundo funciona com o combustível produzido na corporação. 

A Rosatom ocupa 1° lugar no mundo em termos da quantidade de blocos energéticos de NPP (Nuclear power plant) que estão em construção no exterior; 1° lugar no mundo no enriquecimento de urânio; 1° lugar no mundo em reatores de pesquisa em operação; 2° lugar no mundo entre as empresas geradoras em termos de potência instalada; 2° lugar no mundo em termos de reservas de urânio exploradas; 2° lugar no mundo na mineração de urânio; 3° lugar no mundo na fabricação de combustível nuclear. Possui a única frota mundial de quebra-gelos movida a energia nuclear, única usina nuclear flutuante do mundo; únicos blocos energéticos do mundo com reatores rápidos de nêutrons de nível industrial de potência. 

Desde outubro de 2020, a corporação é membro do Pacto Global das Nações Unidas (UN Global Compact), a maior iniciativa empresarial internacional da ONU em matéria de responsabilidade social empresarial e desenvolvimento sustentável. Em 2020, a Rússia celebrou os 75 anos da indústria nuclear nacional. 

A Rosatom é uma das pioneiras do setor nuclear mundial. Os cientistas soviéticos foram desbravadores na utilização pacífica da energia nuclear: a primeira usina nuclear do mundo foi construída na Rússia, na cidade de Obninsk, em 1954. Em apenas 75 anos de história, as empresas russas da indústria nuclear construíram mais de uma centena de reatores para usinas nucleares em 14 países do mundo, incluindo na Rússia. A Rosatom, que herdou as tecnologias e a experiência da indústria nuclear soviética, foi fundada em 2007. Hoje em dia, é a maior empresa geradora na Rússia e uma das empresas líderes no mercado global de serviços e tecnologias nucleares. É capaz de providenciar a elaboração do projeto e construção de usinas nucleares prontas para uso, abastecer as usinas nucleares com combustível durante toda a sua vida útil, realizar a modernização, serviços de manutenção e formação do pessoal. 

TECNOLOGIAS - PÓS FUKUSHIMA - 

A primordial solução da corporação hoje em termos de usinas nucleares de alta potência é o reator água -água energético revolucionário de geração 3+, o VVER-1200. Ele combina em si soluções de engenharia testadas ao longo do tempo e sistemas de segurança ultra confiáveis aperfeiçoados levando em conta os requisitos pós-Fukushima. A principal característica do projeto VVER-1200 é a combinação única de sistemas de segurança ativos e passivos, tornando a instalação extremamente resistente a influências externas e internas. No projeto foi contemplado um conjunto completo de soluções técnicas para garantir a segurança da usina nuclear e excluir a liberação de produtos radioativos no meio ambiente. Especificamente, o bloco energético está equipado com dois contentores com um espaço ventilado entre eles. A contenção interior assegura a vedação do volume onde se encontra a unidade do reator. A contenção exterior é capaz de resistir aos impactos naturais (tornados, furacões, terremotos, inundações, etc.), tecnogênicos e antropogênicos (explosões, queda de aviões, etc.) sobre a usina nuclear. 

Os sistemas passivos de segurança da instalação são capazes de funcionar mesmo em caso de perda total de abastecimento de energia, e podem desempenhar todas as funções de segurança sem o envolvimento dos sistemas ativos e intervenção do operador. O projeto do VVER-1200 inclui um sistema de filtragem passiva do espaço entre as contenções externas e internas do bloco. Ele permite excluir a saída de radioatividade para o meio ambiente através da contenção externa em quaisquer situações relacionadas com a falha do sistema ativo de ventilação especial. 

Na parte inferior da contenção, de acordo com o projeto, é instalado um dispositivo de localização de derretimento, ou "armadilha de derretimento”, concebido para localizar e arrefecer o derretimento da zona ativa do reator em caso de um hipotético e improvável acidente, que possa danificar o núcleo do reator. A "armadilha" permite preservar a integridade da contenção, e assim excluir a liberação de produtos radioativos no ambiente, mesmo em hipotéticos acidentes graves. O VVER-1200 pertence à categoria mais comum de reatores de água pressurizada (PWR). Hoje, existem mais de 300 reatores deste tipo no mundo inteiro. Eles passaram com sucesso nos testes de stress "pós-Fukushima", e a segurança da sua operação foi confirmada por organizações internacionais de renome. Desde o momento de comissionamento do primeiro bloco energético com um reator VVER em 1964, foram instalados no mundo inteiro 75 reatores VVER de diversas modificações. A Rosatom foi a primeira empresa no mundo a lançar um reator de Geração 3+ e a iniciar sua produção em série. Hoje, a Rússia tem quatro reatores VVER-1200 em funcionamento e já apareceu o primeiro no exterior, na Bielorrússia. Além disso, a corporação está construindo usinas nucleares similares na Turquia, Bielorrússia, Egito, Hungria, Finlândia e outros países. 

QUEBRA-GELOS - Na base dos projetos da Rosatom na área de usinas de pequena potência, estão os mais novos reatores da série RITM, que foram desenvolvidos tendo em conta o funcionamento de quatro gerações de reatores para a frota de quebra-gelos e que foram testados nas severas condições do Ártico. Eles constituem uma fonte de energia confiável e livre de carbono, destinadas a alimentar com energia elétrica áreas isoladas da rede elétrica central, e a substituir antigas centrais elétricas com elevadas emissões de CO2 na atmosfera. Hoje em dia, seis reatores "RITM-200" já estão instalados nos quebra-gelos "Arktika" (Ártico), "Sibir"(Sibéria) e "Ural". 

USINAS FLUTUANTES - Em 2020, a corporação pôs em funcionamento a usina térmica nuclear flutuante "Akademik Lomonosov", que é atualmente a única usina no mundo equipada com pequenos reatores modulares e a central nuclear mais setentrional do mundo. Desde a sua entrada em funcionamento, a usina nuclear flutuante (FNPP) com dois reatores KLT-40 já demonstrou ser uma fonte confiável e inovadora de calor e energia elétrica, e contribuiu de forma significativa para o meio ambiente da região. Dando continuidade ao desenvolvimento das tecnologias das FNPP, a Corporação está desenvolvendo um novo produto no segmento das usinas elétricas flutuantes, especificamente - uma unidade de potência flutuante otimizada (UPFO). Está previsto que em uma UPFO sejam instalados dois reatores do tipo RITM-200M, que são a última geração de reatores nucleares russos a bordo de navios, que fornecerão uma capacidade elétrica total da usina de 100 MW. 

IVAN DYBOV – Nasceu na Rússia em 12 de dezembro de 1979. Se juntou a Rosatom América Latina para assumir o seu cargo de vice-presidente Regional da América Latina no meio do ano de 2015 com objetivo de   desenvolver e apoiar as atividades principais de negócios da Corporação Estatal Russa de Energia Atômica nas Américas. Desde 2017, ocupa o cargo de presidente da Rosatom América Latina Ltda, coordenando todas as atividades de negócios da região, relacionadas aos projetos internacionais da Rusatom - Rede Internacional, é uma subsidiária da Rosatom, estabelecida com objetivo de criar e gerenciar a rede de escritórios de marketing da empresa. 

FOTO: Divulgação Rosatom (Ivan Dybov) e reatores flutuantes.

 Leia no Blog: “Brasil e Rússia: acordo visa tecnologia de mineração subterrânea de urânio (20/6/2018). 

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Bodas de Ouro do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP): fracasso para inibir a difusão de armas nucleares. Por Olga Simbalista

 


Pouco lembrado nesses dois anos de pandemia (COVID-19), o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) saiu do ostracismo para ser revisto em sua 10* Conferência de Revisão, em Nova Iorque, iniciada ontem (4/1/2022), que irá até o dia 28. Registro o atraso de dois anos, quando deveria ser relembrada a sua entrada em vigor, em 1968. 

Trata-se de uma reunião, no âmbito do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas - ONU, incluindo os cinco países Mais Iguais e que são membros permanentes deste Conselho, bem como detentores dos maiores arsenais nucleares do mundo e os primeiros a assinar o referido tratado. Estes países   detêm arsenais contendo as seguintes quantidades aproximadas de ogivas nucleares, em 2021, com as respectivas datas das primeiras detonações: 

Estados Unidos da América: 5.550, ogivas (primeira detonação, 1945, sendo o único país a usá-las militarmente, na Guerra contra o Japão); República Federativa da Rússia: 6.255 ogivas (primeira detonação, 1949); Reino Unido: 225 ogivas (primeira detonação,1952); França: 290 ogivas (detonação, 1960); e República Popular da China: 350 ogivas (primeira detonação, 1964). 

O norte americano Linus Pauling, especialista em química quântica e ganhador de dois Prêmios Nobel, de Química e da Paz, este último pela sua campanha contra as armas nucleares, mas acreditando sempre nos usos pacíficos desta forma de energia, há mais de 70 anos, dizia: “Acredito que logo se reconhecerá que a  descoberta da fissão controlada de núcleos atômicos é maior de todas, desde o uso controlado do fogo, pelo ser humano primitivo”. 

Quando criado, o TPN tinha como objetivo restringir a detenção de armas nucleares aos cinco sócios atletas, mas, atualmente, o desenvolvimento de armas nucleares se encontra longe de tais preceitos, uma vez que seus detentores dobraram nestes 50 anos, conforme a seguinte cronologia e o número de ogivas de cada um: Índia: 156 ogivas (primeira detonação,1974); Paquistão: 165 ogivas (primeira detonação, 1998); Israel: não confirma, nem desmente a posse de 90 ogivas; África do Sul: teria desenvolvido mais de dez ogivas, mas desativou-as, antes do fim do regime do Apartheid; e Coréia do Norte: 40 a 50 ogivas (primeira detonação, 2006). 

Atualmente, o TNP tem 191 signatárias, incluindo os cinco primeiros membros com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. 

Após o lançamento do TNP, havia um sentimento antinuclear muito intenso, ainda, como consequência das bombas de Hiroshima e Nagasaki, que chocaram o mundo. Com o TNP pensou-se que o Tratado iria extinguir as armas nucleares, porém isto não aconteceu com a adesão de novos dez sócios no Clube Atômico. 

Adicionalmente, países como a França, que não aderiu ao Tratado, em um primeiro momento, continuou a modernizar e expandir seu arsenal, inclusive incentivando o Iraque de Sadam Russein a seguir esta trajetória. 

Depois um acordo entre EUA e Rússia contribuiu para a redução de ogivas nos dois países, porém desequilibrado pelo crescimento do arsenal chinês e da entrada da Coréia do Norte no Clube Atômico. 

Por outro lado, o fim da Guerra Fria, com a extinção da União Soviética, seria um sinal da diminuição dos arsenais nucleares. Porém, EUA, Rússia, Grã Bretanha, China e França continuaram a aumentar seus arsenais. 

A previsão do TNP de reduzir a quantidade de armas nucleares aconteceu de forma quantitativa, pois tanto EUA, quanto a Rússia reduziram seus arsenais, mas investiram em armamentos muito mais potentes, em termos de capacidade de destruição. 

Outras premissas do Tratado não realizadas se referem à proteção dos países desnuclearizados, bem como a disponibilização da tecnologia para fins pacíficos para estes países. Uma das principais razões para o fracasso da implementação do TNP foram os casos de França e China que continuaram a aumentar suas capacidades de detenção de ogivas nucleares, induzindo, talvez, a entrada da Coreia do Norte a associar-se ao Clube Atômico. 

O Governo Barack Obama enfraqueceu muito o TNP, quando minimizou as autoridades da ONU e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) na questão do Programa Nuclear Iraniano, criando uma entidade não oficial, o P5+1, composta pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha, para iniciar um diálogo com Teerã. Posteriormente, o Governo Trump iniciou negociações com a Coréia do Norte, sem sequer considerar o P5+1, o que deixou, ainda, mais incerta as negociações sobre desarmamento. 

Esses 52 anos da criação do Tratado deverá ser uma ocasião para uma reflexão sobre o seu fracasso de inibir a difusão de armas nucleares e não propiciar o desmantelamento dos arsenais, então existentes. Nesse momento, não sabemos se estamos, ou não, diante de uma nova corrida armamentista, que poderia liberar armas nucleares para dezenas de países que detêm capacidade tecnológica para tanto. 

A despeito da capacidade terrestre de deter um número de ogivas nucleares capazes de causar uma hecatombe universal, os otimistas seres humanos estão centrados em consequências catastróficas de mudanças climáticas. As mudanças, como sabemos, poderiam comprometer a vida na Terra, devido à emissão de gases provenientes das atividades humanas, que causariam um aquecimento terrestre de cerca de 1,5 graus centígrados, na temperatura do Planeta., até o fim deste século. 

Olga Simbalista: engenheira eletricista e nuclear, com mestrado em energia nuclear, ex-presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) e membro do Board of Directors of the American Nuclear Society - Fontes: Associação de Controle de Armas Nucleares e Gatestone Institute. 

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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Governo ativa nova empresa para usinas nucleares e Itaipu visando privatizar a Eletrobras

 


O Ministério de Minas e Energia (MME) informou em nota que foi ativada nesta terça-feira (4/1), em Brasília (DF), a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. (ENBPar). Vinculada ao MME, a nova estatal viabilizará a privatização da Eletrobras. A ENBPar vai assumir as atividades da Eletrobras que não podem ser privatizadas, como as empresas Itaipu Binacional e Eletronuclear (Usinas Angra 1, 2 e 3) e a gestão de políticas públicas. 
Hoje foi realizada a assembleia geral da ativação da empresa e a primeira reunião do conselho de administração. 

As políticas públicas que ficarão a cargo da ENBPar são a universalização de energia elétrica (Luz Para Todos), Mais Luz para a Amazônia, contratos do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfra) e ações do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel). 

A empresa também será responsável por bens da União sob administração da Eletrobras (BUSA) e contratos do Fundo Reserva Global de Reversão (RGR), assinados antes de 17 de novembro de 2016, que estavam sob a administração da Eletrobras (reversão, encampação, expansão e melhoria dos serviços públicos de energia elétrica). 

Segundo o CEO da ENBPar, Ney Zanella dos Santos, a estatal trabalhará apenas com energia limpa. “Só vamos comercializar energia das fontes hídrica e nuclear, sem emissão de carbono. E vamos iniciar as atividades de estruturação da empresa com uma estrutura enxuta. O objetivo é que a privatização da Eletrobras ocorra sem gerar gastos adicionais no orçamento fiscal e sem que haja interrupções nas atividades que, por lei, não podem ser privatizadas”, disse. 

A lei 14.182/2021, que dispõe sobre a desestatização da Eletrobras, autorizou a União a criar a empresa pública, que não será dependente do Tesouro. “As principais fontes de receita da empresa serão as geradoras Itaipu e Eletronuclear”, acrescentou o CEO. A sede da ENBPar será em Brasília, como prevê o Decreto 10.791 de 10/09/2021, que criou a nova estatal. Após a sua estruturação, a empresa poderá atuar em diferentes estados da Federação. 

FOTO: Angra 3 - Eletronuclear -

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Permitir a participação de empresas privadas na exploração de urânio; expectativa para 2022

 


Permitir a participação de empresas privadas na exploração de urânio é uma das expectativas do Ministério de Minas e Energia (MME) em 2022. Para estimular as parcerias evitando os receios na aplicação de vultosos investimentos na exploração do minério nuclear, o MME considera essencial a garantia jurídica do negócio, monopólio da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). 

O Ministério também quer retomar a produção de urânio no complexo de Lagoa Real, em Caetité, na Bahia, parada faz cinco anos, com capacidade para produzir 260 toneladas de concentrado de urânio por ano. Lá, fica a Unidade de Concentração de Urânio (URA), única mineração de urânio em atividade no país.  

Na URA, são realizadas as duas primeiras etapas do ciclo do combustível nuclear: a mineração e o beneficiamento do minério, que resulta no produto chamado concentrado de urânio ou yellowcake. A unidade ocupa uma área de 1.700 hectares, localizada em uma província mineral com recursos que chegam a 99,1 mil toneladas de urânio e onde estão identificados 17 depósitos minerais. 

De 2000 a 2015, a INB Caetité produziu 3.750 toneladas de concentrado de urânio a partir da extração a céu aberto de uma dessas jazidas – a mina Cachoeira. Já foi finalizado o processo de licenciamento para a lavra, também a céu aberto, de uma nova jazida – a mina do Engenho, conforme informações da INB. 

As expectativas do MME pela INB em 2022 contam também com a implantação e entrada em operação da Unidade de Urânio de Santa Quitéria, no Ceará. A unidade, que tem sido criticada por ambientalistas e especialistas, terá que passar pelo crivo de órgãos do governo. “Estão em tramitação os processos de licenciamento ambiental, junto ao Ibama, e de licenciamento nuclear, junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)”, informou o MME. Em Santa Quitéria, acrescentou o MME, serão produzidos urânio e fosfato, mineral essenciais para a produção de fertilizantes e que o Brasil é altamente dependente de importação. 

CONSÓRCIO PRIVADO - EXCEDENTE EXPORTADO - 

“Com a entrada em operação de Santa de Quitéria, a expectativa é que, até 2025, o país esteja produzindo 1.400 toneladas de concentrado de urânio, e, até 2030, 2.400 toneladas anualmente. Tal produção supera a demanda para o desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro, permitindo que o excedente seja exportado”. 

Já está em ação, embora em ritmo lento, o Consórcio Santa Quitéria. Trata-se de parceria da INB com a Galvani – empresa produtora de fertilizantes fosfatados - para a implantação de um projeto conjunto de mineração. O objetivo da parceria é explorar o urânio e o fosfato, encontrados de forma associada na jazida de Itataia, localizada no município de Santa Quitéria (Ceará). As informações são da própria INB. 

 “O fosfato é predominante, com reservas de 8,9 milhões de toneladas. Já as reservas de urânio são de 80 mil toneladas. A previsão é que sejam produzidas anualmente pelo Consórcio Santa Quitéria 240.000 toneladas de fosfato e 1.600 toneladas de concentrado de urânio”. Segundo a INB, o minério, depois de extraído da jazida, passará por um processo de separação de elementos. O fosfato ficará com a Galvani, que irá utilizá-lo na fabricação de fertilizantes e de alimentação animal, e o urânio será entregue à INB para produção do concentrado de urânio. A INB é detentora dos direitos minerários da jazida, localizada nos domínios da Fazenda Itataia, que tem 4.042 hectares. 

MONOPÓLIO - Todas as atividades envolvendo a extração de urânio em solo brasileiro passam pela Constituição, que mantém o monopólio ao governo federal, através do MME. Para respaldar a intenção das parcerias, o MME destacou que o marco legal do setor é constituído por leis e decretos, em sua maioria, publicados antes da Constituição Federal de 1988, com dúvidas se alguns dispositivos foram recepcionados pela Carta Magna. 

“Desde 2019, portanto, o Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB) vem debatendo o assunto com os ministérios e órgãos envolvidos visando modernizar a legislação federal”. Segundo o MME, visando a modernização da legislação e governança do setor foram publicadas duas medidas provisórias. A primeira, a Medida Provisória nº 998, de 1º de setembro de 2020, convertida na Lei nº 14.120, de 1º de março de 2021, transformou a INB em empresa pública com capital 100% da União. A segunda, a MP nº 1.049, de 14 de maio de 2021, convertida na Lei nº 14.222, de 15 de outubro de 2021, criou a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), adotando no país as práticas internacionais sobre a fiscalização e monitoramento do setor nuclear, e alterou as Leis nos 4.118, de 27 de agosto de 1962, 6.189, de 16 de dezembro de 1974. A ANSN será vinculada ao MME, conforme Decreto nº 10.861, de 19 de novembro de 2021.  

DEBATE NECESSÁRIO - O Brasil detém a sétima maior reserva de uranio do mundo. Também domina o ciclo do combustível, enriquecendo urânio para alimentar as usinas Angra 1 e Angra 2, em funcionamento. Mas uma parte do enriquecimento ainda é contratada a um consórcio de países europeus. 

Há quem critique o fato de o Brasil também importar urânio porque as suas jazidas estão paradas. Mas há também os críticos que denunciam os perigos que envolvem as atividades, podendo provocar a contaminação radioativa na população, nos trabalhadores e no meio ambiente. Tudo indica que o tema demanda amplo e necessário debate. 

FOTO: Santa Quitéria - 

No BLOG, leia também: “Brasil se prepara para voltar a produzir urânio” (09/05/2018), “Produção de urânio em Caetité será retomada” (14/11/2018); “Testes de beneficiamento de urânio em Caetité começam nesta quarta-feira” (11/12/2018); “Monopólio nuclear da União pode ser quebrado” (04/09/2019); “Célio Bermann critica retomada da exploração de minas de urânio e alerta sobre riscos de contaminação por radiação” (06/10/2020); “Produção de urânio no Brasil é retomada com solenidade em mina baiana nesta terça-feira” (30/11/2020); “Heitor Scalambrini alerta sobre os perigos à vida e ao ecossistema, por conta da retomada da produção de urânio em mina baiana” (01/12/2020); entre outras. 

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