sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Denúncia de assédio sexual, depois de racismo e transfobia, nas Indústrias Nucleares do Brasil

 


Dois casos de assédios sexuais foram denunciados há cerca de 120 dias ao Conselho de Ética da Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Um dos assédios teria ocorrido no refeitório da Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), em Resende (RJ). As vítimas têm medo de represálias, informou o vice-presidente do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião, Lucas Mendonça. Na terça-feira (27/9), conforme o blog publicou com exclusividade, Mendonça formalizou denúncia de racismo e transfobia contra uma chefia da Gerência de Comunicação Institucional da INB, da FCN, junto à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADIP) e ao Ministério Público do Rio de Janeiro.  

“Negro e viado” traria “vergonha à empresa” foi a justificativa da funcionária para tentar adiar a contratação do profissional aprovado em quarto lugar no concurso público. Em comunicado interno, a INB informou ontem (29/9) que Claudia Maria Rangel Guimaraes, estava sendo afastada “temporariamente” da função de confiança de gerente da Comunicação Institucional. O documento está assinado por Márcio Adriano Coelho da Silva, presidente em exercício. 

Mas nesta sexta-feira (30/9), ela teria sido afastada da empresa, que abriu sindicância para apurar o caso. Caberá à Comissão de Sindicância analisar a denúncia contra Claudia, que poderá ser punida com justa causa. A situação de Claudia se complicou ainda mais ontem (29/9) quando grupos passaram a divulgar um áudio com os comentários racistas e homofóbicos que ela proferiu contra o candidato, numa das salas da empresa. Um dia após (28/9) a denúncia feita pelo Blog, a INB divulgou nota informando que “não coaduna com nenhum ato de discriminação de gênero, identidade sexual, raça e etnia, condição física, classe social, procedência geográfica, estado civil, idade, religião, cultura e convicção política”. E acrescentou que “este princípio basilar está fixado no Item 2.1.2 do Código de Ética, Conduta e Integridade da empresa”. 

A denúncia havia sido feita há cerca de 15 dias por funcionários que presenciaram as ofensas, inclusive negros, à Ouvidoria e ao Conselho de Ética, além da diretoria de finanças e administração, mas foi em vão.  Houve prevaricação, afirma Mendonça. Até o momento, segundo ele, o crime de racismo e transfobia vinha sendo mantido em sigilo pela empresa, mas já se tornou público entre os empregados que estão indignados. O caso ocorreu dentro da Unidade da INB, em Resende, na Rodovia Presidente Dutra KM 330 – em Engenheiro Passos. Funcionários de Resende também registraram denúncia na Delegacia de Polícia Local. Em Resende, a INB tem instalações de Enriquecimento de Urânio e de produção de elementos combustíveis para as usinas nucleares. 

A convocação do analista de comunicação está em andamento. O candidato havia feito contato com a empresa, visto que quando fez o concurso se inscreveu como gênero feminino e agora adotava o nome masculino. Tudo informado à empresa.  Agora, além de apurar o crime praticado pela então chefe da Comunicação Institucional, a INB terá também que apurar as denúncias de assédios sexuais. 

FÁBRICA DE COMBUSTIVEL NUCLEAR – 

É um conjunto de unidades industriais dedicadas ao processamento de quatro etapas do ciclo do combustível nuclear: o enriquecimento isotópico de urânio, a reconversão, a produção de pastilhas e a montagem do combustível que abastece os reatores das usinas nucleares. São informações oficiais da INB. 

“O combustível nuclear - ou Elemento Combustível - é uma estrutura metálica, com até 5 metros de altura, formada por um conjunto de tubos, chamados varetas dentro das quais são colocadas pastilhas de urânio enriquecido entre 2 e 5%. Os elementos combustíveis produzidos pela INB para as usinas de Angra dos Reis são de diferentes tecnologias, e por isso cada usina necessita de quantidades diferentes de elementos combustíveis. Angra 1 necessita de 121 elementos combustíveis, cada um deles contendo 235 varetas, 369 pastilhas por vareta; Angra 2 necessita de 193 elementos combustíveis, cada um deles contendo 236 varetas, 384 pastilhas por vareta”. 

Em uma área de 600 hectares, a FCN abriga a área administrativa da empresa, o Horto Florestal e as atividades relacionadas ao ciclo do combustível nuclear em quatro unidades industriais. Na FCN Reconversão a INB faz a produção de pó de dióxido de urânio (UO2). Na FCN Pastilhas, a produção de pastilhas de dióxido de urânio (UO2), e na FCN Componentes e Montagem, realiza a fabricação de componentes e a montagem do elemento combustível. Lá, opera ainda a Usina de enriquecimento de urânio. 

Segundo a INB, a Política do Sistema Integrado de Gestão da FCN está estabelecida e comunicada de forma que, entre outras coisas, haja “condição de trabalho segura e saudável para prevenção de acidentes, lesões e doenças ocupacionais; fortalecimento da cultura de segurança; satisfação dos colaboradores, clientes, provedores e acionistas, e de interação com a comunidade”, por exemplo. 

FOTO: FCN - ACERVO DA INB - 

LEIA A PRIMEIRA DENÚNCIA DIVULGADA NO BLOG DIA 27/9. OUTRA, EM 28/09.

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Um comentário:

  1. É inadmissível que haja gente que se acha superior a outras pessoas e aja criminosamente usando termos racistas e homofóbicos. Demissão por justa causa dessa desgraçada é pouco tem de ser presa. Essas situações mostram como o racismo, a transformação, a homofobia estão ainda entranhado na sociedade brasileira. Parabéns ao Blog e a vc, Tânia pela denúncia que vai levar essa racista e homofóbica à cadeia.

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