quinta-feira, 10 de junho de 2021

Risco de contaminação radioativa na troca de cobertura que abriga 15 mil tambores com torta II (urânio e tório), em Minas. Exclusivo para o blog.

 


Sob risco de contaminação radioativa, está em curso uma delicada operação de substituição das coberturas (telhado) dos sítios de Torta II (subproduto de areias monazíticas contendo urânio e tório), na área AA-171 da unidade de Caldas, planalto de Poços de Caldas, em Minas Gerais (MG), da estatal indústrias Nucleares do Brasil (INB). Há riscos de disseminação radioativa via contaminação do solo, água de chuva e ar. 

“Um dos acidentes que pode ocorrer é a queda de telhas com suspensão de Torta II no ar durante as atividades de troca de telhas, com ou sem vítimas. Abalroamento, cortes, esmagamentos, fraturas, atropelamentos, asfixias também são possíveis”, consta em documento a que o blog teve acesso com exclusividade. 

O local abriga cerca de 15 mil tambores com Torta II, armazenados há anos em Caldas, em condições nada seguras, cobertos por telhados danificados pelo tempo, chuvas e ventos. O material é herança maldita da extinta Nuclemon, em São Paulo, onde durante décadas o Brasil operou com material radioativo das areias monazíticas subtraídas do litoral da Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo. No passado, a China esteve prestes a comprar o estoque, mas as negociações não frutificaram. 

SUSPEITA DE INCORPORAÇÃO - 

“Na possiblidade da ocorrência de acidentes – durante a operação - com ou sem vítimas, bioanálises extras em relação à programada serão realizadas sempre que houver suspeita de incorporação” (absorção de material radioativo). 

O trabalho, iniciado há cerca de 15 dias, não divulgado pela INB, está sendo feito por trabalhadores de empresa terceirizada, “sujeitos à exposições ocupacionais, classificados como indivíduos ocupacionais expostos”, segundo informações obtidas pelo BLOG. A área total construída é de 724.1232 metros quadrados e o tempo total da obra é de cerca de 120 dias. 

As várias atividades envolvendo a troca do telhado estão sendo acompanhadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). As telhas substituídas e o material descartado da obra, ou entulho, formado por solo, concreto e outros materiais, serão separados, no pátio que circunda os sítios de Torta II. Depois, transportados na carroceria de caminhão, envelopados em lona plástica, para área bem próxima, delimitada, dentro da instalação. 

Considerados rejeitos, os materiais e as lonas serão monitorados e as possíveis partes contaminadas, separadas em pedaços, depositados em outros tambores. A unidade de Caldas está instalada numa de área de cerca de 18 km2, onde funcionou a primeira unidade de mineração e beneficiamento de urânio do Brasil. 

PRIMEIRA UNIDADE DE MINERAÇAO - 

Segundo a literatura disponível e a própria INB, a exploração do urânio no Brasil teve início em 1982, em Poços de Caldas.  Em 1995, a INB constatou que era economicamente inviável a operação da unidade e encerrou suas atividades. Dez anos depois, foi iniciada a descontaminação de suas instalações e terrenos. 

A empresa garante que as instalações, o solo, as águas e os equipamentos da antiga mineração são permanentemente monitorados, assim como os materiais radioativos que ali estão estocados (os tambores com Torta II), para “proteger o meio ambiente e assegurar a saúde dos trabalhadores da unidade e dos moradores da região”. 

Segundo a empresa, na Unidade em Descomissionamento de Caldas (UDC) está instalado o Laboratório Ambiental de Análises Químicas e Radiológicas que realiza as análises necessárias ao monitoramento do meio ambiente em áreas onde funcionam as unidades da INB na Bahia, no Ceará, em Minas Gerais e em São Paulo. 

Em 2012 o IBAMA aprovou o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), que foi elaborado a partir de estudos nas áreas de hidrologia, geoquímica, hidroquímica e radioproteção, realizados com o objetivo de definir as obras a serem realizadas e as ações de recuperação ambiental que devem ser desenvolvidas na unidade. Isso quer dizer que o plano foi aprovado há quase dez anos. 

A empresa garante também que monitora as águas que passam através da unidade e o meio ambiente nas suas vizinhanças, em um círculo de aproximadamente 10 Km de raio. As matrizes monitoradas são água, sedimento, poeira no ar, solo, peixes e produtos agropecuários. Os parâmetros analisados são: o pH, parâmetros físicos e químicos das águas; os elementos estáveis; e os elementos radioativos, ou radionuclídeos, informa empresa, que ainda não divulgou as informações sobre a operação de substituição do telhado, com riscos de contaminação. 

FOTO: Unidade em Caldas - Acervo INB.

8 comentários:

  1. Tania sabe tudo a respeito de energia nuclear. E a gente vai aprendendo com a leitura de suas matérias. É uma pena a população não ser informada pela imprensa tradicional sobre esse assunto.

    ResponderExcluir
  2. Agradeço o seu comentário sobre a reportagem. A sua participação é uma honra!

    ResponderExcluir
  3. Medo desses desgovernos insanos, irresponsáveis e genocidas, viu???

    ResponderExcluir
  4. Quando leio essas notícias fico preocupado. Se os telhados não estão bem conservados, será que o tal monitoramento funciona como deveria?

    ResponderExcluir
  5. Tania continua atuando em alto nível na imprensa, no caso, no seu blog! Conseguir notícias exclusivas em tema tão sensível, até secreto, não é para qualquer jornalista, não!

    ResponderExcluir
  6. Tania continua atuando em alto nível na imprensa, no caso, no seu blog! Conseguir notícias exclusivas em tema tão sensível, até secreto, não é para qualquer jornalista, não!

    ResponderExcluir
  7. Tania continua atuando em alto nível na imprensa, no caso, no seu blog! Conseguir notícias exclusivas em tema tão sensível, até secreto, não é para qualquer jornalista, não!

    ResponderExcluir
  8. Matéria séria e de utilidade pública. Pena que essas informações não chegam a nossa gente. Eu tenho a felicidade de ser amiga da maior jornalista no assunto, obrigada Tânia, por tudo!

    ResponderExcluir