O presidente da Eletronuclear, advogado Raul Lycurgo Leite, deixa o cargo até o final do mês. O comunicado foi feito ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que está na China desde o dia 19/4, com agenda em vários setores incluindo “tratativas com a estatal CGN para diversificar a matriz nuclear brasileira”. O ministro já vinha detonando a Eletronuclear há algum tempo.
A saída de Lycurgo é de conhecimento de todo o setor nuclear, falta apenas o comunicado oficial. Lycurgo é procurador federal desde 2002, tendo sido cedido para a Eletronuclear. Advogado de formação, ele tomou posse no dia 18/12/2023, sucedendo Eduardo Grand Court, profissional de marketing, na presidência desde outubro de 2022. Court estava em viagem pela Europa convidado por “lobistas’, quando soube da demissão. Lycurgo assumiu o cargo para cumprir o mandato de Court, de três anos.
Segundo fontes, Lycurgo não quer um segundo mandato. Ele teria colocado algumas condições, como a conclusão de Angra 3 e o ajuste financeiro da empresa, ambos incertos. Lycurgo também está muito desgastado: iniciou um plano de austeridade na empresa, anunciando a demissão de funcionários antigos, experientes, entre outras medidas, como cobranças de taxas de moradias. A greve, iniciada no dia 8/4, continua sem acordo no dissidio coletivo. Embora o movimento tenha se encerrado na sede, no Rio, continua com piquetes na Central nuclear de Angra. Segundo os Sindicatos, os serviços essenciais envolvendo a segurança das usinas estão mantidos.
A Companhia contratou cerca de 1.300 profissionais, dos quais pelo menos 280 estrangeiros para a execução de centenas de atividades, entre elas, a mais complexa: a troca de combustível (urânio enriquecido) de Angra 1. O valor do investimento não foi divulgado. Angra 1 vai passar cerca de três meses desligada (sem gerar energia). Apenas Angra 2 está operando, gerando 1.350 Megawatts, o equivalente a 20% da energia elétrica consumida na cidade do Rio de Janeiro. Energia esta que faz parte do Sistema Integrado Nacional (SIN).
EMPRESA DETONADA -
“A Eletronuclear virou uma empresa problema para o país. Não é uma empresa saneada, dinâmica, enxuta, eficiente para cumprir o seu mister. Vamos ter que achar uma solução para a Eletronuclear. Vamos ter que pensar juntos: o parlamento brasileiro e a política pública do Executivo para mudar a questão da Eletronuclear. Para fazer uma obra de R$ 28 bilhões, sem gestão, é extremamente temerário. Então, essa é uma preocupação, até uma angústia do ministro de Minas e Energia do Brasil”.
Em agosto do ano passado, a declaração do ministro Alexandre Silveira, foi durante audiência na comissão de Minas e Energia da Câmara, provocou espanto nos bastidores do setor. O que pretendia o ministro ao deixar clara a sua visão tão pessimista sobre o destino da companhia, comentaram alguns especialistas e técnicos experientes que conhecem bem a história da empresa. Na época. na bolsa de apostas, mesmo indignados, alguns comentaram que Silveira podia estar pensando em fatiar a estatal, criada em 1997, para gerir as usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, em operação, e Angra 3, sem destino certo.
Em 2023, o ministro visitou o canteiro de obras da central nuclear em Angra dos Reis, defendendo arduamente o final das obras Angra 3; a extensão da vida útil de Angra 1, por mais 20 anos, e até mesmo a instalação de usinas nucleares na Amazônia. Fato é que havia consenso entre os técnicos no sentido de que o ministro podia estar tentando jogar um balde de água fria sobre as certezas em torno no término de Angra 3, que ele mesmo defendia com ardor. “O discurso do ministro lembra aqueles que precederam uma privatização”, comentou um executivo. Lycurgo já estaria limpando as gavetas, segundo fontes.
(FOTOS: Sindicatos - Eletronuclear - MME) –
COLABORE COM O BLOG – SETE ANOS DE JORNALISMO
INDEPENDENTE - CONTRIBUA VIA PIX: 21 996015849 – CONTATO: malheiros.tania@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário