quinta-feira, 21 de março de 2019

Eletrobras divulga nota sobre prisão de Michel Temer, acusado pela Lava Jato de receber propina nas obras da usina nuclear Angra III


As prisões do ex-presidente da República, Michel Temer, e ex-ministro Moreira Franco, acusados de corrupção envolvendo obras da usina nuclear Angra III, pela Operação Lava-Jato, levaram a Eletrobras a divulgar na noite desta quinta-feira (21/3) um “Fato Relevante” a seus acionistas e ao mercado em geral.  

“Em decorrência de suposto recebimento de propinas – de Michel Temer - relacionadas a certos contratos da construção da Usina Nuclear de Angra 3, a Eletrobras reitera, que os contratos relacionados à construção foram objeto de análise no curso da investigação independente” conduzida pela empresa, desde o início de 2015 até o final de 2018”.  A nota não menciona o nome de Moreira.

E continua: “ Todos os atos ilícitos referentes à Angra 3 identificados na investigação, foram objeto das medidas administrativas cabíveis, como encerramento de contratos e exoneração de executivos envolvidos, bem como foi efetuado o registro de perdas na ordem de R$ 141.3 millhões”.  Por fim, a Eletrobras informa que “está acompanhando as ações decorrentes da Operação Lava Jato, para avaliar se deve adotar alguma medida adicional, visando o ressarcimento das perdas”. A nota foi assinada pela diretora financeira e de relações com investimentos da Eletrobras, Elvira Cavalcanti Presta. 

Angra III é um poço de problemas desde a sua aquisição, pelo acordo Brasil-Alemanha, assinado pelo general Ernesto Geisel, no dia 27 de junho de 1975. Durante anos a fio, por falta de verbas, problemas nas escavações, entre outros, o empreendimento era “empurrado com a barriga” e teve várias paralisações. A mais recente foi em 2015, quando o então presidente da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, contra-almirante Othon Luiz Pinheiro, foi preso pela Lava Jato, acusado de corrupção, com outros executivos da empresa, em obras da central atômica. 

Considerado um dos pais do programa nuclear paralelo (militar), Othon Luiz Pinheiro conseguiu ficar em prisão domiciliar. Mas para alguns pode representar uma ameaça, pela quantidade de informações sigilosas mantidas a sete chaves. Afinal, o nome do contra-almirante faz parte da trajetória da energia nuclear no Brasil. Passa por sua titularidade a Delta IV (conta secreta para alimentar projetos militares no passado), pela importação, na década de 80, via um espião alemão, de projeto de fabricação de ultracentrífuga (máquina para enriquecer urânio), em Aramar, em São Paulo), por exemplo. 

Segundo a Operação Lava Jato, há documentos suficientes para a prisão de Michel Temer e Moreira Franco. Moreira, ex-governador do Rio, ex-prefeito de Niterói, participou de vários governos, tendo sido ministro das Minas e Energia, de Temer.  No emaranhado de corrupção e recebimento de propina, Temer, liderava o esquema em Angra III, que subtraiu pelo menos R$ 1,8 bilhão dos cofres públicos. 

A terceira central nuclear tem 65% de suas obras civis concluídas e grandes equipamentos armazenados na Nuclep, em Itaguai, e na central nuclear de Angra dos Reis. Já consumiu cerca de R$ 7 bilhões. Para ser concluída, segundo a Eletronuclear, depende de investimentos da ordem de R$ 14 bilhões. Sem recursos, como anunciava, o governo Temer tentava conversar sobre parcerias com empresas chinesa, francesa e russa. Enquanto isso, a dívida mensal de Angra III com o BNDES é de R$ 30 milhões.    

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