Na COP26, em Glasgow, apesar de desconsiderarem a energia nuclear como um componente da Matriz Verde, tivemos uma grande participação em eventos paralelos, inclusive com a presença do diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, que na ocasião afirmou: “COP26 is a chance we cannot waste”.
A situação mundial para a energia nuclear há tempos não está tão favorável, tanto no país, como no exterior, principalmente, por estarmos vivendo a maior crise energética dos últimos 50 anos. Nesse contexto, podemos citar os alguns fatos no âmbito internacional, bem como no nacional:
Durante a própria COP26, 70% da eletricidade consumida no evento foram de origem nuclear, bem como, no dia 09/11, o Presidente Francês, Emmanuel Macron, anunciou pela primeira vez, depois de décadas, o relançamento da construção de novos reatores nucleares (seis EPR2), a continuidade do desenvolvendo de energias renováveis, pois, segundo ele “se quisermos pagar tarifas razoáveis, com segurança energética é preciso economizar energia e descarbonizar nosso solo”.
Posso citar também a implementação de dezenas de projetos, em praticamente todos os países que fazem uso da geração nuclear, dos reatores de nova geração e dos de pequeno porte, inclusive os desenvolvidos na Argentina (Karen) e no Brasil (LABGENE).
No mesmo contexto, lembro a promulgação de Lei, pelo Presidente norte americano Joe Biden, liberando investimentos para infraestrutura e para o “Job Act”, no valor de US$ 1,2 trilhão, sendo US$ 62 bilhões para o Departamento de Energia (DOE) para a não retirada prematura de usinas nucleares e investimentos em reatores avançados e de pequeno porte; além do anúncio, pelo Governo Chinês, da construção de 150 novos reatores, nos próximos 15 anos.
Em 2009, a China tinha 11 reatores em operação e, atualmente, 50, estando comissionando o segundo AP 1000, projeto nipo-americano, e operando um reator de alta temperatura, tipo “Pepple Bed” para aquecimento distrital e dessalinização, com o segundo já está crítico, reator este desenvolvido pela Alemanha, posteriormente; adotado pela África do Sul e depois abandonado, por questões financeiras. Atualmente a China superou a França, como a segunda maior produtora mundial de eletricidade nuclear, atrás dos Estados Unidos.
Outro ponto: o envio, pelos EUA, de robôs nucleares a Marte e o anúncio de colocar um reator, na Lua, até 2030. Estuda, também, a possibilidade de produzir biocombustível para o retorno de naves a Marte, usando três produtos locais: CO2, luz e água e duas bactérias terrenas: algas para produzir açúcar e E. Coli, para transformar açúcar em propulsor. O processo já é utilizado na Terra para a produção de borracha.
Relaciono também a grande novidade energética, o Hidrogênio Verde, que produz três vezes mais energia que a gasolina e que poderá fazer uso dos sistemas de transporte existentes para o petróleo e o gás para o seu transporte e distribuição. Nesse contexto, o nuclear, que com o preço do gás acima de 20 US$/MBtu é competitivo com os renováveis eólico e solar para sua produção por meio da eletrólise, hoje é ainda mais, pois os preços do gás se encontram entre 35 e 40 US$/MBtu. Além disto, a próxima disponibilização, em grande escala, de reatores que funcionam a altas temperaturas (800 graus centígrados ou mais), usando como refrigerantes gás ou metal líquido, serão muito mais eficientes e baratos, que o Hidrogênio produzido por eletrólise, tornando a energia nuclear o grande agente do Hidrogênio Verde.
Atualmente, existe uma grande necessidade do uso de Hidrogênio Verde pela Europa, para cumprir os compromissos assumidos na COP 26, já que ela é fortemente dependente de combustíveis fósseis nos setores de transporte, energia e indústria. Entre 2025 e 2030, haverá necessidade de 40GW de hidrogênio renovável.
A Rússia, além do grande exportador de reatores e de em outros segmentos da tecnologia nuclear, bem como pioneira na operação reatores de pequeno porte flutuantes em regiões remotas, está testando o primeiro batch do combustível REMIX, fazendo uso de Urânio e Plutônio reciclados e que poderá ser usado em qualquer reator.
No contexto mundial, a saída da Bélgica da geração nuclear e que está levando o país a subvencionar uma eletricidade mais cara e mais carbonizada, assim como a Alemanha, atual grande usuária do carvão de péssima qualidade, para produzir eletricidade em substituição ao seu fenomenal parque nuclear, quase todo desativado.
No Brasil, vivemos um momento de realizações. A nona International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2021, pela Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), maior evento sobre energia nuclear do hemisfério Sul, de forma virtual, com enorme abrangência e ampla participação, em situação de grande dificuldade, devida à perda precoce de seu Presidente, Rogério Arcuri, vítima da pandemia, no início deste ano.
Outro fato importante no Brasil foi a criação
da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), em conformidade com
compromissos nacionais, junto a AIEA e que poderá dar mais agilidade aos
processos de controle e licenciamento de atividades nucleares e radioativas; e
as decisões governamentais de estabelecer recursos financeiros e condições
sólidas (contratuais e técnicas) para a retomada de Angra 3, bem como a
sinalização da construção de outras plantas, sendo a primeira até 2031. O
retorno da produção de Urânio no País e a inauguração da nona cascata de
enriquecimento isotópico, pela INB; os excelentes desempenhos dos nossos
institutos de pesquisas, nos aproximando, cada vez mais, do grande público, com
suas competentes realizações, bem como os desempenhos de Angra 1 e Angra 2, a implementação do
depósito de rejeitos de alta atividade e
o processo de extensão da vida útil de Angra1.
O grande desenvolvimento tecnológico do Programa Nuclear da Marinha, incluindo o CTMSP, Amazul, o ProSub, dentre outros, fornecendo tecnologia de ponta para seus projeto, bem como para, praticamente, todos os demais, inclusive para o Reator Brasileiro Multipropósito (RMB) que fará o Brasil autossuficiente na produção de radiofármacos, com possibilidade de exportações, é um passo igualmente importante.
E, não poderia deixar de registrar, para minha surpresa, o seguinte fato: o despertar dos nossos inimigos de infância, a saber grande parte da mídia nacional, conclamando que “está na hora de o Brasil discutir os prós e contras da energia nuclear”.
Olga Simbalista: engenheira elétrica, com mestrado em energia nuclear, ex-presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) e membro do Board of Directors of the American Nuclear Society.
Este BLOG faz JORNALISMO INDEPENDENTE.
A sua colaboração é muito importante para a manutenção do trabalho iniciado em
2018. Agradecemos a contribuição. PIX: 21 99601-5849.
Quando o mundo todo busca matrizes energéticas alternativas às empregadas atualmente, e que sejam sustentáveis, seguras e não poluentes, lá vem os defensores da tecnologia nuclear, os “nucleocratas”, quererem nos convencer das vantagens de se instalar reatores nucleares por todo o país, sem discutirem os riscos envolvidos e o lixo que geram e que permanecem ativos por milhares de anos. Não é uma questão de sermos “inimigos de infância”, mas de termos crescido convivendo com absurdos tais como o acidente de Goiânia, passivos socioambientais gerados pelo ciclo da produção das terras raras pela NUCLEMON (atual INB, sem falar em Chernobyl e Fukushima e os usos militares causadores de altíssimo poder destruição. Diferentemente do que é defendido pela autora, Drª. Olga Simbalista, a tecnologia nuclear não é solução para a crise energética mundial e sim uma grande fonte de problemas.
ResponderExcluirQuando o mundo todo busca matrizes energéticas alternativas às empregadas atualmente, e que sejam sustentáveis, seguras e não poluentes, lá vem os defensores da tecnologia nuclear, os “nucleocratas”, quererem nos convencer das vantagens de se instalar reatores nucleares por todo o país, sem discutirem os riscos envolvidos e o lixo que geram e que permanecem ativos por milhares de anos. Não é uma questão de sermos “inimigos de infância”, mas de termos crescido convivendo com absurdos tais como o acidente de Goiânia, passivos socioambientais gerados pelo ciclo da produção das terras raras pela NUCLEMON (atual INB, sem falar em Chernobyl e Fukushima e os usos militares causadores de altíssimo poder destruição. Diferentemente do que é defendido pela autora, Drª. Olga Simbalista, a tecnologia nuclear não é solução para a crise energética mundial e sim uma grande fonte de problemas.
ResponderExcluirQuando o mundo todo busca matrizes energéticas alternativas às empregadas atualmente, e que sejam sustentáveis, seguras e não poluentes, lá vem os defensores da tecnologia nuclear, os “nucleocratas”, quererem nos convencer das vantagens de se instalar reatores nucleares por todo o país, sem discutirem os riscos envolvidos e o lixo que geram e que permanecem ativos por milhares de anos. Não é uma questão de sermos “inimigos de infância”, mas de termos crescido convivendo com absurdos tais como o acidente de Goiânia, passivos socioambientais gerados pelo ciclo da produção das terras raras pela NUCLEMON (atual INB, sem falar em Chernobyl e Fukushima e os usos militares causadores de altíssimo poder destruição. Diferentemente do que é defendido pela autora, Drª. Olga Simbalista, a tecnologia nuclear não é solução para a crise energética mundial e sim uma grande fonte de problemas.
ResponderExcluirQuando o mundo todo busca matrizes energéticas alternativas às empregadas atualmente, e que sejam sustentáveis, seguras e não poluentes, lá vem os defensores da tecnologia nuclear, os “nucleocratas”, quererem nos convencer das vantagens de se instalar reatores nucleares por todo o país, sem discutirem os riscos envolvidos e o lixo que geram e que permanecem ativos por milhares de anos. Não é uma questão de sermos “inimigos de infância”, mas de termos crescido convivendo com absurdos tais como o acidente de Goiânia, passivos socioambientais gerados pelo ciclo da produção das terras raras pela NUCLEMON (atual INB, sem falar em Chernobyl e Fukushima e os usos militares causadores de altíssimo poder destruição. Diferentemente do que é defendido pela autora, Drª. Olga Simbalista, a tecnologia nuclear não é solução para a crise energética mundial e sim uma grande fonte de problemas.
ResponderExcluirObrigada por comentar, por opinar. BLOG independente, democrático, opiniões diversas sempre bem vindas.
Excluir