sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O GLOBO digital publica artigo sobre combustível nuclear usado e rejeitos radioativos


Está quase esgotada a capacidade de armazenamento do combustível usado (urânio enriquecido) pelas usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis (RJ). Em janeiro, Angra 1 será desligada para a troca de uma recarga com 222 elementos combustíveis. Em julho, será a vez de Angra 2, com 288 elementos sendo substituídos. Ocorre que a piscina destinada a guardá-los tem capacidade total de 2.336, mas 1.774 já ocupam os espaços, sem incluirmos as próximas trocas em 2020.  

Para se ter ideia da corrida contra do tempo, a capacidade das piscinas ocorrerá em cerca de um ano e meio apenas. O produto descartado das duas unidades atômicas é material precioso aos olhos dos organismos internacionais de fiscalização: se reprocessados geram plutônio, combustível para alimentar bombas atômicas. O Brasil domina a tecnologia, mas não optou por este caminho, preferindo armazenar o urânio usado nas piscinas. Até quando? 

As instalações nucleares demandam outras urgências como o descarte de material produzido, que não pode ser reaproveitado: são os rejeitos radioativos, popularmente conhecidos como lixo atômico. Em qualquer país do mundo esse lixo radioativo é problema. Mas estamos tratando do nosso, gerado pelas usinas em Angra. 

Nos últimos cinco anos, em média, Angra 1 produziu, por ano, 100 metros cúbicos de rejeitos. A segunda usina: 10 metros cúbicos/ano. Angra 1 contabiliza uma produção total de 3122,8 em metros cúbicos de rejeitos. Angra 2: 169,2. Em um espaço de 3292 metros cúbicos cabem, portanto, 3.292.000 (três milhões e duzentos e noventa e dois mil litros). 

Comprada da norte-americana Westinghouse, em 1970, Angra 1 entrou em operação comercial em 1985. São, portanto, 35 anos de funcionamento, com várias paradas por defeitos e 24 desligamentos para a troca de combustível. A unidade atômica teria que ser paralisada há cerca de dois anos, mas está sendo modelada para viver mais duas décadas. Há que se pensar no depois. Angra 2, que faz parte do pacote do acordo nuclear Alemanha, assinado pelo general Geisel, em 1975, funciona desde 2001.Parou 16 vezes para a troca de combustível. 

A Eletronuclear, gestora das usinas, terá que desembolsar R$ 246 milhões para construir a Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado (UAS), que receberá o combustível usado, estocado nas piscinas. A previsão inicial era de que a UAS ficasse pronta em maio do ano que vem, mas a data já passou para o final de 2020.   Construindo a UAS, haverá espaço para a transferência do lixo radioativo para as piscinas destinadas aos elementos combustíveis. E assim, combustível e lixo estarão ocupando seus espaços em Angra. Embora a energia produzida pelas usinas (640 MW, Angra 1 e 1.358 MW Angra 2), entre na rede nacional de distribuição, quem mais vai querer ficar com o abacaxi da radiação? (Tania Malheiros - artigo publicado em O GLOBO, digital, de 25/12/2019)

3 comentários:

  1. Tania Malheiros seu artigo, muito bom, é da maior importância pois revela a real situação do brasil nesta área. Fiquei muito preocupada com o uranio praticamente disponível, ao deus dará. Continue com estas reportagens já tratadas em seus livros já que carecemos de mais noticias como as do seu blog. Parabéns.

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  2. Tânia Malheiros é ua jornalista que se especializou em energia nuclear e se tornou com seus artigos e matérias num alerta sobre a situação e desempenho das unidades nucleares brasileiras. É precisa, cirúrgica em seus artigos e pir isso respeitada no setor. Parabéns e continue nesse trabalho prestando um excelente serviço à Nação.

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  3. É preciso lembrar os 3 livros de Tânia, o primeiro, "Brasil, a bomba oculta", lançado em 1993, "As histórias secretas do Brasil nuclear" de 1996, e o último, "Bomba atômica pra quê?", de 2018. Essas obras desnudam as peripécias, jogadas, interesses políticos que envolvem desde o começo a história e as histórias da energia nuclear no Brasil.

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