As cerca de 600 vítimas do cancerígeno
amianto foram homenageadas neste sábado (10/12), em Osasco, São Paulo, com a
inauguração de um memorial criado pelo artista brasilense W. Hermusch, que reuniu representações do Brasil e do mundo. A criação do memorial foi uma parceria da Prefeitura
de Osasco, por meio da Secretaria de Emprego, Trabalho e Renda (SETRE), com a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA). O
memorial é uma escultura chamada “Árvore-Pulmão”, que materializa
metaforicamente a luta pela vida de milhares de vítimas do mineral, que no final da vida não conseguem mais respirar em virtude das doenças
provocadas pela fibra mortal.
“É com imensa emoção que estamos aqui
inaugurando esta obra, que representa muito para todos nós do movimento anti-amianto.
Ela é majestosa e cheia de significado, pois além de homenagear nossos amigos
mortos, celebra a vida, que tanto nossos
heróis buscaram em suas lutas diárias contra as terríveis doenças do amianto”,
comentou a engenheira civil e de Segurança do Trabalho, Fernanda Giannasi, uma
das fundadoras da ABREA, ativista reconhecida internacionalmente por seu
trabalho pelo banimento do amianto, que lhe conferiu o Prêmio Faz a Diferença de O Globo
de 2017.
Giannasi também destacou: “Foi a luta destes heróis que tombaram
envenenados por esta fibra maldita que é o amianto, assassinados por empresas
inescrupulosas que, quando se instalaram em nosso país, já sabiam de sua
nocividade, aproveitando-se da boa-fé de nossa gente e, mais ainda, contando
que, pelo nosso atraso tecnológico, subserviência e dependência econômica, não
iríamos nos contrapor à sua produção suja e perigosa”.
Além da Árvore-Pulmão,
com sete metros de altura, o Memorial em um painel com o nome de mais de 600
pessoas que morreram em virtude da exposição ao amianto. “Nesta tragédia do
amianto, os obreiros entregavam inocentemente o seu cotidiano ao trabalho, que
acreditavam estar garantindo o seu sustento e de suas famílias e, por
conseguinte, a vida. A cada dia, entretanto, estavam sendo lentamente
envenenados. Esta contradição cruel é o que a Árvore-Pulmão expressa”, lembrou
Hermusch.
O Memorial está instalado na Praça Expedicionário Mario Buratti, nas
proximidades de onde se situava a Eternit, a maior das unidades da
multinacional suíça nas Américas, conhecida produtora de telhas, tubulações,
caixas d'água e outros artefatos de cimento-amianto, e que permaneceu na cidade
por 56 anos, entre 1937 a 1993, deixando para trás um enorme passivo
socioambiental, um legado de contaminação e morte, como fez em vários países,
principalmente Itália e Bélgica. O local escolhido para plantar esta
ÁRVORE-PULMÃO foi em frente de onde se instalou a maior fábrica do grupo
suíço-belga, ETERNIT, fora da Europa.
“Era sua galinha dos ovos de ouro! Numa
área de 150 mil metros quadrados, explorando nossos fartos recursos naturais,
instalaram-se em 1939 e por aqui ficaram 54 anos, deixando-nos uma herança maldita
de doenças e rejeitos da produção de cimento-amianto espalhados por aí. Vira e
mexe alguém nos traz pedaços de telhas quebradas encontradas nos cursos dos
rios, em especial o Buçocaba, tão próximo de nós e que desagua no Tietê, depois
de percorrer seus 5 km, e onde a ETERNIT despejava sem pruridos seus resíduos
tóxicos a céu aberto, poluindo nossos cursos d´água como fazia diuturnamente
com o nosso ar, sem se preocupar se isto poderia causar impactos ao meio
ambiente ou produzir doenças”, relembrou Giannasi.
Para a ativista, a inauguração
do memorial é um marco: “É o momento de celebrarmos juntos aos familiares e
ex-empregados da Eternit, Brasilit, Lonaflex, Thermoid e de tantas outras
empresas que se utilizaram do cancerígeno amianto e que permanecem impunes,
utilizando-se de todos os subterfúgios e da morosidade de nossa Justiça para
fugir de suas responsabilidades de tratar e indenizar suas vítimas”. Segundo
ela, a data da inauguração não foi escolhida por acaso: “É a celebração em todo
o mundo do Dia Internacional dos Direitos Humanos. Será o quinto Memorial das Vítimas
do Amianto em todo o mundo, onde as vítimas deixarão definitivamente de ser
meros números de estatísticas de doenças profissionais do INSS e nunca mais
anônimos”.
O secretário de Emprego, Trabalho e Renda de Osasco, Gelso Lima,
também lamentou: “É uma tristeza sermos conhecidos como a capital nacional das
vítimas do amianto, e em nada este memorial repara a perda dessas vidas, mas
nossa intenção é eternizar seus nomes num espaço público para que sirvam de
exemplo e que suas famílias saibam que reconhecemos a luta. Quem sai de casa
todo dia em busca do sustento do lar, e morre em função do trabalho que
desempenha, é um verdadeiro herói, e nada mais justo que haja um memorial em
homenagem a isso”.
Para o presidente da ABREA, Eliezer João de Souza, o
Memorial visa manter viva a memória destas vítimas inocentes e representa um
símbolo de resistência e luta contra o mineral que mata milhares de pessoas
anualmente, não só no Brasil como em todo o mundo. “'É mais um momento
histórico na luta contra o amianto, contra empresas, contra o capital, que
visam apenas o lucro em detrimento da saúde e vida de seus trabalhadores. O
Memorial é uma homenagem aos que se contaminaram com a fibra assassina e um
alerta para as futuras gerações, para que possam evitar que tragédias como essa
não se repitam. Essa catástrofe sanitária do século XX não pode se repetir”, finalizou.
FOTO: INAUGURAÇÃO MEMORIAL – ABREA –
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