Pela primeira vez, mostramos aqui, com exclusividade, alguns dos maiores
equipamentos que serão utilizados pela usina nuclear Angra 3, que deverá ter as
obras retomadas, a partir do governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. O
próprio Bolsonaro já declarou que a usina atômica será prioridade em seu
governo. Os equipamentos estão sendo construídos pela Nuclep, em Itaguaí (RJ),
e quando o governo der o sinal verde, serão transportados para o complexo
nuclear de Angra dos Reis.
Geólogo e engenheiro nuclear formado pela
Universidade de São Paulo (USP) e pelo Massachussetts
Institute of Technology – MIT, José Mauro Esteves dos Santos, diretor
comercial da Nuclep, fala sobre as atividades da empresa focando, sobretudo,
nos equipamentos para Angra 3. Ele, que acumula cargos relevantes no setor, foi
presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Secretário-Geral da
Agência Brasileiro Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares
(Abacc) e presidente dos Conselhos de Administração da Nuclep e das Indústrias
Nucleares do Brasil (INB). Eis a entrevista:
Blog: Há décadas, autoridades do setor avisavam que
equipamentos de Angra 3 comprados da Alemanha poderiam ficar obsoletos, caso a
usina não fosse construída. O problema existe?
Diretor da Nuclep: Não há equipamentos obsoletos. Tanto os
equipamentos de Angra 3, comprados na Alemanha, quanto àqueles fabricados na
Nuclep, estão em perfeitas condições de manutenção. Uma prova de que não há
obsolescência é a performance da usina Angra 2, uma das melhores do mundo. Com
se sabe, Angra 2, é exatamente igual à usina Angra 3, que está sendo
construída,
No ano passado, entre as 450 usinas nucleares em
operação no mundo, Angra 2 foi nona colocada em termos de geração. Essa usina
produziu 11,5 milhões de megawatts-hora – a melhor marca de sua história.
Blog: Onde os equipamentos estão guardados?
Diretor: No próprio local onde está sendo construída a usina,
em Angra dos Reis e em uma instalação adequada na área da Nuclep, em Itaguaí –
RJ.
Blog: Podem ser usados em outras unidades?
Diretor: Em tese um
equipamento nuclear pode ser usado em qualquer usina do mesmo tipo. Porém, os
equipamentos que estão armazenados na Nuclep foram fabricados e serão usados em
Angra 3.
Blog: Quais os equipamentos que certamente serão
utilizados?
Diretor: Todos os equipamentos fabricados na Nuclep ou na
Alemanha serão utilizados em Angra 3. Na Nuclep, hoje há sete acumuladores e um
condensador que estão sendo fabricados para essa usina.
Blog: Como serão levados para o Complexo Nuclear de
Angra?
Diretor Nuclep: Há várias opções de transporte, dependendo do peso
e tamanho dos equipamentos. A Nuclep é uma empresa que pode despachar os
equipamentos produzidos por via rodoviária ou por via marítima por meio de seu
Terminal de Uso Privado – TUP (terminal marítimo).
Blog: A logística é simples?
Diretor: A logística de entrega de seus equipamentos nucleares
ou para outros mercados é bem conhecida da Nuclep. Evidentemente é uma operação que exige
cuidados e por esse motivo é monitorada por equipes especializadas constituídas
para esse fim.
Blog: Há planos para isso? Como e quando?
Diretor: Sim, há planos para despacho dos equipamentos,
assim que for necessário, de acordo com o cronograma de retomada das obras pela
Eletronuclear.
Blog: Outros equipamentos terão que ser comprados
ou produzidos pela NUCLEP?
Diretor: A Nuclep está produzindo sete acumuladores e um
condensador para Angra 3. De acordo com a Eletronuclear 77% dos equipamentos já
foram comprados. A Nuclep é uma empresa pronta para fornecer quaisquer outros
componentes que forem ainda necessários para a usina.
Blog: Há tecnologia nacional para isso?
Diretor: A empresa é uma caldeiraria pesada, produtora de
bens de capital sob encomenda, com mais de 30 anos de existência, que detém
todas as certificações para a fabricação de componentes nucleares. A Nuclep tem
tecnologia, maquinário e pessoal especializado para atender o mercado nuclear.
Blog: Quantos funcionários trabalham hoje no
projeto?
Diretor: São cerca de 1000 funcionários alocados no
atendimento de seus três mercados principais: o nuclear, o de defesa e o de
petróleo de gás. A quantidade de funcionários alocados por projeto, depende do
estágio de fabricação de cada componente que esteja em sua linha de produção.
Blog: Quantos serão contratados caso as obras sejam
retomadas em 2019?
Diretor: Para terminar as obras de Angra 3, na Nuclep, não
será necessária a contratação de mais funcionários.
Blog: Quanto o governo gasta com a manutenção dos
equipamentos já existentes?
Diretor: Essa informação é da responsabilidade da
Eletronuclear.
·
(Veja abaixo as informações da Eletronuclear)
Blog: Recentemente foi apresentado ao Conselho de Administração, o
Plano de Negócios – 2019 da Nuclep. O que destaca nesse Plano?
Diretor: O Plano de
Negócios - 2019 é uma exigência da Lei 13.303/16, que determina sua elaboração
juntamente com as estratégias da empresa para os próximos anos. No Plano de Negócios
– 2019, apresentamos as principais obras a serem realizadas no próximo ano nos
principais mercados de atuação da Nuclep: o de energia nuclear, o de defesa e o
de petróleo e gás. No mercado de energia nuclear, eu destacaria a continuação
da fabricação dos acumuladores e do condensador de Angra 3, ambos em estágio
adiantado de industrialização. No mercado de defesa, destaco a importância das
obras do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (LABGENE) do Centro Tecnológico
da Marinha em São Paulo (CTMSP) e do Programa de Submarinos da Marinha (PROSUB).
Blog: Nesse mercado, o que está sendo construído
pela Nuclep?
Diretor: Diversos equipamentos, entre os quais, o vaso de
pressão do futuro submarino nuclear brasileiro e o casco resistente do
submarino convencional Angostura. Esse é o quarto casco dessa classe de
submarinos fabricado na empresa. Para o mercado de petróleo e gás, a Nuclep
apresentou uma série de projetos que poderão, futuramente, gerar negócios
importantes para a empresa. Há mercados emergentes como o de mineração e
saneamento nos quais a companhia está também prospectando novas oportunidades.
ELETRONUCLEAR RESPONDE AO BLOG:
A empresa gasta cerca de R$ 30 milhões por ano, com a manutenção dos
equipamentos já existentes para Angra 3, informou a assessoria de imprensa da
empresa. Os equipamentos estão estocados em almoxarifados localizados em sua
maior parte no canteiro de obras da usina, além de instalações em Mambucaba e
na Nuclep. A empresa informa que “houve um cuidado específico quanto aos equipamentos e
componentes sujeitos à obsolescência, sendo que estes fazem parte dos fornecimentos
nacionais e importados contratados a partir da retomada do empreendimento em
2009, estando assim atualizados”.
E MAIS:
Angra 3 foi comprada no pacote do acordo Brasil Alemanha, assinado em 27
de junho de 1975, pelo general Ernesto Geisel. Suas obras se arrastam há
décadas. A última parada ocorreu em 2015, por vários problemas, entre eles,
denúncias da Lava-Jato. A usina tem 65% de suas obras civis concluídas e já
consumiu cerca de R$ 7 bilhões. Ao BNDES, a Eletronuclear estava pagando 30
milhões por mês.
VEJA OS EQUIPAMENTOS EM CONSTRUÇÃO NA NUCLEP (Acumuladores e condensadores)