terça-feira, 1 de setembro de 2020

Angra 1: US$ 23,5 milhões para extensão de vida útil

 

Para prorrogar por mais 20 anos a vida útil da usina nuclear Angra 1, em Angra dos Reis (RJ), a Eletronuclear, do grupo Eletrobras, acaba de assinar acordo no valor de US$ 23,5 milhões, com dois anos de duração, com a Westinglouse, empresa que vendeu a usina para o Brasil na década de 70. 

A Eletronuclear buscará financiamentos que contarão com garantia do US Exim Bank, a agência de créditos oficial do governo federal estado-unidense, que funciona com relativa autonomia do governo ainda que vinculada ao executivo. Além da Westinghouse, a Eletronuclear negocia a execução desses projetos com empresas como a Holtec e Siemens. 

Eletronuclear e Westinghouse estão discutindo o início dos trabalhos do contrato de parceria comercial, que engloba uma série de análises e cerca de 70 estudos para viabilizar os projetos de modernização da  que integram o Programa de Extensão da Vida Útil (LTO) da usina. 

Cerca de 40 profissionais da Eletronuclear e da Amazul (Amazônia Azul Tecnologias de Defesa), da Marinha, estão trabalhando no programa. A Westinghouse conta com cerca 30 especialistas nos EUA e na República Tcheca, além de consultorias como Alvarez & Marsal e Resco, da República Tcheca. Há ainda o apoio técnico da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e do Electrical Power Research Institute (Epri), dos EUA. 

USINA PRONTA – AI-5 SILENCIA PROTESTOS - 

A decisão pela compra da primeira usina nuclear de potência para o Brasil aconteceu no governo do general Arthur da Costa e Silva, que tomou posse na Presidência da República em 15 de março de 1967. Já se sabia que o governo pretendia comprar uma usina pronta dos EUA. Logo surgiu um movimento contrário a essa aquisição. Diversos pesquisadores, físicos e cientistas brasileiros como José Leite Lopes – diretor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – participaram ativamente desse protesto. Mas o Ato Institucional (AI-5) silenciou completamente o debate em torno do assunto. 

Com a morte de Costa e Silva, em gosto de 1968, a chefia do Poder Executivo passou para uma junta militar. O general Emilio Garrastazu Médici sucedeu a junta e governou o país até março de 1974. Em mensagem ao Congresso, Médici anunciou: “Após cuidadosa preparação, serão dados, e 1970, os passos iniciais para a construção da primeira central núcleo-elétrica de potência com finalidade comercial”. 

Em 1970 a Westinghouse juntou-se a Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) e venceu a concorrência pública internacional realizada por Furnas, então gestora do setor nuclear, para construir a usina nuclear Angra 1. O Eximbank concedeu a Furnas um crédito de US$ 138 milhões. Em abril de 1972, o governo brasileiro assinou um dos seus contratos com a Westinghouse no valor de US$ 102 milhões para pagamento de equipamentos e fabricação do combustível nuclear para Angra 1, que começaria a ser construída seis meses depois. O combustível para Angra 1 (urânio enriquecido de 2,5% a 3,5%) seria assim obtido: o yellowcake viria da África do Sul, a Inglaterra transformaria o produto em hexafluoreto (urânio em forma de gás) e aos EUA caberia o enriquecimento. 

DEPENDÊNCIA - 

Na avaliação de muitos especialistas, nessa época, o governo brasileiro consolidou a sua dependência perante os EUA, ao escolher este país como único fornecedor de combustível para Angra 1 e outras usinas planejadas pelo regime militar. Em 1973 os EUA deram os primeiros sinais de que suspenderiam a garantia do fornecimento de combustível para as usinas brasileiras.  O governo teve que comprar o combustível da África do Sul.

Angra 1 foi inaugurada em 1981, mas entrou em operação comercial em 1985. Dados oficiais do governo estimam que a usina tenha custado US$ 2 bilhões. Isso, sem levar em conta os gastos com a manutenção e os reparos de equipamentos. Com 640 megawatts de potência, gera energia que daria para abastecer uma cidade de 1 milhão de habitantes, quando funciona com 100% de sua potência sincronizada ao Sistema Interligado Nacional. 

Angra 1 registrou mais de 40 paradas por defeitos e para troca de combustível, por exemplo.  Um dos problemas mais graves ocorreu no dia 30 de setembro de 1986, quando estava em processo de aquecimento para ser religada, a usina sofreu um vazamento de água radioativa em duas válvulas do circuito primário. O acidente não provou danos ao meio ambiente porque ficou restrito ao circuito interno do reator e a usina não estava operando. Nada foi comunicado à Prefeitura de Angra dos Reis. Só a partir desse acidente que os comunicados se tornaram rotina obrigatória. 

FOTO: divulgação Eletronuclear 

Um comentário:

  1. Sempre atenta aos fatos com precisão. Excelente a volta no tempo,fazendo o histórico. Fui testemunha dessa história no início da minha carreira de repórter.

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