terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Equipamentos de Angra 3 são mostrados pela Nuclep


Pela primeira vez, mostramos aqui, com exclusividade, alguns dos maiores equipamentos que serão utilizados pela usina nuclear Angra 3, que deverá ter as obras retomadas, a partir do governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. O próprio Bolsonaro já declarou que a usina atômica será prioridade em seu governo. Os equipamentos estão sendo construídos pela Nuclep, em Itaguaí (RJ), e quando o governo der o sinal verde, serão transportados para o complexo nuclear de Angra dos Reis.
Geólogo e engenheiro nuclear formado pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Massachussetts Institute of Technology – MIT, José Mauro Esteves dos Santos, diretor comercial da Nuclep, fala sobre as atividades da empresa focando, sobretudo, nos equipamentos para Angra 3. Ele, que acumula cargos relevantes no setor, foi presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Secretário-Geral da Agência Brasileiro Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc) e presidente dos Conselhos de Administração da Nuclep e das Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Eis a entrevista:

Blog: Há décadas, autoridades do setor avisavam que equipamentos de Angra 3 comprados da Alemanha poderiam ficar obsoletos, caso a usina não fosse construída. O problema existe?
Diretor da Nuclep: Não há equipamentos obsoletos. Tanto os equipamentos de Angra 3, comprados na Alemanha, quanto àqueles fabricados na Nuclep, estão em perfeitas condições de manutenção. Uma prova de que não há obsolescência é a performance da usina Angra 2, uma das melhores do mundo. Com se sabe, Angra 2, é exatamente igual à usina Angra 3, que está sendo construída,
No ano passado, entre as 450 usinas nucleares em operação no mundo, Angra 2 foi nona colocada em termos de geração. Essa usina produziu 11,5 milhões de megawatts-hora – a melhor marca de sua história.

Blog: Onde os equipamentos estão guardados?
Diretor: No próprio local onde está sendo construída a usina, em Angra dos Reis e em uma instalação adequada na área da Nuclep, em Itaguaí – RJ.

Blog: Podem ser usados em outras unidades?
Diretor:  Em tese um equipamento nuclear pode ser usado em qualquer usina do mesmo tipo. Porém, os equipamentos que estão armazenados na Nuclep foram fabricados e serão usados em Angra 3.

Blog: Quais os equipamentos que certamente serão utilizados?
Diretor: Todos os equipamentos fabricados na Nuclep ou na Alemanha serão utilizados em Angra 3. Na Nuclep, hoje há sete acumuladores e um condensador que estão sendo fabricados para essa usina.

Blog: Como serão levados para o Complexo Nuclear de Angra?
Diretor Nuclep: Há várias opções de transporte, dependendo do peso e tamanho dos equipamentos. A Nuclep é uma empresa que pode despachar os equipamentos produzidos por via rodoviária ou por via marítima por meio de seu Terminal de Uso Privado – TUP (terminal marítimo).

Blog: A logística é simples?
Diretor: A logística de entrega de seus equipamentos nucleares ou para outros mercados é bem conhecida da Nuclep.  Evidentemente é uma operação que exige cuidados e por esse motivo é monitorada por equipes especializadas constituídas para esse fim.

Blog: Há planos para isso? Como e quando?
Diretor: Sim, há planos para despacho dos equipamentos, assim que for necessário, de acordo com o cronograma de retomada das obras pela Eletronuclear.

Blog: Outros equipamentos terão que ser comprados ou produzidos pela NUCLEP?
Diretor: A Nuclep está produzindo sete acumuladores e um condensador para Angra 3. De acordo com a Eletronuclear 77% dos equipamentos já foram comprados. A Nuclep é uma empresa pronta para fornecer quaisquer outros componentes que forem ainda necessários para a usina.

Blog: Há tecnologia nacional para isso?
Diretor: A empresa é uma caldeiraria pesada, produtora de bens de capital sob encomenda, com mais de 30 anos de existência, que detém todas as certificações para a fabricação de componentes nucleares. A Nuclep tem tecnologia, maquinário e pessoal especializado para atender o mercado nuclear.
Blog: Quantos funcionários trabalham hoje no projeto?
Diretor: São cerca de 1000 funcionários alocados no atendimento de seus três mercados principais: o nuclear, o de defesa e o de petróleo de gás. A quantidade de funcionários alocados por projeto, depende do estágio de fabricação de cada componente que esteja em sua linha de produção.

Blog: Quantos serão contratados caso as obras sejam retomadas em 2019?
Diretor: Para terminar as obras de Angra 3, na Nuclep, não será necessária a contratação de mais funcionários.

Blog: Quanto o governo gasta com a manutenção dos equipamentos já existentes?
Diretor: Essa informação é da responsabilidade da Eletronuclear.
·         (Veja abaixo as informações da Eletronuclear)

Blog: Recentemente foi apresentado ao Conselho de Administração, o Plano de Negócios – 2019 da Nuclep. O que destaca nesse Plano?
Diretor:  O Plano de Negócios - 2019 é uma exigência da Lei 13.303/16, que determina sua elaboração juntamente com as estratégias da empresa para os próximos anos. No Plano de Negócios – 2019, apresentamos as principais obras a serem realizadas no próximo ano nos principais mercados de atuação da Nuclep: o de energia nuclear, o de defesa e o de petróleo e gás. No mercado de energia nuclear, eu destacaria a continuação da fabricação dos acumuladores e do condensador de Angra 3, ambos em estágio adiantado de industrialização. No mercado de defesa, destaco a importância das obras do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (LABGENE) do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e do Programa de Submarinos da Marinha (PROSUB).

Blog: Nesse mercado, o que está sendo construído pela Nuclep?
Diretor: Diversos equipamentos, entre os quais, o vaso de pressão do futuro submarino nuclear brasileiro e o casco resistente do submarino convencional Angostura. Esse é o quarto casco dessa classe de submarinos fabricado na empresa. Para o mercado de petróleo e gás, a Nuclep apresentou uma série de projetos que poderão, futuramente, gerar negócios importantes para a empresa. Há mercados emergentes como o de mineração e saneamento nos quais a companhia está também prospectando novas oportunidades.

ELETRONUCLEAR RESPONDE AO BLOG:

A empresa gasta cerca de R$ 30 milhões por ano, com a manutenção dos equipamentos já existentes para Angra 3, informou a assessoria de imprensa da empresa. Os equipamentos estão estocados em almoxarifados localizados em sua maior parte no canteiro de obras da usina, além de instalações em Mambucaba e na Nuclep. A empresa informa que “houve um cuidado específico quanto aos equipamentos e componentes sujeitos à obsolescência, sendo que estes fazem parte dos fornecimentos nacionais e importados contratados a partir da retomada do empreendimento em 2009, estando assim atualizados”.

E MAIS:
Angra 3 foi comprada no pacote do acordo Brasil Alemanha, assinado em 27 de junho de 1975, pelo general Ernesto Geisel. Suas obras se arrastam há décadas. A última parada ocorreu em 2015, por vários problemas, entre eles, denúncias da Lava-Jato. A usina tem 65% de suas obras civis concluídas e já consumiu cerca de R$ 7 bilhões. Ao BNDES, a Eletronuclear estava pagando 30 milhões por mês.

VEJA OS EQUIPAMENTOS EM CONSTRUÇÃO NA NUCLEP (Acumuladores e condensadores)





Um comentário:

  1. A área nuclear exige do jornalista muito estudo e especialização e Tânia atingiu um nível elevado no setor.

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