terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Sociedade Angrense de Proteção Ecológica lança cartilha sobre a questão nuclear

 

A Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (SAPÊ), em Angra dos Reis, está lançando a cartilha “Educação Antinuclear: pela vida, pela Paz!”, com 36 páginas, destinada a professores e demais interessados nas principais questões nacionais do setor. A coordenadora da SAPÊ e da produção da publicação, a turismóloga Maria Clara Valverde, mestra pela Universidade Federal Fluminense (UFF), conta mais sobre os objetivos da cartilha e da entidade. Eis a entrevista:

BLOG: Como e por que a SAPÊ decidiu produzir a cartilha?

MARIA CLARA: A Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (SAPÊ) produziu a cartilha em parceria com o Sindicato dos Profissionais de Educação de Angra dos Reis (SEPE- Angra); Articulação Antinuclear Brasileira (AAB); Coalizão Xô Nuclear- Por um Brasil livre de usinas nucleares; Rede de Ongs da Mata Atlântica; Grupo Tortura Nunca Mais – RJ; Grupo de Estudos e Pesquisa de Trabalhadoras/es – RJ (UFRRJ); Grupo de Pesquisa Filosofia e Educação Popular (UFF); Instituto Madeira Vivo e Frente Nacional por uma Nova Política Energética.

BLOG: Havia demanda?

MARIA CLARA: A cartilha é fruto de uma demanda dos professores ativistas angrenses que participam da SAPÊ e do Encontro Nacional da Articulação Antinuclear Brasileira realizado em setembro de 2019 na cidade de Caldas – MG, onde compartilhamos a necessidade de produzirmos um material pedagógico que abordasse a luta antinuclear nacional para fortalecer as comunidades ameaçadas pelas indústrias nucleares do Brasil. Além da necessidade de darmos visibilidade à luta antinuclear para os professores curiosos sobre os principais problemas nacionais que enfrentamos como militantes.

BLOG: Qual a principal mensagem?

MARIA CLARA: É necessário termos consciência de que não existe planeta B. A energia nuclear veio da guerra, e alimenta essa ameaça constante de guerras nucleares e acidentes catastróficos ao futuro do planeta. Não precisamos de armas nucleares, não precisamos de lixo atômico que ficará tóxico por milhares de anos para gerações futuras, o pior lixo que o ser humano produz. A energia nuclear ameaça a nossa existência com seu alto poder destrutivo ao meio-ambiente.

BLOG: Objetivo?

MARIA CLARA: Promover a conscientização social nas escolas e movimentos sociais sobre os impactos da indústria nuclear, através de uma ampla divulgação da cartilha “Educação Antinuclear: pela vida, pela paz!” e de evento virtual público para o lançamento.

BLOG: Público alvo?

MARA CLARA: Ativistas, professores e líderes sociais das comunidades afetadas pela indústria nuclear.

BLOG: Como será o acesso à cartilha? Terá impressa ou somente no formato digital.

MARIA CLARA: Planejamos uma distribuição gratuita de 210 cartilhas impressas e também na versão digital para diversos movimentos sociais engajados e interessados na luta antinuclear, gerando uma conscientização qualificada sobre a questão nuclear.

BLOG: Quando será disponibilizada no formato digital? Endereço de acesso?

MARIA CLARA: Através de contato direto pelo email sapemovimento@gmail.com

BLOG: Haverá evento para o lançamento?

MARIA CLARA: A cartilha teve pré-lançamento no último dia 5 de dezembro na “live” da Conexão Virtual Xô Nuclear, que teve como título “Educação Antinuclear: pela vida, pela paz! Os desafios de comunicar o absurdo das chaleiras atômicas. Na ocasião, tivemos um debate qualificado com a animação do Renato Cunha, coordenador do Grupo Ambientalista da Bahia (Gamba), com a participação de Gláucia Oliveira da Silva; antropóloga, autora do livro “Angra I e a melancolia de uma era: um estudo sobre a construção social do risco”; Ivi Sloboda, professora de História em Angra dos Reis; Monique Chessa, licenciada em Geografia e coordenadora pedagógica da cartilha e membro da coordenação da SAPÊ; Rosilda Benácchio, professora de Metodologia do Ensino de História UFF/IEAR, educadora popular e do Campo. Eu também participei.

BLOG: Quais os principais capítulos?

MARIA CLARA: Principalmente o capitulo 2, que trata de problemas nucleares no Brasil, porque abordamos de forma geral a história da luta antinuclear nacional até os dias atuais. Porém todos os capítulos são muito importantes, pois contextualizam a luta e apresentam um olhar crítico sobre a questão nuclear em geral.

BLOG: Conte um pouco sobre a fundação da SAPÊ.

MARIA CLARA: A SAPÊ foi fundada em 1983, tem no seu DNA a luta antinuclear como principal motivação de existência que culminou nos diversos protestos populares do Hiroshima Nunca Mais pela vida, pela paz. Como organização social as principais dificuldades são as constantes ameaças políticas que os movimentos ambientalistas enfrentam com vigor desde sempre. Nossos desafios maiores é conseguirmos frear a boiada nuclear que os atuais “desgovernos” querem passar em plena pandemia. Temos como objetivo principal a defesa pelo meio ambiente e suas comunidades tradicionais que o protegem. Nossas principais propostas são a inclusão de políticas que valorizem o desenvolvimento justo de energias renováveis, a permanência das áreas de proteção ambiental e suas comunidades tradicionais, bem como o turismo ecológico que respeite a cultura tradicional do território. Com a proximidade dos 40 anos da SAPÊ, temos como meta a construção do projeto do nosso site, onde teremos um acervo digitalizado do movimento ambientalista de Angra dos Reis.

 BLOG: Como a SAPE se mantém?

MARIA CLARA: A SAPÊ é uma organização sem fins lucrativos, mantida através de doações de seus membros e simpatizantes. Os projetos são apoiados por fundações que abrem editais com temas pertinentes aos movimentos ambientalistas. Nossa sede atual se encontra no centro da cidade de Angra dos Reis. No momento, devido a pandemia, suspendemos as atividades presenciais. A prefeitura não nos apoia.

BLOG: Como atua em relação às informações sobre as usinas nucleares?

MARIA CLARA: Acompanhamos as informações dadas pela imprensa de forma geral, e temos nosso papel social de denunciar as falácias da indústria nuclear brasileira, através de nossas redes sociais, eventos e projetos educativos como por exemplo o evento público de 2014 - Fukushima até quando?; a Exposição Hiroshima 70 que ocorreu no Teatro Municipal de Angra e depois circulou Brasil afora, o evento de lançamento do minidocumentário Recultura Caiçara no bairro do Frade em 2017  e agora com o lançamento da cartilha Educação Antinuclear: pela vida, pela paz!

BLOG: Como trabalha para oferecer apoio às comunidades indígenas?

MARIA CLARA: A SAPÊ tem parceria de longa data com a aldeia Sapukay do Bracuí, onde resistimos pela preservação de sua cultura e território através das nossas lutas sociais em comum pelo meio-ambiente como um todo cobrando do poder público medidas efetivas que protejam a aldeia. No momento nossa principal luta nesta questão é impedir a construção de uma usina hidroelétrica no rio Bracuí, que afetaria de forma drástica a sustentabilidade hídrica da aldeia.

BLOG: Como trabalham para receber informações sobre os rejeitos das usinas nucleares? Fazem contato com a Eletronuclear? Como tem sido esse contato?

MARIA CLARA: Temos o seu blog e suas obras como uma das fontes sobre as questões da Eletronuclear, além de ampla experiência em pesquisas qualificadas que embasam nossa luta social contra esta indústria. Nosso contato com a Eletronuclear se dá de forma natural durante as audiências públicas, na base do diálogo entre ambas as partes. Estamos lutando pela justiça para que os rejeitos de Angra 1 e Angra 2 sejam acompanhados da forma mais responsável possível, onde combatemos a construção dos depósitos a seco e exigimos que seja construído um depósito definitivo em local adequado para este fim.

BLOG: Quais as metas da SAPE para 2021?

MARIA CLARA: Continuar lutando contra a retomada das obras de Angra 3 e os depósitos a seco, as chamadas UAS, para o armazenamento do combustível usado das usinas nucleares. Vamos ampliar a nossa força com os professores da rede pública sobre os atuais riscos das usinas nucleares, a partir da divulgação da cartilha. E coordenar de forma participativa a criação de uma Rede em Defesa da Baía da Ilha Grande.


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