quinta-feira, 16 de abril de 2020

Governo inclui a Nuclep no programa de desestatização


O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta quarta-feira (15/4) o decreto nº 10.322, incluindo a Nuclebras Equipamentos Pesados (Nuclep), em Itaguaí (RJ), no Programa Nacional de Desestatização. A Nuclep foi criada a partir do acordo nuclear Brasil-Alemanha, em 1975, para atender ao programa nuclear brasileiro. Subordinada ao Ministério de Minas e Energia, fabrica equipamentos para Angra 3, em construção, entre outros considerados relevantes para a indústria. 

Há sete anos, por exemplo, fabrica equipamentos de alta tecnologia para o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP). No final de 2019 foi contratada pela Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul) para fabricar o Bloco 40, protótipo do Reator Nuclear que está sendo desenvolvido pela Marinha para o Submarino de Propulsão Nuclear (SN-BR). 

A empresa ocupa uma área de um milhão de metros quadrados e um precioso conjunto de máquinas. Dispõe de heliponto próprio com local de pouso e decolagem, e terminal marítimo privativo.  Nos bastidores, há a aposta de que a empresa permanecerá como está, por falta de investidores, diante da crise financeira mundial.  

quarta-feira, 15 de abril de 2020

COVID-19: casos suspeitos na Eletrobras. Duas enfermeiras da Eletronuclear curadas


A Eletrobras informou nesta quarta-feira (15/4) que onze operadores do grupo estão com suspeita de terem se infectado pelo coronavírus (COVID-19). Desse total, nove estão em tratamento e dois já recuperados. A informação consta em um informativo diário com o monitoramento dos empregados do grupo, quantificando aqueles que estão atuando em teletrabalho e presencialmente, em escritórios ou unidades operacionais. 

Duas enfermeiras da Fundação Eletronuclear de Assistência Médica (FEAM) foram infectadas nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) onde trabalham. Recuparadas, elas já retornaram as atividades. A informação foi confirmada pela Eletronuclear. A empresa é gestora das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, em operação.  

Em março, a Eletrobrás criou um comitê que permite algumas providências rápidas para a troca de equipes e a descontaminação de áreas afetadas. As companhias do grupo mapearam ações emergenciais a serem adotadas, em cenário preventivo ou reativo à contaminação por coronavírus, e suas operações seguem sem apresentar anormalidades, informa a holding.

COVID-19: Reforço na segurança do transporte de combustível nuclear para Angra 2


Um forte esquema de segurança está sendo montado para o transporte no próximo mês (maio/2020), da 16ª recarga de combustível (urânio enriquecido) para a usina nuclear Angra 2, no município de Angra dos Reis (RJ). A usina, comprada pelo acordo Brasil-Alemanha, em 1975, será desligada no dia 22 de junho para receber o combustível. Além do aparato normal do transporte, que envolve caminhões e segurança policial, a Eletronuclear vai redobrar os cuidados por conta da pandemia do coronavírus (COVID-19).
A 16ª recarga foi concluída domingo (12/4) pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Segundo a Eletronuclear, gestora das usinas nucleares, o Plano de Transporte está sendo submetido à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A 16ª recarga sairá da Fábrica de Combustível Nuclear, em Rezende (RJ), da INB, para Angra dos Reis. 
No total, foram produzidos 56 elementos combustíveis, com suas varetas, nas quais estão inseridas as pastilhas com urânio enriquecido, no reator de Angra 2. A Eletronuclear pediu a INB para “adiantar a fabricação de componentes para a 26ª recarga de Angra 1”, informou a empresa. A capacidade de armazenamento do combustível usado, que será substituído pelo novo, estará esgotada em 2021. 
EXPECTATIVA DESDE 2018 - 
Desde 2018, conforme o BLOG antecipou, a Eletronuclear tem como uma de suas prioridades a construção da Unidade de Armazenamento a Seco Irradiado (UAS), destinada a receber os combustíveis usados de Angra 1 e Angra 2, que terão a capacidade esgotada no ano que vem.  Informou também há dois anos que a UAS custaria cerca de U$$ 50 milhões. 
A expectativa em 2018 era de que o combustível usado de Angra 2 seria transferido para a UAS em agosto desse ano; e de Angra 1, em janeiro 2021. A mais recente informação oficial é de que as transferências de Angra 2 será também em 2021. 
Na semana passada, a Eletronuclear anunciou que apesar da crise do COVID-19, a construção da UAS estava em “ritmo acelerado”. Inicialmente, a UAS terá 15 módulos. No total, 288 elementos combustíveis serão retirados de Angra 2; e 222, de Angra 1, abrindo espaço nas piscinas de armazenamento para mais cinco anos de operação de cada planta.  A UAS poderá comportar 72 módulos, com capacidade para armazenar combustível até 2045. 
ADAPTAÇÕES - 
Para que tudo corra dentro da nova previsão, Angra 2 passará por adaptações até o fim desse mês de abril, a cargo da Bardella, empresa contratada pela Holtec, que supervisiona o serviço, com o acompanhamento de técnicos da Diretoria Técnica (DT) da Eletronuclear. Serão feitas também modificações na ponte do edifício de elemento combustível de Angra 1. A usina, comprada da norte americana Westinghouse, na década de 70, em operação comercial desde 1985, está passando por mudanças para que tenha vida útil prolongada por mais 20 anos. 
Até novembro, segundo a Eletronuclear, a Cardan Engenharia, outra companhia subcontratada, está efetuando as obras civis, também sob a supervisão da Holtec e fiscalização das equipes da DT. Até lá, serão feitas a concretagem da laje, a construção do almoxarifado e a instalação da cerca dupla, da iluminação externa e da guarita. 
Serão ainda instalados sistemas de monitoração de temperatura e radiação. Até julho deste ano, chegam todos os equipamentos da UAS, garante a estatal. Em agosto, a Holtec realizará o treinamento do pessoal de operação e manutenção de Angra 1 e 2. Em setembro, tem início o comissionamento da movimentação de transferência, que é feito sem elementos combustíveis irradiados. A transferência começa em dezembro por Angra 2. 
A direção da Eletronuclear garante que, por conta da pandemia do COVID-19, estão sendo tomadas todas as precauções para garantir a segurança dos profissionais envolvidos no empreendimento. “Aqueles que fazem parte do grupo de risco – tanto na Eletronuclear quanto nas empresas contratadas – estão em esquema de teletrabalho. Já o pessoal da linha de frente está se revezando em turnos. O objetivo é minimizar ao máximo os riscos”, avisa o superintendente de Engenharia de Projeto, Lúcio Ferrari. 
FOTO: arquivo: elementos combustíveis com suas varetas, nas quais são injetadas as pastilhas com urânio enriquecido.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

COVID-19: Justiça decide proteger à vida de contaminados por radiação


A pandemia de coronavírus (COVID-19) pesou na decisão judicial determinando a concessão de plano de saúde para aproximadamente 200 trabalhadores afastados, da extinta Nuclemon em São Paulo, sucedida pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB).  No passado, eles foram expostos à radiação e agentes químicos, sofrendo até hoje de doenças como câncer e severos problemas pulmonares. 

A decisão que acaba de ser divulgada é do juiz titular da 20ª Vara do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região de São Paulo, Eduardo Marques Vieira Araújo, atendendo ao pedido da Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear (ANTPEN), presidida por José Venâncio. O magistrado levou em conta que a maior parte dos trabalhadores têm mais de 50 anos e está vulnerável, “devido à fragilidade do sistema imunológico, tornando o caso ainda mais delicado”. 

Para tomar a decisão a favor da preservação da vida dos trabalhadores doentes, o juiz buscou informações sobre os males provocados pelo COVID-19, junto ao sítio eletrônico do Ministério da Saúde:  “Trata-se de uma doença viral, de alta transmissibilidade, a qual provoca uma síndrome respiratória aguda, agravando-se, em alguns casos para insuficiência respiratória”, destacou na decisão. 

Segundo a advogada Érica Coutinho, que defende à ANTPEN, até agora apenas 60 associados, que integram uma outra ação, movida pelo advogado Luis Carlos Moro, são assistidos pelo plano de saúde. Mas a decisão do magistrado Eduardo Marques Vieira Araújo, abrange a todos os associados à ANTPEN. 

“O juiz verificou a urgência da situação, diante da COVID-19, porque o plano de saúde estanca a sangria do problema”, comentou a advogada. Segundo ela, o juiz analisou o perigo da demora do atendimento aos enfermos, diante da pandemia que se alastra no país. O magistrado analisou também a verdade dos fatos, de acordo com os documentos que estão no processo. 

MUITOS JÁ MORRERAM -  

A INB tem cinco dias para se pronunciar e poderá recorrer da decisão, informou a advogada.  “Mas esperamos que a Justiça seja cumprida, porque os trabalhadores estão morrendo ao longo de todo esse processo, que ainda terá uma sentença final, na qual requeremos outros benefícios como tratamento de quimioterapia, radioterapia, psicológico, entre outros”, informou a advogada. 

A Nuclemon (sucessora da Usina de Santo Amaro/USAM) funcionou no bairro paulistano do Brooklin, entre as décadas de 40 e 90, período em que chegou a ter entre 500 a 700 empregados na planta, manuseando material radioativo, extraído de terras raras, como urânio e tório, sem as mínimas condições de segurança. A empresa fechou no início da década de 90, após denúncia de contaminação divulgada pela imprensa, deixando como herança um número incontável de doentes.

 O extinto Ministério do Trabalho, através da auditora fiscal do Trabalho, Fernanda Giannasi; a direção do Sindicato dos Químicos de São Paulo; o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Santo Amaro e o Ministério Público Estadual realizaram várias inspeções e comprovaram contaminação nos estabelecimentos de beneficiamento das terras raras do Brooklin (USAM/Nuclemon) e de Interlagos (USIN), para onde o material radioativo era também transportado. As inspeções identificaram mais de 150 trabalhadores doentes. 

A identificação dos funcionários contaminados ocorreu também graças a participação da médica Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano, do CEREST. Ela começou a observar um grande número de trabalhadores da empresa que procurava o local com problemas graves de saúde. A ANTPEN foi fundada em 2006, e desde então luta na Justiça em defesa das vítimas. Muitas já faleceram.