Caso daqui a algum tempo
as águas brasileiras apareçam contaminadas, provocando desastres ambientais,
como a morte de peixes, vale a pena lembrar que a Marinha brasileira afundou o
porta-aviões São Paulo, com toneladas do cancerígeno amianto, traços de
radiação, entre outros produtos tóxicos, numa área localizada a 350
quilômetros da costa brasileira, com profundidade de 5 mil metros.
A embarcação foi naufragada na sexta-feira
(3/2), após longo impasse sobre o destino na estrutura carregada de amianto. O Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), vinculado ao
Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, vai apurar as responsabilidades
sobre a decisão de afundar a embarcação. A fiscal do Trabalho, Fernanda
Giannasi, uma das fundadoras da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto
(ABREA), vinha alertando sobre a possibilidade de o problema ocorrer, o que poderá
causar graves danos ao meio ambiente. “Um absurdo estarmos diante da
possibilidade de um grande desastre ambiental com dimensões que desconhecemos”,
declarou Giannasi.
O Ibama já havia solicitado à Marinha mais informações que
permitissem avaliar alternativas para mitigação, reparação e salvaguarda do
meio ambiente a partir de eventual naufrágio do porta-aviões em alto mar. O
pedido foi realizado após a Marinha comunicar oficialmente, em 30 de janeiro, a
decisão de realizar afundamento controlado da embarcação. "A medida,
justificada por avarias no casco que comprometeriam a segurança da navegação e
causariam danos à logística, à economia e até ao meio ambiente, vai na
contramão do empenho de técnicos do Ibama para garantir a destinação
ambientalmente adequada prevista na regulamentação sobre transporte
internacional de resíduos (Convenção de Basileia)", declarou o Ibama,
naquela ocasião.
Além de solicitar estudos do Centro de Hidrografia da Marinha,
mapeamento de fundo da área selecionada para o alijamento do casco e
informações sobre o método pretendido para provocar o afundamento, o Ibama
recomendou a elaboração de Plano de Monitoramento da Água. Há três semanas,
oito servidores do corpo técnico do Instituto indicaram, por meio de nota
técnica, possíveis impactos ambientais decorrentes de eventual afundamento da
embarcação.
DETERIORAÇÃO DE ECOSSISTEMAS-
De acordo com o documento, a
liberação de materiais poluentes contidos na estrutura poderia causar distúrbio
na capacidade filtrante e dificuldade de crescimento em organismos aquáticos; o
impacto físico sobre o fundo do oceano provocaria a morte de espécies e
deterioração de ecossistemas.
Os especialistas alertaram ainda que a carcaça
poderia atrair espécies invasoras prejudiciais para a biodiversidade nativa,
além de microplásticos e metais pesados presentes em tintas da embarcação, que
poderiam se tornar protagonistas de bioacumulação indesejável em organismos
aquáticos.
A proposta do Ibama era a de que o material fosse reciclado. Há
estaleiros credenciados para fazer essa reciclagem em países como Itália,
Noruega, Dinamarca e Turquia. "Enquanto o Brasil não dispuser de
instalações com esse perfil, haverá necessidade de exportar ex-navios para
países com infraestrutura adequada, em conformidade com a Convenção de
Basileia", afirmou o órgão.
TURQUIA REJEITOU EMBARCAÇÃO -
O porta-aviões retornou
ao Brasil porque a Turquia cancelou a autorização que havia emitido no fim de
julho. Em respeito às regras estabelecias pela Convenção, o Ibama adotou o
mesmo procedimento. A partir do retorno do São Paulo ao Brasil, no início de
outubro, o Ibama acompanhou as tratativas entre a Marinha e a empresa
proprietária, e informou que novo pedido de exportação poderia ser solicitado.
Em
comunicado, a Marinha informou que a operação foi realizada de forma a evitar
prejuízos "de ordem logística, operacional, ambiental e econômica" ao
Brasil, e que o local para o descarte foi selecionado com base em estudos do
Centro de Hidrografia da Marinha e Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo
Moreira. "As análises consideraram aspectos relativos à segurança da
navegação e ao meio ambiente, com especial atenção para a mitigação de impactos
à saúde pública, atividades de pesca e ecossistemas", afirmou a nota
assinada de forma conjunta pelo Ministério da Defesa, pela Advocacia-Geral da
União e também pela Marinha do Brasil.
Na quinta-feira (2/2), o Ministério Público
Federal (MPF) entrou com um recurso no Tribunal Regional Federal da 5.ª Região
para anular a decisão da Justiça Federal em Pernambuco de permitir que a Marinha
afundasse a sucata do porta-aviões.
O estaleiro turco Sök Denizcilik Tic Sti,
certificado pela União Europeia para a realização de reciclagem de navios,
arrematou a embarcação no ano retrasado por R$ 10,5 milhões. Em dezembro de
2022, no entanto, a propriedade do ativo passou para a transportadora MSK
Maritime Services & Trading, que rebocou o porta-aviões São Paulo do Brasil
até a Europa, e de volta ao Brasil. Proibida de atracar por onde passa, a
sucata do ex-navio não deixou de navegar nenhum momento desde que deixou o Rio
de Janeiro, em 4 de agosto do ano passado, rumo à Turquia para desmonte e
reciclagem.
A embarcação desativada cruzou o oceano a reboque, teve sua
atracação rejeitada pelos turcos e, na volta, também pelos portos brasileiros. O
principal motivo da negativa foi a ameaça de naufrágio sob as suspeitas de
carregar a alta quantidade perigosa de materiais tóxicos, como o amianto. Após três meses de tentativas frustradas de entrar no Porto de Suape, em
Pernambuco, o ex-porta-aviões foi afastado para região de maior profundidade e
proibido pela Marinha, no último dia 20, de se reaproximar das águas interiores
ou terminais portuários do Brasil.
A determinação se baseou no "elevado
risco que representa, com possibilidade de encalhe, afundamento ou interdição
do canal de acesso a porto nacional, com prejuízos de ordem logística,
operacional e econômica ao Estado brasileiro", segundo comunicado da
Autoridade Marítima Brasileira (AMB). Empresa responsável pelo porta-aviões
desejava atracá-lo no Porto de Suape, mas foi impedida pelo Governo do Estado.
FONTES: ABREA/JORNAL DO COMMERCIO (PE).
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