No passado, para transferir material radioativo (Torta II e rejeitos) produzidos em São Paulo para serem armazenados em Minas Gerais, clandestinamente, a estratégia era a seguinte: agentes do governo enganavam os trabalhadores que levavam caminhões carregados com materiais radioativos da Usina de Santo Amaro (Usam), da Nuclemon, no bairro paulista de Brooklin, até a unidade de exploração de urânio em Caldas, Sul de Minas, onde eram despejados. Tudo foi feito na calada da noite. Hoje, embora tente terminar o serviço, a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), sucessora da Nuclemon (extinta em 1992), enfrenta várias barreiras.
A população, políticos locais e ambientalistas estão mobilizados para impedir que o restante da herança maldita, principalmente a que permanece no depósito da Usina de Interlagos (USIN), da INB, seja transferida para Caldas. A INB ameniza o problema, tenta se livrar do lixão radioativo, para que possa vender o terreno da USIN, como fez com o da Nuclemon, anos atrás.
O blog consultou corretores de imóveis e segundo eles, a Lei de Zoneamento do município de São Paulo, aponta que o terreno de 60 mil metros quadrados da USIN tem capacidade para a construção de até 120 mil metros quadrados de área construída. O gabarito de altura é de até 28 metros. Poderiam, por exemplo, erguer 2.400 apartamentos, com valor de mercado de R$ 300 mil cada unidade, rendendo cerca de R$ 700 milhões aos cofres da construtora que comprar o terreno. Caso aconteça, será um negócio muito rentável. Mas nem tudo são flores nesse campo radioativo, até bem pouco tempo, repleto de plantações de goiabas e taiobas.
No registro de imóveis da Prefeitura de São Paulo, o local consta como “área contaminada”, o que engessa qualquer venda para construtora. Além disso, precisa de um laudo da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), informando todas as condições do terreno. Eles lembraram que a área abarca parte de lençol freático certamente contaminado, um grande complicador. Mas dependendo das negociações, alertaram, o mercado pode se interessar pelo imóvel.
Enquanto os entraves relativos ao terreno não se desenrolam, a estatal se depara com outros obstáculos: a mobilização política de Caldas, que se amplia e fortalece contra os planos de transferência dos rejeitos para a cidade.
PROJETO DE LEI -
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou nesta terça-feira (09/11) o parecer pela constitucionalidade, juridicidade e legalidade do Projeto de Lei 3152/2021, de autoria da deputada Beatriz Cerqueira (PT), que proíbe a entrada do rejeito radioativo e a instalação de depósito de lixo atômico no território de Minas Gerais.
O PL foi apresentado após grande audiência promovida pela Comissão de Administração Pública (21/09/21), que debateu a decisão de transferência do lixão. Na reunião, representantes de seis prefeituras e de três câmaras municipais fizeram apelo unânime contra o depósito, que atingiria toda a região.
AUDIÊNCIA PÚBLICA -
Nesta quarta-feira (10/11), às 15hs, a Câmara dos Vereadores de Caldas realiza mais uma audiência Pública para discutir as questões relacionadas a intenção da INB de transferir os rejeitos para o Planalto de Poços de Caldas, transformando Caldas em depósito de rejeito de material radioativo. A audiência foi proposta pela vereadora Regina Cioffi (PP – Caldas), uma das lideranças à frente de luta contra depósito em Caldas.
Foram convidados representantes da INB, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e a auditora fiscal Fernanda Giannasi, que trabalha no caso desde o início, tendo sido a profissional que mais fiscalizou e autuou a INB.
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