quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Luciana Santos quer reator (RMB) com terreno cedido por Geraldo Alckmin

 


O projeto de construção do primeiro Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) estava cotado para sair do papel desde a posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, até porque o vice, Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), foi quem desapropriou e cedeu o terreno para o empreendimento do RMB, em Iperó, São Paulo, durante os cargos de comando que exerceu no Estado. Esta semana, em visita à Argentina, com o presidente Lula, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou que vai avançar na  construção do RMB, que tem o objetivo de garantir a autonomia do país na produção de radioisótopos para uso na medicina e para apoiar pesquisas científicas na área nuclear. 

Para 2023 e 2024, estão previstos investimentos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para o empreendimento, incluindo a contratação de empresa argentina para a elaboração do projeto detalhado da planta de processamento de radioisótopos. Segundo a ministra, as relações bilaterais com a Argentina serão, a partir de agora, intensificadas, com a retomada de projetos que foram paralisados. “A agenda mais importante de cooperação científica na América Latina é com a Argentina. É uma agenda muito diversa, que vai desde as parcerias no Reator Multipropósito até a formação de especialistas no âmbito do Cabbio (Centro Latino Americano de Biotecnologia).

O engenheiro civil, mestre em engenharia nuclear e doutor em tecnologia nuclear, José Augusto Perrotta, que até recentemente coordenou o empreendimento, como assessor da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), responsável pelo RMB, conversou com o blog recentemente. Segundo ele, várias fases do projeto do RMB estão concluídas, como a do desenvolvimento e fornecimento de combustível nuclear (urânio enriquecido). O RMB, afirmou, não servirá apenas para a produção de radioisótopos, matéria-prima para a elaboração de radiofármacos (medicamentos com radiação usados no diagnóstico e tratamento contra o câncer). 

“É engano as pessoas pensarem que o empreendimento RMB é apenas um reator para produzir radioisótopos! Estabelecido como meta do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnóloga em 2008, o RMB alinha-se com as políticas estratégicas referentes ao Programa Nuclear Brasileiro (PNB). 

PROPULSÃO NAVAL - 

O RMB disponibilizará ao país um reator nuclear de pesquisa multipropósito e toda uma infraestrutura de laboratório  e instalações para atender às necessidades nacionais relativas à produção crescente de radioisótopos para aplicação médica, além de propiciar o suporte ao desenvolvimento  tecnológico nuclear para as áreas de energia elétrica e propulsão naval, auxiliar no desenvolvimento cientifico e tecnológico nacional contribuindo fortemente à inovação e formação de recursos humanos especializados. 

Os laboratórios ficarão disponíveis para a comunidade científica do país e particularmente em relação à utilização de feixes de nêutrons deverá ser um complemento do laboratório nacional de Luz Sincrotron de Campinas. Para operar, o RMB precisará do combustível nuclear. A fase de desenvolvimento foi realizada sob a responsabilidade da equipe de profissionais de várias entidades do setor, entre elas, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP), através de convênio com a FINEP, no valor de R$ 25 milhões.


Para a produção de UF6 (urânio em forma de gás), enriquecido a 20%, produção de elementos combustíveis, por exemplo. Desse convênio, disse Perrotta, foi inaugurada, em dezembro de 2016, uma nova cascata de enriquecimento isotópico de urânio no laboratório (LEI), do CTMSP, em Aramar (Centro Experimental de Aramar), em Iperó, SP, da Marinha. O reator ficou critico em março de 2020 com esse novo núcleo. Isto é um fato extremamente relevante para a tecnologia brasileira. Também já se encontra desenvolvida a tecnologia da fabricação de alvos de urânio para a produção do Mo-99, incluindo novas patentes sobre os processos utilizados. 

BARREIRAS - 

A licença de instalação do RMB foi emitida pelo Ibama, em novembro de 2019, entre outras anteriores. “Com essas licenças o empreendimento RMB pode ser construído. Está em andamento a execução dos planos ambientais pré-construção”, informou Perrotta. O projeto teve início em 2008, mas faltaram recursos e decisão política administrativa. “Na minha opinião, a alta administração da CNEN, por não ser composta de técnicos oriundos do setor nuclear e não ter formação tecnológica na sua base, não avalia em profundidade as necessidades de P&D e de transformação da ciência em tecnologia nuclear”. Segundo Perrotta, de certa forma, criam uma barreira entre os técnicos da CNEN e os formadores de opinião e gestores maiores da área estratégica nuclear, inibindo, dessa forma, qualquer ação proativa para o RMB. 

Mas agora, pode ser que o projeto caminhará a passos largos, embora a CNEN permaneça sem presidente desde o dia 1º de janeiro, quando o governo exonerou Paulo Roberto Pertusi, e seu braço direito, o diretor Madison Coelho de Almeida. 

Leia algumas matérias sobre o assunto publicadas pelo BLOG: 03/03/2020 – Reator nuclear para salvar vidas não saiu do papel; 16/09/2021 – Governo adia construção de reator capaz de produzir insumos para a medicina nuclear. Desabastecimento em clinicas de tratamento contra o câncer pode ocorrer nos próximos dias; 20/09/2021 – Falta de verbas na medicina nuclear começa a paralisar o diagnóstico e tratamento contra o câncer. Ricos só terão atendimento em outros países; 22/09/2021 – Governo libera R$ 19 milhões para a compra de insumos destinados à medicina nuclear. Valor é considerado insuficiente para o tratamento de pacientes com câncer até o final do ano; 28/09/2021 – Ministro alerta sobre urgência de liberação de recursos para produção de radioisótopos; 29/09/2021 – Dois ministros, promessas antigas e um projeto de reator para salvar vidas parado; 07/10/2021 – Medicina nuclear: Congresso aprova liberação de R$ 63 milhões para a produção de medicamentos destinados a pacientes com câncer; 15/10/2021 – Medicina Nuclear: Pacientes com câncer podem ficar novamente sem tratamento semana que vem. Recursos para a produção de radiofármacos ainda não foram liberados para o IPEN-CNEN; 19/10/2021 – Medicina Nuclear: demora na liberação de verbas ainda afeta tratamento de pacientes com câncer; 01/12/2021 -Câmara vota quebra do monopólio da produção de medicamentos contra o câncer. SBPC alerta sobre irremediáveis prejuízos para a população e ciência; 02/12/2021 – Medicina Nuclear: aberto o caminho à quebra do monopólio para produção de radioisótopos. Pacientes com câncer e risco; 08/12/2021 – Medicina Nuclear: adiada votação visando privatizar a produção de medicamentos contra o câncer; 09/12/2021 – Direção do IPEN/CNEN aponta disparidade de preços de radiofármacos e alerta parlamentares; 15/12/2021 – Medicina Nuclear: produção de medicamentos para combater o câncer nas mãos da iniciativa privada; 16/12/2021 – PEC-517/2010: Proposta macabra. Facada no projeto de reator multipropósito. Por Alexandre Padilha. Exclusivo para o BLOG; 31/01/2022 – Medicina Nuclear: reator para salvar vidas, verbas ficam nas promessas. 

FOTO: Acervo CNEN -  

COLABORE COM O BLOG. PIX: 21 996015849         

Um comentário:

  1. Os projetos começam a sair do papel e o Brasil, espera-se, vai, aos poucos, conquistando a necessária autonomia em áreas vitais para consolidação do seu desenvolvimento tecnológico.
    Que seja escolhido o nome mais gabaritado para gerir a CNEN.

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