segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Falta de verba na medicina nuclear começa a paralisar o diagnóstico e tratamento contra o câncer. Ricos só terão atendimento em outros países

 


Brasileiros portadores de tumores neuroendócrinos (pulmão, sistema respiratório e gastrointestinal), sejam ricos ou pobres, não puderam realizar nesta segunda-feira (20/9) o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), clínicas particulares e até mesmo no Instituto Nacional do Câncer. A informação é do presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), o médico nuclear George Coura, que desde a semana passada vem alertando sobre o desabastecimento de radioisótopos (substância radioativa) produzida pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares  da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN-CNEN), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, pela falta de verbas. O problema vai afetar outros tratamentos, avisou. 

Segundo fontes do setor, há quatro anos o orçamento do Ipen para a produção do radioisótopo vem sofrendo importantes cortes. Este ano, por exemplo, o orçamento seria de R$ 63,9 milhões – considerado insuficiente. 

É com o radioisótopo como o lutécio-177, que o Ipem produz o radiofármaco usado no tratamento de tumores neuroendócrinos.  O presidente da SBMN alerta que a cada semana a paralisação de um dos vários radioisótopos vai afetar a um tipo de tratamento contra o câncer. 

“Estamos diante de um potencial desabastecimento generalizado e de crise sanitária, na impossibilidade de o paciente ser tratado ou de realizar os exames. Só não terá o problema quem puder pegar um avião para ser tratado em outro país”, comentou. 

A cada semana a situação vai se agravar, afirmou, porque outros medicamentos essenciais deixarão de ser produzidos. O Brasil importa radioisótopos de produtores da África do Sul, Holanda e Rússia, além de aquisição de insumos nacionais.  

Os radioisótopos possibilitam que os médicos vejam o funcionamento de órgãos e tecidos vivos por meio de imagens como as tomografias, radiografias e cintilografias. Cerca de dois milhões de procedimentos médicos são realizados por ano utilizando radioisótopos, em 440 clínicas cadastradas para realizar o trabalho semanalmente. Cerca de 440 mil pelo SUS e o restante pela rede privada. 

A SBMN reitera que a falta de parte dos insumos já está sendo extremamente prejudicial aos pacientes – que ficam sem alternativas para seguirem com diagnósticos e tratamentos – e a notícia de que não há previsão da retomada regular da produção dos radiofármacos possa agravar mais ainda a situação. 

MINISTRO PEDE DINHEIRO - 

Em entrevista ao “Pânico”, programa de TV, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, admitiu que vai faltar o medicamento no Brasil. A situação é de emergência, avisou. Segundo ele, o orçamento para a compra é de R$ 90 milhões – maior do que o orçamento do Ipem. O ministro informou que para tentar resolver o problema, pediu ao ministério da Economia R$ 18 milhões para esta semana; e que vai tentar uma liberação de R$34 milhões junto ao Congresso; mais R$ 55 milhões até o final do ano.  

FOTO:  IPEN -

Nenhum comentário:

Postar um comentário