segunda-feira, 22 de maio de 2023

Unidade que operou com material radioativo vira sucata: há casos de operários doentes e ameaça de falta de água na região

 


Casos de funcionários doentes com AVC, depressão e falecimentos, ameaça de falta de água, agravada por cerca de três quilômetros de tubulação perdidos, a falta de informações sobre o destino de equipamentos fora de uso, são alguns dos problemas envolvendo a desativação de uma unidade que operava com material radioativo (UDB), da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Buena, 2º distrito do município de São Francisco de Itabapoana (RJ). A INB não retornou os contatos sobre a matéria publicada no dia 15/5. A Prefeitura, fez o mesmo, mas postou em sua página, no dia 19, a informação sobre a tubulação, que “não poderá ser aproveitada, sendo necessária a troca dos equipamentos”.


Durante décadas, toneladas de areias monazitas, (ricas em urânio e tório), foram subtraídas das  praias do Espirito Santo, Bahia e Buena e transportadas pera serem processadas na Orquima, no Brooklin paulista, sucedida pela Nuclemon; depois, INB, nas quais centenas de operários se contaminaram, adoeceram e morreram vítimas de radiação. Em 2006, os sobreviventes se uniram a formaram a Associação dos Trabalhadores da Produção Nuclear (ANTPEN) para lutar por seus direitos, até hoje não reconhecidos pela Justiça.

INTERRUPÇÃO DE ÁGUA - CENÁRIO DE ABANDONO/SUCATA - 

Depois de a notícia sobre a falta de água aqui divulgada, a Prefeitura informou que está atuando junto a Águas do Rio para “resguardar os direitos da população e impedir a interrupção dos serviços’, que segundo o próprio órgão, há 35 anos de responsabilidade da INB. A Prefeitura também confirmou que a interrupção do fornecimento de água está prevista para julho, conforme consta na reportagem do último dia 15.  O cenário de abandono na unidade da INB em Buena pode ser visto em fotos exclusivas que publicamos. 


A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) informou que possui “regulamentos específicos para nortear o descomissionamento de instalações nucleares, radioativas e minero-industriais”. A atuação da CNEN, conforme informou a Comissão, abrange requisitos tais como “descontaminação de área gerenciamento de resíduos e rejeitos radioativos e monitoramento ambiental, bem como procedimentos para garantir a proteção radiológica dos trabalhadores e da população circunvizinha”. 

Mas para onde irão os equipamentos e demais as sucatas de Buena? “A destinação dos materiais radioativos presentes na instalação deve ser indicada pelo operador (INB), cabendo à CNEN avaliar a conformidade com as normas aplicáveis e, caso necessário, estabelecer exigências relacionadas ao armazenamento seguro do transporte dos mesmos”, afirmou a CNEN.  Portanto, acrescentou a Comissão, o operador – INB-, “deve submeter relatórios específicos detalhando as etapas envolvidas e procedimentos a serem executados, para garantir que todas as medidas de segurança estejam sendo tomadas e que os materiais radioativos estejam sendo manuseados e transportados de acordo com as normais aplicáveis”. Afinal, está ou não?

SINDIMINA-RJ CONTESTA INB - 

Se a INB opera no local há décadas, por quais razões o encerramento das atividades acarreta tantos transtornos, como a ameaça de falta de água, a falta de informação sobre o desmonte e destino de equipamentos e aos graves problemas de saúde aos funcionários, que durante anos dedicaram  a sua força de trabalho à instalação? Há exames de rotina? A saúde dos trabalhadores teve acompanhamento durante tantos anos? A INB não respondeu. 

Contatado pela reportagem, a direção do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Prospecção, Pesquisa e Extração de Minérios Estado do Rio de Janeiro (Sindimina-RJ),  declarou que “não compactua com as atitudes impostas pelos atuais gestores da INB, principalmente no que se refere a transferência de empregados sem que eles tenham algum benefício”, em contrapartida, por exemplo. A direção do Sindimina admitiu que, mesmo sem relacionar os casos de doenças e mortes ao problema, pesou a forma de pressão feita pelos gestores, problemas relatados em reuniões. Sem chance de escolha, empregados de Buena foram transferidos para Caetité, na Bahia, a 1.200 Km de distância, enquanto há outras unidades da empresa em Rezende (RJ), Caldas (MG) e na sede, no Rio. Dos 320 funcionários do passado, hoje restam apenas 39. 

HERANÇA MALDITA - 

A herança da Nuclemon, fechada em 1992, ficou sob a responsabilidade da INB.  Uma parte do material procedente de Buena também foi levado, principalmente nas décadas de 50 e 60, clandestinamente para outra unidade da INB em Caldas, Minas Gerais. Atualmente, está em discussão se o restante, mais o que ficou em depósitos na Nuclemon em São Paulo (Usina de Interlagos e sitio em Botuxim) deve ser transferido também para Caldas. Ambientalistas, parlamentares e demais representantes da população de Caldas já avisaram que não vão aceitar.  

Oficialmente, em documento obtido pela reportagem, a INB avisa que está em “processo de finalização de suas atividades de produção em Buena. De acordo com o cronograma, a previsão é que o encerramento aconteça em dezembro de 2023, inclusive com a redução do quadro de empregados atuando na localidade”, informa a nota, sem mencionar o número de trabalhadores que será dispensado. E acrescenta: “Dessa forma, a INB somente terá condições de continuar fornecendo água para os moradores do entorno da UDB, até o mês de julho de 2023”. 

FOTO: UNIDADE DA INB EM BUENA – 

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2 comentários:

  1. Triste realidade relatada com a eficiência de sempre da querida Tânia Malheiros.

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  2. Que mais esta denúncia exclusiva da competente Tânia Malheiros resulte em providências favoráveis à reparação dos danos causados aos trabalhadores. E dignidade aos consumidores.

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