terça-feira, 15 de setembro de 2020

Começa em outubro treinamento inédito de pessoal para transferir combustível usado (urânio) de Angra 1 e Angra 2 para Unidade de Armazenamento a Seco


Pela primeira vez, no Brasil, técnicos da área nuclear começam a ser treinados, em outubro, para a operação inédita de transferência de combustível usado (urânio enriquecido) das piscinas de Angra 1 e Angra 2, para a Unidade de Armazenamento a Seco (UAS), conforme o Blog apurou com exclusividade. Com capacidade para armazenar combustível usado até 2045, a UAS custará cerca de R$ 246 milhões e deve ficar pronta em dezembro. 

Com o esgotamento da piscina de elementos combustíveis irradiados de Angra 2, previsto para junho de 2021, a Eletronuclear, pretende iniciar a transferência do material da usina dois meses antes (março). Já o esgotamento da piscina de Angra 1 está previsto para 2022. A transferência dos combustíveis usados da primeira unidade será no segundo semestre de 2021. 

A Eletronuclear garante que não será necessário um esquema de segurança especial para a transferência, porque a UAS está localizada dentro da central nuclear de Angra. “Os canisteres (filtros de carvão) com elementos combustíveis usados serão retirados das usinas hermeticamente fechados, com as tampas soldadas”. 

CORONAVIRUS E SEGURANÇA -

 A tecnologia da Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado (UAS) é comprovadamente segura, afirma a Eletronuclear. Segundo a estatal, existem unidades do tipo em operação em vários países do mundo, sendo que apenas nos Estados Unidos, há cerca de 80 instalações similares à UAS. 

Sua construção, garante, vem seguindo, com rigor, padrões de segurança internacionais e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), órgão regulador e fiscalizador do setor nuclear brasileiro. 

A UAS está situada dentro da central nuclear de Angra. A instalação da UAS deve ficar pronta até o final deste ano. A estatal informou que a obra segue em ritmo acelerado, mesmo com a crise provocada pelo coronavírus. 

REPROCESSAMENTO – 

As piscinas de Angra 1 e 2 contam apenas com combustíveis usados. Esse material não é considerado rejeito porque ainda existe energia que “pode ser aproveitada no futuro, por meio do processo de reprocessamento do combustível”. A UAS é considerada um armazenamento complementar ao das piscinas existentes dentro das usinas. Os rejeitos de baixa e média atividade são armazenados em repositórios próprios, localizados dentro do terreno da central nuclear. 

A estatal informa que as obras civis estão avançadas, com trabalho seguindo até dezembro. As atividades envolvem a construção da laje principal e de um almoxarifado e a instalação de uma cerca dupla, de iluminação externa e de uma guarita. Também serão instalados sistemas de monitoração de temperatura e radiação. 

Os principais equipamentos da UAS já chegaram à central nuclear. Inicialmente, a UAS contará com 15 módulos. No total, 288 elementos combustíveis usados serão retirados de Angra 2 e 222, de Angra 1, o que abrirá espaço nas piscinas de armazenamento para mais cinco anos de operação de cada planta. A UAS poderá comportar até 72 módulos. A unidade está localizada dentro da central nuclear de Angra, fora da área das usinas. 

REJEITOS SÓLIDOS - 

A usina Angra 1, comprada da norte-americana Westinghouse, opera comercialmente desde 1985, já poderia estar desligada, mas há estudos para prorrogar a sua vida útil por mais 20 anos, com investimento de cerca de US$ 27 milhões. Angra 1 mantém 1.062 elementos combustíveis armazenados em sua piscina, dentro da usina. 

Angra 1 já produziu 3.166 metros cúbicos de rejeitos sólidos (de baixa e média atividade), guardados em 7.602 tambores e caixas metálicas no Centro de Gerenciamento de rejeitos. 

Cada recarga de Angra 1 custava aproximadamente R$ 188 milhões, sem contar os investimentos com o transporte. Em 2018, o custo total da parada para a troca de combustível, incluindo mão de obra, era de cerca de R$ 80 milhões. Angra 1 produz 650 MW, quando funciona com 100% de sua potência sincronizada ao Sistema Interligado Nacional (SIN). 

Angra 2, comprada pelo acordo nuclear Brasil Alemanha, em 1975, entrou em operação em 2001. A segunda usina tem capacidade para gerar 1.350 MW.  Angra 2 mantém em sua piscina, 888 elementos combustíveis usados. Armazena 201 metros cúbicos de rejeitos sólidos, embalados em tambores e caixas metálicas. 

FERRUGEM EM INVESTIGAÇÃO - 

Em junho último, Angra 2 foi desligada para a troca de combustível (urânio enriquecido), mas precisou ficar desconectada do sistema um mês acima do previsto: foram detectadas oxidação (ferrugem) em elementos combustíveis. A Eletronuclear ainda não divulgou o que provocou o problema, que continua sendo investigado. Os elementos combustíveis são de responsabilidade da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a francesa Framatome, responsável pelo projeto da usina.

 Angra 2 voltou a operar, usando elementos combustíveis de Angra 3, também alemã, cujas obras estão paradas desde 2015, por denúncias de corrupção na operação “lava jato”. Não se sabe também porque os combustíveis de Angra 3 já estavam comprados e estocados, se a usina continua com as obras paradas, sem que se saiba quando será de fato inaugurada. 

Foto/Eletronuclear: Cilindros que serão preenchidos com concreto de alta densidade para fazer a blindagem radiológica dos canisteres. 

4 comentários:

  1. É tudo tão complexo nessa área é você explica com toda clareza. Que bom pra nós, seus leitores.🌻🌻🌻

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    1. Agradeço imensamente a sua participação, seu comentário, muito importante. Continue! É o maior incentivo!!

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  2. Sempre penso no armazenamento desses rejeitos. Isso é um pepino. É seguro o nosso sistema de guarda do “lixo” atômico?

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  3. É um dos maiores desafios para o Brasil e o mundo. Obrigada por comentar. A sua participação e muito importante!

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