sexta-feira, 9 de junho de 2023

Ministro Alexandre de Moraes concede mais um ano de sobrevida à indústria do amianto, a fibra assassina

 


O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu mais um ano de sobrevida para a indústria do amianto, a Sama, do Grupo Eternit, no Estado de Goiás, explorar o cancerígeno amianto, que já havia sito banido de todo o território nacional. O ministro contradisse decisões do colegiado do STF, proibindo a exploração do mineral, nocivo à saúde e vida de brasileiros. O amianto, conhecido como fibra assassina, já foi considerado pelo Senado francês “a catástrofe sanitária do século XX”, lembrou a auditora fiscal Fernanda Giannasi,  fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA). 

De acordo com informações do STF, trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, tendo por objetivo a Lei estadual 20.514/2019, “que autoriza para fins exclusivos de exportação, a extração e o beneficiamento o amianto da variedade crisotila no Estado de Goiás". 

Enquanto o STF prolonga a exploração da fibra mineral cancerígena no Brasil, por mais um ano, no mínimo, na quinta-feira (8/6) um Tribunal Italiano sentenciou o bilionário suíço Stephan Schmidheiny, ex-dono da multinacional ETERNIT, a 12 anos de prisão, após condená-lo sob a acusação de homicídio culposo agravado, relacionado à morte de centenas de pessoas por exposição ao amianto, lembrou Giannasi. 

TRAGÉDIA EM OSASCO - 

O caso do amianto é tão grave que no final do ano passado a Prefeitura de Osasco, em São Paulo, por meio da Secretaria de Emprego, Trabalho e Renda (SETRE), em parceria com a ABREA, inaugurou um memorial em homenagem às vítimas do cancerígeno amianto. Delegações nacionais e internacionais participaram do evento. O memorial tem um painel com o nome de mais de 600 pessoas que morreram em virtude da exposição ao amianto.

 Composto pela obra do artista brasilense W. Hermusch, o memorial tem uma escultura chamada “Árvore-Pulmão”, que materializa metaforicamente a luta pela vida de milhares de vítimas do mineral cancerígeno, que no final da vida não conseguem mais respirar em virtude das doenças provocadas pela fibra mortal. 

Além da Árvore-Pulmão, com sete metros de altura, o Memorial terá um painel com o nome de mais de 600 pessoas que morreram em virtude da exposição ao amianto. “Nesta tragédia do amianto, os obreiros entregavam inocentemente o seu cotidiano ao trabalho, que acreditavam estar garantindo o seu sustento e de suas famílias e, por conseguinte, a vida. A cada dia, entretanto, estavam sendo lentamente envenenados. Esta contradição cruel é o que a Árvore-Pulmão expressa”, lembrou Hermusch. 

LEGADO DE CONTAMINAÇÃO - 

O Memorial foi instalado na Praça Expedicionário Mario Buratti, nas proximidades de onde se situava a Eternit, a maior das unidades da multinacional suíça nas Américas, conhecida produtora de telhas, tubulações, caixas d'água e outros artefatos de cimento-amianto, e que permaneceu na cidade por 56 anos, entre 1937 a 1993, deixando para trás um enorme passivo socioambiental, um legado de contaminação e morte, como fez em vários países, principalmente Itália e Bélgica. 

“É uma tristeza sermos conhecidos como a capital nacional das vítimas do amianto, e em nada este memorial repara a perda dessas vidas, mas nossa intenção é eternizar seus nomes num espaço público para que sirvam de exemplo e que suas famílias saibam que reconhecemos a luta. Quem sai de casa todo dia em busca do sustento do lar, e morre em função do trabalho que desempenha, é um verdadeiro herói, e nada mais justo que haja um memorial em homenagem a isso”, lamentou Gelso Lima, Secretário de Emprego, Trabalho e Renda. O ministro Alexandre de Moraes podia visitar o Memorial para conhecer de mais perto o drama registrado no local, comentou Giannasi. 

Para o presidente da ABREA, Eliezer João de Souza, o Memorial visa manter viva a memória destas vítimas inocentes e representa um símbolo de resistência e luta contra o mineral que mata milhares de pessoas anualmente, não só no Brasil como em todo o mundo. 

“'É mais um momento histórico na luta contra o amianto, contra empresas, contra o capital, que visam apenas o lucro em detrimento da saúde e vida de seus trabalhadores. O Memorial é uma homenagem aos que se contaminaram com a fibra assassina e um alerta para as futuras gerações, para que possam evitar que tragédias como essa não se repitam. Essa catástrofe sanitária do século XX não pode se repetir”, finalizou. 

FOTO: MEMORIAL – ABREA – 

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