terça-feira, 20 de agosto de 2024

Primeira mulher comanda centro de tecnologia nuclear, que comemora 72 anos de fundação

 




Doutora em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com experiência em estudos sobre rejeitos radioativos de baixa e média atividade, Amenônia Maria Ferreira Pinto, é a primeira mulher no cargo de direção do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Belo Horizonte, nos 72 anos de fundação da entidade, comemorados nesta quinta-feira (22/8). No setor desde 1977, ela defende “o papel emergencial dos concursos públicos para a manutenção e continuidade das atividades do CDTN”. 


Com experiência na área de Engenharia Sanitária e Engenharia de Petróleo, Amenônia atua na aplicação de traçadores radioativos na indústria, meio ambiente e agricultura. Atualmente, ela coordena quatro projetos em parceria com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e outro com a Petrobras. Em 2000, a gestora recebeu uma bolsa financiada pela AIEA para estudar reservatórios de petróleo na Universidade do Texas, nos Estados Unidos. O CDTN é uma unidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), autarquia subordinada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. 

“Em 1968, escolhi o Ensino Médio. Não foi uma época fácil. Na minha família, qualquer mulher que chegasse àquela idade seria professora e teria um bom marido. Esse era o máximo que se esperava para uma mulher. Na época, quem me defendeu foi o meu pai, que optou por me mudar de escola para seguir o estudo nas Ciências Exatas e, em seguida, optar pela Engenheira Química”, contou. Em 1977, ela passou no concurso da Nuclebras, e não parou mais. Mas logo percebeu as diferenças. ‘Descobri que não era um ‘lugar para mulher’. Todos os engenheiros faziam trabalho de campo, iam para alto mar, em navios, e uma mulher só ia atrapalhar porque não ia carregar peso. Os marinheiros tinham o mito de que mulher na embarcação trazia azar. Eu era a única candidata para a única vaga que tinha e ainda corri o risco de não atuar neste trabalho. Mas deu certo. Trabalhei no mar, no campo, no barco. O meu erro foi provar que era mulher e dava conta de fazer o que eles faziam. Hoje faria diferente.”

RADIOFARMACOS - 


CDTN atua na pesquisa e desenvolvimento, ensino (pós-graduação) e prestação de serviços na área nuclear e em áreas correlatas. As principais atividades do Centro hoje envolvem as áreas de tecnologia nuclear, minerais, materiais, saúde e meio ambiente. Nas aplicações das radiações e técnicas nucleares destacam-se a monitoração e remediação ambiental, a metrologia das radiações, o desenvolvimento e produção de radiofármacos e a gerência e tratamento de rejeitos radioativos, onde a instituição é considerado referência na América Latina. Nas demais áreas, pode-se apontar a otimização de processos de extração e purificação mineral, nanotecnologia, integridade estrutural e gerenciamento do envelhecimento de componentes mecânicos de instalações de grande porte. Há forte cooperação com os setores de energia, saúde, indústria do petróleo e meio ambiente. 

No nível regional, o CDTN tem atuação de destaque no desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços especializados para os setores mineral e metalúrgico, além da prestação de serviços radiológicos e da produção de radiofármacos para aplicações em tomografia por emissão de pósitrons (PET). Ocupando uma área de 240 mil m², sendo 42 mil m² de área construída, o CDTN possui o reator nuclear de pesquisa TRIGA, a Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos e o Laboratório de Irradiação Gama, Instalações Piloto para Processamento de Bens Minerais, além de um campus com cerca de 50 laboratórios. O CDTN tem forte atuação na formação de recursos humanos em áreas estratégicas, por exemplo. 


REATOR TRIGA - 

Como Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), o CDTN foi fundado na Escola de Engenharia da UFMG, em 1952, após a nomeação pelo então Governador de Minas Gerais Juscelino Kubitscheck de um grupo para estudar a constituição de um ‘centro atômico’, com a participação dos professores Francisco de Assis Magalhães Gomes, Djalma Guimarães, Domício de Figueiredo Murta e Eduardo Schmidt Monteiro de Castro. As atividades iniciais do novo Instituto incluíam a pesquisa de ocorrências minerais radioativos e estudos em física e química nuclear, metalurgia e materiais de interesse nuclear. Seu reator de pesquisa TRIGA (sigla, em inglês, para Treinamento, Pesquisa, Isótopos e General Atomic) Mark 1, dedicado à pesquisa, à produção de radioisótopos e ao treinamento de pessoal, foi inaugurado em 1960

APOIO AO ACORDO BRASIL ALEMANHA - 

O IPR passou a integrar o Plano Nacional de Energia Nuclear em 1965, a partir da assinatura de convênio entre a UFMG e a CNEN. Separado da UFMG e transferido para a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear (CBTN) em 1972, agregou às suas finalidades o desenvolvimento da tecnologia nuclear. Em 1974, foi incorporado pela companhia estatal Empresas Nucleares Brasileiras S/A (NUCLEBRÁS), e em 1977, teve sua denominação alterada para Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, com o papel de apoiar as unidades da NUCLEBRÁS na absorção da tecnologia nuclear transferida no âmbito do acordo Brasil-Alemanha (1974-1988). 

Neste período, o CDTN atuou intensamente na prospecção de urânio, no licenciamento das instalações de mineração, de beneficiamento do minério de urânio e de fabricação de elementos combustíveis, bem como do treinamento de operadores de reatores para as Usinas Nucleares de Angra 1 e 2. É desse período o desenvolvimento de tecnologia para solidificação dos rejeitos radioativos de baixo nível das usinas de Angra 1 e 2 e o apoio técnico à implantação da fábrica de enriquecimento de urânio em Resende, RJ. Destacou-se, ainda na década de 1980, a cooperação com instituições alemãs (KWU, NUKEM, KFA) para estudos da utilização de tório em reatores nucleares de potência do tipo de Angra 1, projeto bem sucedido na sua primeira fase, tendo chegado ao teste de irradiação do combustível desenvolvido em reator de pesquisa.

Com a extinção da NUCLEBRÁSem 1988, voltou a fazer parte da CNEN com uma atuação mais voltada para pesquisa, desenvolvimento e formação especializada na área nuclear e em áreas correlatas. Nesta nova fase, o CDTN estabeleceu maior cooperação com outras instituições de pesquisa, com a indústria e órgãos de governo, expandindo sua interação com a sociedade. Na década de 1990, implantou-se laboratórios que consolidaram essa nova orientação, com destaque para a Irradiação Gama, a Calibração de Dosímetros e o Trítio Ambiental. Essa nova fase levou ao fortalecimento das competências chamadas “correlatas”, aquelas que reúnem conhecimentos essenciais à tecnologia nuclear trazidos de outras áreas da tecnologia. Cita-se, como exemplos, os estudos de física dos materiais, que deram origem aos laboratórios de nanotecnologia, entre eles de química do carbono e de nanobiotecnologia, e o processo de flotação em coluna para concentração de minérios, uma tecnologia difundida no país pelo CDTN. Expandiram-se as aplicações de técnicas nucleares à hidrologia e hidrogeologia, firmando, nesse último caso, ações iniciadas na década de 1970. 

Na área de formação especializada, em 2003, o CDTN iniciou o Programa de Pós-Graduação, em nível de mestrado, e, em 2010, o de doutorado, de significante relevância para a formação de novas gerações de pesquisadores. Em 2020, o CDTN lançou o primeiro curso em nível de pós-graduação especialização (Lato Sensu) na área de gerência de rejeitos radioativos. No ano de 2008, a Instituição acentuou sua atuação na saúde, no suporte à área de Medicina Nuclear, com a instalação de um Cíclotron e implantação da Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos. Foi criado o Laboratório de Radioproteção em Mamografia, voltado para o controle de qualidade desses exames. RMB E CENTENA - Foi nesta mesma época que o CDTN se engajou no empreendimento nacional do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) e passou a exercer a coordenação técnica do projeto do Repositório Nacional de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio Níveis de Radiação, depois denominado Centro de Tecnológico Nuclear e Ambiental – CENTENA.

Nos anos seguintes, o CDTN procurou dar especial destaque ao relacionamento com outras instituições de Ciência & Tecnologia, tanto nacionais quanto internacionais, por exemplo. A partir da década de 2010, ganhou destaque no CDTN a área de materiais nanoestruturados, com projetos como o MGGrafeno, em parceria com a empresa estatal CODEMGE e com a UFMG para o desenvolvimento de processo de produção de grafeno e suas aplicações, e a implantação do laboratório de Materiais Avançados e Minerais Estratégicos – Granioter, este por demanda do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. 

(FONTE: ASCOM CDTN - Deize Paiva) -  FOTOS: CDTN) – 

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